Em
uma de suas costumeiras lives, o presidente da República houve por bem mandar
mensagem para os pais, com o especial objetivo de alertá-los sobre os perigos enxergados
por ele, na vacina para as crianças de 5 a 11 anos, conforme o texto a seguir.
“Pai
e mãe, vocês que têm filhos de 5 a 11 anos de idade, a vacina não obrigatória. Eu
adianto a minha posição: a minha filha de 11 anos não será vacinada. Se você
quiser seguir meu exemplo, tudo bem. Se não quer, o direito é teu. Você pode vacinar
teu filho tão logo essas vacinas da Pfizer estiverem disponibilizadas. Agora, é
bom você pai, você mãe, tomar conhecimento que nós conseguimos nesse despacho (papel
que ele mostra) de ontem, do ministro Queiroga, da Saúde, tá, incluir ali
algo a ser falado para vocês, pais. O que vai ser falado, entre outras coisas,
que o fabricante, no caso, a Pfizer, não se responsabiliza por eventuais
efeitos adversos. Então, você tem um filho, depois da vacina, tiver qualquer
problema, não responsabilize a Pfizer. A Pfizer fez a vacina e taí sendo testada
como a própria Pfizer diz, que tem certos efeitos colaterais, que vamos tomar
conhecimento ao longo de 2022, 23, 24 e por aí afora. Então, a Pfizer não se
responsabiliza por efeito colateral. O quê que nós conseguimos também, que vai
ser obrigado a falar para os pais que queiram vacinar seus filhos. Falar que
teu filho de 5, 6, 10, 11 anos de idade ou tenha filha pode, de imediato, ter
certos sintomas, como dor, febre, depois de alguns momentos, fadiga, dor de cabeça,
calafrios, mialgias, artralgias e, muito importante aqui, que os pais ou
responsáveis, por ocasião da aplicação da vacina, eles serão orientados a
procurar o médico, ok, papai, mamãe, você que quer vacinar seu filhinho por
ocasião da Covid. (...) Pra procurar imediatamente o médico, se seu
filho, após a vacina, apresentar dores repentinamente no peito. Você já
imaginou teu filho de 5, 7, 8 de idade, ou minha filha de 11, né? Então, seu
teu filho sentir dor no peito, falta de ar. Dá para imaginar, né, o que é falta
de ar ou palpitações, ou seja, o coração disparar, procurar imediatamente o
médico. Então, pai e mãe, vocês estão cientes da responsabilidade de vocês.”.
À
toda evidência, o presidente da República tenta construir verdadeiro monstro em
relação à vacina pediátrica contra a Covid-19, ao disseminá-la como sendo a
pior e mais malévola inimiga das crianças, como se ela somente
tivesse a finalidade de aterrorizar a vida delas e dos pais, conforme o seu
discurso em momento absolutamente impróprio.
Na
realidade, trata-se de medicação preventiva aprovada pelo órgãos de controle e fiscalização,
de âmbito mundial, contra a mais terrível doença do século, que objetiva exclusivamente
o salvamento de vidas, a despeito de haver possível efeito adverso, mas nem
tanto com a intensidade das maldades citadas pelo insensível e deplorável
discurso presidencial.
Na
forma como o presidente do país se posiciona contra a vacina da Pfizer, pondo-a
no limite da ofensividade contra as crianças, é como se os pais estivessem
agindo em cumplicidade com algo maléfico e prejudicial à saúde delas, de modo a
mostrar quadro terrivelmente desolador e assombroso, inclusive falando
inverdade, quando diz que a vacina vai ser objeto de testes pelos anos
seguintes, quando nenhuma vacina poderia ter sido autorizada sem os recomendados
e prévios testes científicos de qualidade e segurança.
É
preciso ficar bem claro que a vacina da Pfizer foi autorizada tanto nos Estados
Unidos da América como no Brasil, sob a incumbência legal para tanto pela Anvisa,
que certamente não permitiria a sua aplicação, nas crianças brasileiras caso
elas fossem tão perversas à saúde, na forma duramente especificada pelo
presidente brasileiro, que procura mostrar todo o seu sentimento de
insensibilidade aos princípios humanitários, quando tenta de toda forma evitar
a aplicação das vacinas, como demonstração de antítese à preservação à vida,
inclusive adiantando que a sua filha não será vacinada, mostrando, a exemplo
dele, péssima impressão sobre o imunizante.
A
verdade é que, como cidadão, ele tem total direito de recusar a aplicação da
vacina, mas, na qualidade de verdadeiro estadista, ele estaria prestando
excelente serviço à nação em ficar calado, deixando que os órgãos competentes
do governo se manifestem acerca das medidas de combate à pandemia do coronavírus,
visto que a sua interferência, nesse caso, somente contribui para prejudicar a eficiente
dinâmica dos procedimentos pertinentes.
Aliás,
na mensagem que o presidente do país trata a vacina como sendo verdadeiro vilão
das crianças, que tem a índole de causar muito mais mal do que bem, quando ele
afirma que “Dá para imaginar, né, o que é falta de ar ou palpitações, ou
seja, o coração disparar,”, como se todas as crianças fossem acometidas de
um desses sintomas, que realmente é passível de acontecer, mas em situação mais
do que esporádica, à vista de se tratar de medicamento em que nem todos os
organismos são iguais e padronizados.
A
aterrorizante mensagem presidencial chega a ser incrível, porque até se pode
imaginar como o estadista pode autorizar que imunizante tão prejudicial à vida
das crianças tenha permissão para ser aplicado no Brasil, uma vez que ele tem a
incumbência constitucional para autorizar a compra das vacinas, mesmo ele sabendo
que a Pfizer não se responsabiliza pelos efeitos adversos e, na visão dele,
podem causar terríveis consequências.
A
princípio, diante desse quadro horroroso delineado pelo mandatário, competiria
a ele, como medida preventiva, a determinação ao Ministério da Saúde a realização
de estudos necessários para orientá-lo sobre as medidas apropriadas e necessárias
destinadas à proteção da saúde dos brasileiros, em especial das crianças, ao
invés da disseminação de discurso inoportuno e prejudicial à eficiência da
imunização, que precisava ser previamente considerada benéfica ou não aos fins
propostos, porquanto, no momento, esse pronunciamento presidencial é absolutamente
indevido.
Enfim,
não compete ao estadista e ainda mais sendo leigo em assunto extremamente especializado
em saúde e sanitarismo, ficar opinando sobre imunização dos brasileiros, diante
da sua importância para a vida humana.
Por
ser assunto da maior relevância humanitária, cuja doença de que se trata já
causou verdadeira tragédia aos brasileiros, somente deve se pronunciar sobre ele
quem tem legítima competência para tanto, como forma de contribuir para bem
informar e esclarecer tudo sobre a vacina, como os cuidados e as consequências,
de modo que a população apenas tenha condições de decidir sobre o recebimento
ou não da vacina.
O
governo precisa se conscientizar de que, no caso, quem devem se manifestar,
necessariamente, são somente os órgãos e as instituições entendidos da matéria,
à vista da seriedade que a pandemia do coronavírus exige e precisa que assim
seja tratada, em especial porque a imunização diz respeito ao interesse da
população em geral, que não pode ficar à mercê de orientação de qualquer um que
tem o hábito do autêntico e prejudicial negacionismo, que faz questão de
desacreditar sobre a gravidade dos efeitos da Covid, a exemplo de tantas e
erráticas participações em público, somente em contrariedade às saudáveis
orientações emanadas pelas instituições sérias e responsáveis, que realmente
têm interesse na preservação da vida humana.
Mais
uma vez, o presidente do país perde excelente oportunidade para ficar calado, quando
deveria apenas cuidar da essencialidade das atribuições inerentes ao seu relevante
cargo, em benefício dos brasileiros tão carentes de governabilidade com
sensatez, competência, eficiência, racionalidade e responsabilidade.
O
presidente poderia ter a disposição de tratar esse caso da pandemia com
seriedade, sensatez e, sobretudo, responsabilidade, no sentido de que tudo que
se refira à Covid-19 seja resolvido exclusivamente por pessoa ou órgão especializado
do governo, que tenha capacidade para se manifestar com conhecimento de causa.
Os
brasileiros precisam ter condições de decidir com segurança sobre qualquer situação
inerente à Covid-19, em especial no que se refere à imunização, que foi
autorizada por órgão competente, como a Anvisa e isso já seria o suficiente
para não mais ninguém tivesse a indelicadeza e o desrespeito de falar mais nada
sobre o mesmo caso, dando a entender que o governo não se entende no combate à
pandemia do coronavírus.
Ou
seja, se a Anvisa, que é o órgão legalmente competente de controle e fiscalização
sobre medicamentos, no Brasil, já se pronunciou sobre a vacina, não faz sentido
que o presidente do país nem maios ninguém venham pôr em dúvida o trabalho
dessa agência, salvo se surgir fato novo capaz de demonstrar alguma deficiência
pertinente ao licenciamento da vacina da Pfizer, expedido sem maiores restrições
contrárias à vida, dando a entender quanto à absoluta falta de sintonia com
relação às políticas de saúde pública, que, em princípio, precisa funcionar em perfeita
harmonia, para benefício da população.
Não
fica nada elegante para o presidente do país se manifestar, em cota própria,
com a exclusiva finalidade de criticar, em público, o trabalho da Anvisa, com o
agravante de que ele é completamente leigo em medicina e sanitarismo, o que
jamais deveria se pronunciar para demonstrar a sua insatisfação e até desaprovação
da aplicação da vacina, como o fez de forma desnecessária.
O
mais correto, em termos de seriedade, respeito e lealdade ao trabalho competente
da Anvisa, seria o presidente do país formular as suas dúvidas e os seus
questionamentos diretamente a essa instituição e jamais emitir opiniões com caráter
oficial, em demonstração de extrema indelicadeza e desprezo ao trabalho de
competência exclusiva daquela agência.
Enfim,
espera-se que o presidente do país tenha a sensatez de tratar os casos da
Covid-19 com a seriedade que ela merece, de modo que evite opinar na forma da
mensagem acima, porque isso é prova de extremas insensibilidade administrativa
e desumanidade, que se traduzem em enorme desserviço ao interesse público.
É
com o sentimento de bastante apreensão dos brasileiros que a autoridade máxima
do país se incursione, de maneira indevida e inoportuna, em matéria da
competência dos órgãos incumbidos institucionalmente de agir, sem que ele tenha
conhecimento de causa, para discorrer sobre assunto da maior importância inerente
à saúde pública, em evidente demonstração de prejuízo à eficiência da administração
pública, exatamente pela disseminação de informações imprecisas e distorcidas
da verdade, quando o ideal, ante à seriedade e à responsabilidade institucionais,
seria que os casos somente deveriam ser conduzidos por órgãos ou agentes
relacionados à área de combate à pandemia do coronavírus, como a melhor forma
instrutiva para o conhecimento dos brasileiros.
Brasília,
em 10 de janeiro de 2022
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