sexta-feira, 15 de abril de 2022

Medalhas, para quê?

 

Pessoas influentes em defesa das causas indigenistas e parte da sociedade mostraram indignação pela concessão da Medalha do Mérito Indigenista ao presidente da República, diante da postura dele quanto aos gravíssimos problema dos silvícolas brasileiros.

Muitas pessoas estranharam esse fato, tendo classificado a medida como verdadeiro absurdo e até mesmo “cúmulo do cinismo” por parte do governo, ao conceder láurea tão relevante para autoridade que caminha na contramão das causas indigenistas.

Uma celebridade aproveitou o ensejo para ironizar o motivo de o presidente do país ter recebido a comenda, tendo escrito a seguinte mensagem: “Medalha do mérito indigenista, pelo reconhecimento nos serviços relevantes em caráter altruístico relacionados com o bem-estar, a proteção e a defesa das comunidades indígenas pro presidente e sua turma… Surreal”.

Impende ressaltar que o presidente brasileiro já foi denunciado duas vezes pela Articulação dos Povos Indígenas no Brasil, por executar “política anti-indígena”, além de defender a exploração do minério em terras demarcadas, o que bem demonstram o seu antagonismo em relação às causas indigenistas, fatos estes que já justificaria, por si sós, nenhum reconhecimento, em termos de mérito, quando isso significa exatamente o contrário, ficando muito claro que é realmente o cúmulo da incoerência a concessão da medalha em causa.

Na verdade, verifica-se que o sistema mantido pelo governo, para a concessão de medalhas, no serviço público, tem o significado de verdadeira farsa, justamente porque elas normalmente são entregues a quem nada fez em benefício das causas para as quais as comendas foram instituídas ou, ainda pior, para parlamentares, ministros, filhos do presidente do país e apaniguados, sem nunca terem prestado nenhum serviço em prol das políticas pertinentes ao verdadeiro sentido da existência das medalhas.

Nesse caso espantoso do presidente do país, a questão fica ainda mais aflorada à pele da irracionalidade, por ele defender causas nacionalistas, que até podem ser importantes para o país, mas, à toda evidência, elas interferem diretamente na convivência dos silvícolas, diante da intromissão, por exemplo, de mineradores nas terras indígenas, tendo como reflexo total alteração dos costumes desse povo.

Um exemplo clássico disso é a notícia desta semana, dando conta de que mineradores estavam comprando relações sexuais com índias, inclusive menores, sob o pagamento com ouro, ou seja, a atividade exploradora de minérios, nas terras indígenas, até pode ser de extrema importância para os interesses nacionais, mas isso certamente também pode causar situações de promiscuidade e constrangimento, com grande possibilidade da disseminação de doenças incontroláveis e prejudiciais à vida dos índios.

Não obstante, o presidente do país tem demonstrado interesse apenas na exploração do minério, sem qualquer preocupação com as graves consequências que podem haver em razão dessa e de outras atividades atípicas aos índios brasileiros.

Seria conveniente que as medalhas sequer existissem, como importante medida de contenção de gastos, uma vez que o resultado da sua concessão não traduz em benefício algum para o interesse público, que é a razão das despesas públicas, quanto mais que elas servem para agraciar muito mais pessoas que não a fazem jus ou até mesmo que são protagonistas de ações contrárias ao verdadeiro mérito para a qual elas foram instituídas, a exemplo clássico do presidente do país, embora ele diga que trabalha em defesa da causa indígena, mas suas ações mostram precisamente o contrário do que ele afirma.

Convém que seja eliminada a farra da concessão de medalhas, no serviço público, por não contribuir absolutamente para coisa alguma, em benefício prático, permitindo somente a entrega de comenda estritamente em reconhecimento de ato ou ação que seja avaliado como de real contribuição à causa para a qual tão importante simbologia de boas ações justifique a sua concessão.

Brasília, em 15 de abril de 2022

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