Na crônica da minha lavra, onde analisei a declaração
do papa que defendeu a felicidade dos homossexuais, por entender que eles também
são filhos de Deus e merecem viver em união de graças, uma distinta senhora, em
tom de indagação, disse que o pontífice poderia ter opinado sem querer ir contra
aos ensinamentos da palavra.
Em
resposta, eu afirmei que é possível que o papa tenha preferido evitar a cautela
própria dos pontífices, que sempre adotam em situação similar a esta, o que bastaria
ele ter submetido, previamente, esse espinhoso tema ao crivo da Congregação para
a Doutrina da Fé, que é o órgão do Vaticano incumbido dos estudos da espécie e responsável
pela formalização da sua doutrina.
A respeitável senhora se disse satisfeita com os meus esclarecimentos
à indagação formulada por ela.
Foi
quando agradeci a compreensão dela ao meu texto e a disse que concordava a interpretação
dela sobre os fatos em si, que são realmente bastante complexos.
Na
concepção de alguns vaticanistas, é importante que o papa se dedique às questões
próprias da sua função, no sentido de que ele se concentre essencialmente sobre
os meandros dos assuntos que dizem diretamente com a missão inerente à
evangelização a cargo da Igreja Católica, como forma de compreensão e
pacificação do rebanho dos católicos do mundo.
Ou
seja, no sentido desse pensamento, a missão primacial do papa é conduzir da
melhor maneira possível os assuntos relacionados estritamente com a igreja que
ele comanda e somente depois disso ele poderia se imiscuir em casos fora dela, a
exemplo da situação em comento.
Isso
parece se referir especificamente à questão do homossexualismo, em que há regra
doutrinária dentro da igreja que se encontra bastante defasada em relação ao
pensamento do pontífice, basicamente no sentido de que “o respeito pelas
pessoas homossexuais não pode levar de forma alguma à aprovação do
comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais",
assunto este que, à luz dos últimos acontecimentos, implora prioritariamente por
harmonização dele ao pensamento papal.
Contrariamente,
ao que tudo indica, a opinião do papa, nesse assunto, teria sido somente com
relação à situação dessas pessoas no âmbito civil, mesmo sob o entendimento de que
elas são filhas de Deus e merecem ser felizes, cujo sentimento se concretiza e
se harmoniza com a aceitação delas também dentro da Igreja Católica ou será se sobre
isso o sucessor de São Pedro pensa diferente?
Ora,
a propósito disso, se a função papal é estritamente de cuidar das questões religiosas
e que, no âmbito da igreja, há precisa e taxativa norma que diz da
impossibilidade da aceitação da união homossexual, a lógica recomendaria que ele, antes de opinar sobre a felicidade
dos homossexuais na seara civil, tanto que ele propôs a criação de lei
específica para tratar do assunto, seria mais crível que ele cuidasse, em
primeiro plano, de pacificar novo entendimento no seio da sua igreja.
Agindo
dessa maneira, o papa seria bem mais coerente com o seu trabalho pastoral, de
modo a propiciar o devido reconhecimento da união homossexual, com a mesma finalidade
intencionada por ele, na esfera civil, com o que aquelas pessoas que ele
classificou como filhas de Deus deixem de ser discriminadas injustamente pela
casa de Pai.
Nesse
caso, é possível haver consenso no sentido de que a Igreja Católica não tem nenhum
direito, segundo o ensinamento do sagrado Evangelho de Jesus Cristo de segregar
ninguém, muito menos as pessoas que têm todo direito de viver segundo os seus
desejos e as suas escolhas de vida, por essa forma de diferenciação que não
deve caber em nenhuma doutrina, por mais especial que ela seja.
Esse
importante entendimento deflui dos ensinamento emanados pelo Mestre Jesus
Cristo, na forma da confirmação do próprio papa, que diz que todos são filhos de
Deus, não importando absolutamente nada para que haja essa brutal e
injustificável anomalia entre os homens no seio da Igreja Católica.
Brasília,
em 28 de outubro de 2020
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