O papa reconheceu, em documentário apresentado no
Festival de Cinema de Roma, que as pessoas homossexuais devem ser protegidas
por leis civis para os casais do mesmo sexo.
O papa disse exatamente que "As pessoas
homossexuais têm o direito de estar em uma família, são filhos de Deus, possuem
direito a uma família. Não se pode expulsar ninguém de uma família, nem tornar
sua vida impossível por isso. O que temos que fazer é uma lei de convivência
civil, eles têm direito a estarem legalmente protegidos. Eu defendi isso".
As declarações do papa, abordando novamente tema bastante
polêmico, tem o condão de abalar e dividir a estrutura da Igreja Católica,
embora ele já tivesse se referido ao mesmo tema por várias ocasiões, um pouco
diferente deste posicionamento mais liberal e evoluído, sem a mesma contundência
como o fez agora.
Um vaticanista explicou que o papa já teria dito que
"Desde o início do pontificado, o papa fala de respeito aos
homossexuais e que é contra sua discriminação. A novidade hoje é que defende
como papa uma lei para as uniões civis".
Desde que foi eleito, em 2013, o papa vem adotando tom
de mais tolerância com relação aos homossexuais, a vista da sua famosa frase:
"Quem sou eu para julgar?" e do recebimento de casais
homossexuais em várias ocasiões, nos aposentos do Vaticano.
Certa feita, o papa fez ligação para um casal
homossexual, pais de três filhos pequenos, em resposta à carta que recebeu
deles, com relato de que eles sentiam vergonha quando levavam seus filhos à
paróquia.
Na ocasião, o papa aconselhou que aqueles pais continuassem
a comparecer à igreja, independentemente dos julgamentos das pessoas.
Em outra situação, um cidadão vítima e ativista
contra os abusos sexuais disse que "Quando conheci o papa Francisco, ele
me disse que sentia muito pelo ocorrido. Juan, foi Deus quem te fez gay e em
todo caso te ama. Deus te ama e o papa também te ama".
As
opiniões de vaticanistas e analistas são no sentido de que os comentários do papa
são os mais explícitos que ele já fez sobre relacionamentos homossexuais, não
deixando mais dúvidas sobre o seu posicionamento com relação ao tema.
Segundo
o biólogo do papa, "Esta era sua posição como arcebispo de Buenos Aires.
Ele se opunha ao casamento homossexual, mas ele acreditava que a Igreja deveria
defender uma lei de união civil para casais homossexuais, dando-lhes proteção
legal.".
Ressalte-se,
a propósito, que a vigente doutrina católica, no que tange às relações
homossexuais, se posiciona no sentido de considerar "comportamento
desviante", o que vale dizer que o papa confronta a doutrina da própria
Igreja Católica, presidida por ele.
Tempos
distantes, em 2003, o corpo doutrinário do Vaticano, representado pela
Congregação para a Doutrina da Fé, afirmou, com a aprovação do papa de então,
que "o respeito pelas pessoas homossexuais não pode levar de forma
alguma à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das
uniões homossexuais".
Em
2013, no livro Sobre o Céu e a
Terra, o papa disse que equiparar legalmente casamentos homossexuais
a heterossexuais seria "uma regressão antropológica".
O
papa também declarou que, se casais do mesmo sexo pudessem adotar, "as
crianças poderiam ser afetadas... cada pessoa precisa de um pai homem e uma mãe
mulher que possam ajudá-los a moldar sua identidade".
Ainda
em 2013, o papa reafirmou a posição da Igreja Católica de que atos homossexuais
eram pecados, mas que a homossexualidade por si só não, tendo concluído que "Se
uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?".
Em
2018, o papa afirmou que estava "preocupado" com a
homossexualidade no clero, e que este era "um assunto sério".
É
importante se ressaltar a evidência de a Igreja Católica não ter interesse
algum em mudança doutrinária significativa com relação à união homossexual, por
se tratar de assunto de muita seriedade para os costumes dessa instituição, que
normalmente tem o cuidado de tratar dos estudos pertinentes de maneira mais formal,
mediante debates internos e reservados, só dando conhecimento ao mundo quando houver
alguma forma de resolução.
Esse
fato ajuda a se intuir que agora passam a existir dois posicionamentos, o
formal da igreja e o informal, que é parece ser mais pessoal do papa, que ele não
pode falar, nesse caso em nome dela, ante a existência de doutrina firmada, que,
a princípio, precisa ser revista para se amoldar à posição dele.
Não
existe sinal algum de que o corpo doutrinário do Vaticano esteja com interesse
em mudança da orientação vigente, ante a prevalência do pensamento dos cardeais
conservadores, que preferem manter o status quo de tudo que diz respeito
às doutrinas da Igreja Católica, embora pelo gosto do papa, com tendência mais
avançada, muitas doutrinas da igreja seriam aperfeiçoadas e modernizadas, para
se amoldarem às conquistas da humanidade.
Tem-se
que as declarações do papa podem até representar alguma forma de avanço nesse específico
campo social, mas apenas para marcar posição pessoal, ficando assente que se
trata de evidente abertura de confronto dele com a doutrina da instituição que
estranhamente ele preside e jamais faria sentido que fizesse declaração em
contrariedade à doutrina da igreja, porque isso representa clara divergência, que
há de criar fortes discussões dentro da igreja, e não pode ser visto com normalidade, mas sim
com muita preocupação, sob a ótica da unicidade de pensamentos interna
corporis, que precisa ser rigorosamente respeitada igualmente por todos.
Nas
circunstâncias e no interesse doutrinário da instituição, parece que teria sido
de melhor alvitre que o papa tivesse procurado previamente debater o assunto tão
polêmico pelos mecanismos apropriados da igreja, junto ao corpo doutrinário do
Vaticano, na tentativa de se buscar a melhor via para a definição sobre o
assunto da própria Igreja Católica, diante da delicadeza clara de que ela tem a
sua própria doutrina firmada, mas o comandante da instituição fez vistas grossas
para ela, o que pode não ter sido o melhor caminho escolhido por ele, à vista
dos interesses contrariados.
A
princípio, o precedente do papa, sob o aspecto doutrinário da Igreja Católica, não
pode ser considerada como medida salutar, diante do pensamento prevalente na instituição
sobre o tema e da evidência de que se o papa, que é a maior autoridade da igreja,
pode contrariar a teoria aprovada por ela, que é diametralmente diferente do
pensamento manifestado pela autoridade máxima, então qualquer religioso pode desrespeitar
normalmente as doutrinas ou os dogmas estabelecidos pela instituição criada por
Jesus Cristo.
Sob
essa ótica, o papa contribui, sem a menor necessidade e de maneira precipitada,
para lançar dúvidas acerca de tema que se intensifica a polêmica sobre ele,
diante da existência de conteúdo oposto ao defendido por ele, precisamente nos termos
seguintes, constantes do Catecismo da Igreja Católica: “Apoiando-se na
Sagrada Escritura, que os apresenta (aos homossexuais) como depravações
graves, a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são
intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural, fecham o ato
sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva
sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados”.
Agora,
no mérito, penso que o papa teria sim, como opinião pessoal dele,
independentemente da doutrina existente na instituição que preside, direito aos
devidos e merecidos aplausos, por defender o legítimo direito de as pessoas, não
importando suas convicções comportamentais e sociais, puderem conviver em união
familiar, da maneira que melhor lhes aprouver, porque esta é a forma ideal e capaz
de se propiciar a plena satisfação da tão sonhada felicidade como sentimento importante
e essencial à vida do ser humano, em harmonia com a sua qualidade também de
filhos de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário