segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

A quebra do compromisso?

 

No ano passado, o presidente da República houve por bem aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de tal modo que se trata de medida absolutamente repugnável, porque ela contraria a sua importante  promessa de campanha eleitoral, quando ele, em inflamados discursos, garantia que não haveria aumento de tributos, sob a afirmação de que os brasileiros não aguentariam mais encargos tributários sobre seus ombros.

Essa mesma promessa foi feita por ele já ao longo do mandato,  em diversas ocasiões, desde 2018, quando aconteceram reiteradas afirmações de que não haveria aumento de tributos no seu governo.

O IOF é o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários, cujo aumento das alíquotas atinge tanto pessoa física quanto pessoa jurídica.

A intenção do presidente do país é que esse reajuste possa bancar o incremento que ele concedeu ao novo programa Bolsa Família, como forma populista de reverter a monstruosa queda da sua popularidade, que pode ser terrível às vésperas de ano eleitoral, porque a disputa já começou acirrada e ele não teve capacidade para a criação de alago mais racional e apropriado que pudesse evitar penalizar logo o contribuinte que vem servindo para arcar com o ônus da incompetência da gestão pública, sendo obrigado a assumir despesas criadas pelo governo.

A propósito, ressalte-se que o presidente do país, ainda como candidato, em plena campanha eleitoral, disse, em outubro de 2018, em entrevista ao SBT, que não aumentaria impostos, nestes termos: "Não vai ter aumento de imposto, não vai ter CPMF, não terá nada disso".

Em 2 de agosto de 2020, por ocasião de famoso passeio de moto por Brasília, o presidente do país parou para falar com a imprensa, a despeito de discussões sobre novo imposto que incidiria sobre transações eletrônicas, tendo dito que "Não tem aumento de carga tributária. Pode substituir imposto. Mas ninguém aguenta pagar mais imposto".

Já em agosto de 2020, o presidente do país disse que não vai ter aumento da carga tributária e que “ninguém aguenta pagar mais imposto”.

Pouco mais tarde, durante a formatura de novos diplomatas, no Palácio do Itamaraty, em 22 de outubro de 2020, o presidente brasileiro se dirigiu ao ministro da Economia, para deixar claro que o governo não aumentaria tributos, nem mesmo na pandemia, concluindo nestes termos: "O nosso país, Paulo Guedes, o governo federal não aumentou impostos durante a pandemia e não aumentará quando ela também nos deixar".

Em uma de suas tradicionais lives de quinta-feira, no dia 14 de janeiro de 2021, o presidente do país fez questão de alardear que, na sua gestão, não haveria aumento de tributos, nos seguintes termos: "No meu governo, não temos aumento de imposto federal.".

Tempos depois, em um discurso no Palácio do Planalto, no dia 1º de junho do ano passado, o presidente do país comentou a reforma tributária, dirigindo-se a parlamentares, e se disse a favor dela, mas afirmou que não poderia haver aumento de imposto, nestes termos: "Reforma sim, mas sem aumento de imposto. Não podemos admitir, senhores parlamentares — os senhores também têm responsabilidades, sabem que nós jogamos juntos nessa questão. Reforma sim, mas sem aumento de imposto. Nós não podemos continuar sendo um dos países com a mais alta carga tributária do mundo e com a menor contraprestação de serviço".

Em princípio, esperava-se que o país com a grandeza social, cultural e econômica como o Brasil tivesse, de igual modo, o presidente que somente falasse a verdade e conseguisse dizer ao povo exatamente a firmeza e a autenticidade das suas metas de governo, no sentido de que a sua palavra fosse afiançada com a garantia do fiel cumprimento em honra do mandato e do voto recebido do povo, a que jamais deveria mentir, mesmo que fosse para se beneficiar eleitoralmente.  

Ao dizer, em público, de maneira reiterada, que, no seu governo, não se cogitava, de maneira alguma, aumento de tributos, isso tem o firme propósito de se declarar perante o povo, de forma inequívoca e peremptoriamente, que se tratava de pura verdade.

Não obstante, o aumento do IOF caracteriza indiscutível quebra da palavra presidencial e isso não fica bem logo para a principal autoridade da República, ainda mais quando o seu objetivo é precisamente para a melhoria da sua imagem que se encontra esgarçada perante a população, conforme resultado de pesquisa de opinião pública, com rejeição ao seu desempenho na gestão pública, que supera os 60% por parte das pessoas consultadas.

Ou seja, em apenas uma tacada, com o aumento do IOF, o presidente da República consegue trair o seu compromisso de campanha eleitoral, que foi confirmado por outras ocasiões, no sentido de que no seu governo não haveria criação nem aumento de tributos, mas o fez exclusivamente para fins eleitoreiros, o que é ainda mais grave, em termos de honestidade pública.

O aludido ato visa ao beneficiamento indevido do seu autor, de vez que a finalidade do reajuste do imposto se destinou à concessão da performance do Bolsa Família ou algo equivalente, na esperança de propiciar a melhoria da imagem do presidente do país.

Trata-se de algo extremamente deplorável, por só demonstrar a pequenez objetivada por político decadente, incompetente e irresponsável, que consegue mentir perante o povo, com o proposito de tirar proveito da situação, que é o caso aqui delineado.

À toda evidência, em país sério e evoluído, em termos políticos e democráticos, o mandatário seria alvo de severa censura por parte da sociedade, que foi claramente prejudicada com o aumento de imposto, sem que houvesse justificativa plausível para tamanha agressividade demonstrada pelo governo, que visa, com isso, apenas melhorar a sua imagem perante a opinião pública, fato que se traduz em verdadeira aberração administrativa.

Espera-se que os brasileiros honrados e dignos, que valorizam o conceito da verdade na gestão pública, sejam capazes de avaliar a fraqueza gerencial demonstrada pela falta de palavra do presidente da República, nesse caso do aumento do IOF, porque ele não conseguiu se manter fiel ao seu compromisso de não aumentar tributos, à vista da necessidade da seriedade ínsita dos homens públicos, à luz dos consagrados princípios republicano e democrático de respeito à dignidade no exercício de cargos públicos.       

Brasília, em 3 de janeiro de 2022

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