Em
pleno ano eleitoral, o presidente da República, em clara demonstração de
fortalecimento dos poderes do Centrão, que na verdade governa o país, entregou
a gestão do Orçamento da União ao grupo político que o sustenta politicamente.
O
presidente do país decidiu determinar que os atos do Ministério da Economia, no
que se referem à execução orçamentária, ou seja, na realização das despesas
federais, passarão pelo crivo da Casa Civil, que é comandada por um dos principais
caciques do famigerado Centrão.
As
atribuições próprias do Ministério da Economia, como abertura dos créditos
autorizados na Lei Orçamentária de 2022 e remanejamento de verbas, passam a
depender do condicionamento da manifestação prévia favorável do ministro de
Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República, ou seja, na prática, o
presidente do país resolveu prestigiar ainda mais a força do Centrão, que
recebeu mais poderes, com o consequente desgaste do ministro da Economia, que é
obrigado a ceder lugar na execução do orçamento.
O
Ministério da Economia ainda tentou minimizar a perda de poder na execução do orçamento,
com a frágil argumentação de que "não ocorreu nenhuma mudança de
comando ou da execução final do Orçamento. A medida não significa
enfraquecimento do ME. Ela resulta de um consenso entre os ministérios envolvidos,
visando melhorar a coordenação para o alcance dos objetivos e prioridades do
governo. Vale lembrar que a Casa Civil e o Ministério da Economia integram a
Junta de Execução Orçamentária (JEO), que é a instância em que as decisões
relevantes com relação à matéria orçamentária são tomadas.".
Na
verdade, trata-se de medida perfeitamente em sintonia com a questão eleitoral, em
que a delegação da função orçamentaria à Casa Civil, ou mais apropriadamente ao
Centrão, tem a principal finalidade de transformar o orçamento mais palatável
sob o controle diretamente pelo governo, em termos de maior facilidade para o
direcionamento da aplicação das verbas
públicas.
Ou
seja, há o entendimento segundo o qual o presidente do país precisa ter mais autonomia
na aplicação de recursos, de modo que ele possa articular mais facilmente seus
objetivos no ano eleitoral, permitindo que os gastos dos ministérios sejam
coordenados na Presidência da República, tendo em conta os relevantes interesses
nos recursos do orçamento federal.
À
toda evidência, trata-se de decisão essencialmente política de interesse do
presidente do país, pela simples necessidade de ajustamento das conveniências eleitoreiras,
uma vez que a reeleição depende muito da priorização da liberação de verbas
para o atendimento das principais demandas dos aliados, o que seria totalmente impossível
sem o pleno controle de recursos, que agora fica completamente facilitado, embora
isso somente escancara o transparente desrespeito à seriedade objetivada na execução
do dinheiro arrecadado dos contribuintes.
Esse
fato demonstra péssimo zelo para com a coisa pública, uma vez que o uso prioritário
de recursos públicos para fins eleitoreiros mostra a falta de princípios quanto
à moralidade na gestão pública, em que fica explícito o desvio de finalidade de
verbas públicas em atividades destinadas à elevação da imagem do candidato
oficial, que se beneficia, somente ele, do indevido e injustificável uso de recursos
públicos.
Em
tratando do comando do controle, com total liberdade para o Centrão, que é
símbolo de aproveitamento de recursos públicos, a entrega o Orçamento para esse
grupo fisiológico certamente que há de se aumentarem sensivelmente as possibilidades
de generalizado descontrole de gastos públicos, em pleno ano eleitoral, para
beneficiar o presidente do país e isso pode conspirar contra os próprios
interesses dele, diante da falta de seriedade com o emprego de recursos dos
próprios eleitores que primam pelas moralidade e honestidade com as despesas
públicas.
Não
há a menor dúvida de que poderão haver verdadeiras orgia e anarquia com o emprego
de recursos públicos, pela certeza de que o governo está dando plenos poderes logo
para o poderoso Centrão comandar os cofres do Tesouro Nacional, com a autonomia
para a destinação de recursos para onde bem entender necessário, inclusive para
o atendimento de seus objetivos eleitoreiros e de poder.
Enfim,
essa escrachada indecência com o emprego dos recursos públicos, patrocinada
pelo governo que se dizia de mudanças da moralidade pública, se junta e coincide
com menor transparência no uso de emendas parlamentares, no que se referem aos
deploráveis esquemas impregnados no recriminável “orçamento secreto”, que já
destinou bilhões de reais de emendas do relator, como explícita e vergonhosa
forma de se angariar apoio político no Congresso Nacional, que tem como medida
indecente a entrega de “cheque em branco” a parlamentares, em forma de transferências
especiais feitas com emendas parlamentares, que vão para estados e municípios
sem destinação predefinida e sem fiscalização.
Esses
imorais e indecentes procedimentos orçamentários, liderados pelo presidente da República,
mostram, de forma cristalina, a pior depravação por parte do governo, uma vez
que o orçamento público deve ser o principal instrumento da administração pública
que jamais, em tempo algum, pode ser avacalhado, esculhambado e desmoralizado,
na forma como o faz o atual governo, sem o menor escrúpulo, diante da falta de
sentimento de seus fanáticos seguidores, que não conseguem enxergar crime algum
no desvio de recursos de programas administrativos e sociais para o atendimento
de finalidade claramente eleitoreira, de interesse do candidato oficial, que
deveria ser impedido e ainda criminalizado por uso de verbas públicas objetivando
à melhora da sua imagem à reeleição.
Urge
que os brasileiros honrados e dignos protestem, com veemência, contra os procedimentos
indecentes e desonestos compreendidos nas medidas adotadas pelo presidente da
República, no que se refere à facilitação do emprego de recursos públicos na
sua campanha à reeleição, implorando no sentido de que os órgãos de controle
externo, como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal investiguem
tais procedimentos visivelmente contrários aos princípios republicanos da
moralidade, da honestidade, da dignidade, entre outros, que precisam ser observados
na execução das despesas públicas.
Brasília,
em 14 de janeiro de 2022
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