segunda-feira, 18 de abril de 2022

Desrespeito à autoridade?

 

De forma inusitada e até estarrecedora, uma cantora houve por bem, pasmem, bloquear o presidente da República do Twitter, sob a alegação de que ela não teria gostado do deboche do mandatário brasileiro, depois que ela postou imagens vestindo look “verde e amarelo”, no show do Coachella, quando ele respondeu: "Concordo com a Anitta", em tom de ironia, conforme assim foi entendido por ela.

A cantora teria dito que as cores da bandeira do Brasil pertencem aos brasileiros e essa estratégia vem sendo utilizada pelo presidente do país e seus seguidores, desde a campanha eleitoral, como as cores oficiais do mandato.

Diante disso, a cantora demonstrou insatisfação, tendo afirmado:  "Aí, garoto, vai catar o que fazer, vai. Meti logo um block pra esses adms (administradores) dele não ficarem usando minhas redes sociais pra ganhar buzz (repercussão) na internet", ou seja, ela mandou recado ao presidente do país, para ele procurar o que fazer e isso é muito estranho, sob o envolvimento da principal autoridade do país, que dá trela a quem não tem a mínima significância, não sendo merecedora de nenhum apreço, no mundo político.

A cantora  já se manifestou reiteradamente contra o presidente do país, tendo chegado inacreditavelmente a bater boca com ele e seus apoiadores nas redes sociais, fatos estes que a põe em evidência, quando deveria ser o contrário, no sentido de que ela fosse tratada exatamente como ela é, sem qualquer expressão na política.

A cantora esclareceu, em referência ao presidente do país, que "É que a estratégia deles agora mudou. Eles estão com uma equipe de redes sociais mais jovem e descolada para justamente passar essa imagem dele, fazer o público esquecer as merdas com piadas e memes da internet que faça o jovem achar que ele é um cara maneirão, boa praça. Então, nesse momento, qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser revertido em forma de deboche pelas mídias sociais dele. Assim o artista vira o chato mimizento e ele o cara bacana que leva tudo numa boa.".

A cantora entende que falar sobre o presidente do país, nas redes sociais, faz com que ele ganhe simpatia das pessoas, que acaba esquecendo a forma como o país está caminhando, para votar pela identificação de fã que se tem pela pessoa.

Ela disse que "Já passa a ser mídia boa quando você cita o nome dele, não faz diferença se você citou de forma negativa ou positiva, Porque quanto mais você cita de forma negativa, mais mídia ele alcança e usa essa mídia para destinar ao que ele quer. Já usei essa estratégia algumas vezes por isso sei bem o que está rolando (risos).".

A cantora disse, finalmente, que "Agora a estratégia do lado oposto precisa ser citado o nome dele o menos possível. Eu trocaria o slogan 'Fora Fulaninho' para 'Muda Brasil' ou algo que desvincule completamente a narrativa do nome dele.".

É extremamente lamentável que a principal autoridade da República fique alimentando confronto de baixo nível com pessoa de qualificação bastante inferior, em termos político, ao seu nível de compreensão intelectual e política, tendo em vista a maneira rasteira como ela se manifesta, a ponto de mandar o presidente do país a procurar o que fazer, em indiscutível desrespeito à relevância do cargo que ele exerce.

O mais grave dessa evidente promiscuidade pública é que a autoridade do estadista deixa de existir, ao decair ao píncaro de ser humilhada por pessoa de notório baixo nível moral, quando ela manda recado para o presidente do país: “vai catar o que fazer”, como se ele ficasse apenas batendo boca de forma improdutiva.

A bem da verdade, isso é absolutamente inadmissão em uma República séria e responsável, em termos administrativos, onde o presidente do país tem o dever de ser fiel à liturgia do seu relevante cargo, onde não há espaço, em hipótese alguma, para que o mandatário fique em discussão pública, em nível de extrema decadência de autoridade, como se realmente ele não tivesse nada importante para fazer, na maneira interpretada pela fulaninha, que não merece, ela sim, a mínima consideração dos brasileiros dignos e honrados.

Essa forma de desmoralização da autoridade pública permite que pessoa sem condições morais e política se permite criticar o comportamento do presidente do país, dando a entender que ela é superior a ele, ou seja, em verdadeira inversão de valor, justamente porque ele fica dando trela a quem não tem dignidade alguma, de forma visivelmente desarrazoada, diante da disparidade das relações estabelecidas e permitidas pelo próprio presidente.

Em circunstância alguma, é permitido ao estadista responder aos desaforos de quem quer que seja, senão pelas vias da comunicação oficial ou, quando for o caso, por meio do judiciário, quando houver necessidade de reparação de danos à sua imagem, mas jamais seja permitido essa forma de mistura de discursão medíocre e nada republicana, visivelmente antagônica aos princípios condizentes com a sua autoridade, além de ser absolutamente inadmissível, em termos de aproveitamento para os interesses da sociedade.

Convém que o presidente da República se conscientize, o mais rapidamente possível, de que a relevância do seu mandato é absolutamente incompatível com qualquer forma de bate-boca improdutivo, nas redes sociais, conquanto o estadista tenha o dever institucional de se relacionar com os brasileiros apenas pelos meios da comunicação oficial, inclusive por via judicial, quando isso se fizer necessário, ressalvando os assuntos relacionados com a relevância do interesse público.

Brasília, em 18 de abril de 2022

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