sexta-feira, 1 de abril de 2022

O dever do enfrentamento

Em vídeo que circula nas redes sociais, o presidente da República criticou duramente, mais uma vez, um ministro do Supremo Tribunal Federal, em pronunciamento vazado nos seguinte termos: “Para sermos uma grande nação, para sermos exemplo para o mundo, o que nos falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não tem ideia, cala a boca, bota a tua bata e fica aí, sem encher o saco dos outros. Como atrapalha o Brasil.”.

Diante disso, eu escrevi que o presidente do país perde o respeito em mandar um ministro do Supremo calar a boca, em clara dissonância com o princípio da dignidade humana, em sendo isso considerado ato falho, absolutamente condenável.

  Uma amiga especial escreveu mensagem, expondo a opinião dela sobre o tema, nestes termos: “Adalmir, contra as barbaridades que esse senhor tem praticado não há argumento algum! Vamos pegar o caso do Deputado Federal Daniel Silveira. Mesmo não concordando com a fala do Daniel Silveira, abstraindo o que ele falou a respeito de alguns Ministros, já foram tantas arbitrariedades contra ele, inadmissíveis partindo da mais alta Corte de Justiça. Prisão em flagrante por um vídeo gravado… até quando seria flagrante? Um ano, dois anos… um absurdo. Ahhh, prisão após horário noturno permitido. Pagamento de fiança estipulada pelo Ministro… mas a conta judicial estava encerrada, impossibilitando o depósito. Multa arbitrada em 15 mil reais por dia e bloqueio de contas e de bens sem previsão legal alguma, da cabeça dele. Isso foi o que lembrei, por alto.”    

Realmente, como você disse, alguém - que, no caso, é o presidente do país - tem que enfrentar tudo que precisa ser corrigido, saneado, normalizado, para o bem do interesse público, quando as questões se refiram ao Estado.

Nesse caso, é preciso, penso, que as armas utilizadas sejam as mais eficazes possíveis, exatamente em harmonia com o interesse público, que tem como princípio a objetividade da eficiência de resultados, que jamais serão conseguidos com o emprego de xingamento, agressão, críticas, em posição de nivelamento ao opositor, em exposição com o uso de expediente absolutamente inepto, somente, ao que parece, para mostrar desnecessária valentia, que só contribui para dificultar a solução dos problemas, quando o diálogo inteligente seria o melhor caminho.  

Seria aconselhável que as medidas contra as monstruosidades do ministro se elevassem ao patamar da competência, da ponderação, da racionalidade e da eficiência, como se faz normalmente nos países sérios, evoluídos e civilizados, em termos republicanos e democráticos, mesmo que isso não leve a nada, mas é assim que o mandatário deve se comportar, com a dignidade à altura da relevância do cargo que ocupa, quanto à observância aos elevados princípios da decência e do respeito à tradição democrática, sem necessidade alguma de se descer ao nível da indelicadeza do xingamento, somente para agradar aos seus apoiadores, que entendem que o desprezível ministro precisa ser enfrentado, de qualquer maneira?

Sim, é preciso que ele seja enfrentado, mas que seja por métodos apropriados, apenas em harmonia com a grandeza da República, de modo que isso possa refletir em resultado exitoso, mas, que não sendo, pelo menos, o mandatário o teria enfrentado com as forças e os mecanismos da decência e da competência.

Só para se lembrar, vou transcrever a carta que o presidente do país pediu ao seu antecessor que a redigisse para ele assinar, que foi endereçada à nação, em momento de lucidez dele, logo depois que ele foi ameaçado a perder o cargo, pelos líderes do Centrão, que não ficaram nada satisfeitos de o presidente dizer o diabo contra o mesmo ministro que agora ele manda calar a boca.

Eis o texto da Declaração à Nação, sim assinada pelo presidente da República:

“No instante em que o país se encontra dividido entre instituições, é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar (todo mundo sabia, diante dos acontecimentos, que se tratava de grossa mentira).

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art. 5º da Constituição Federal (É exatamente isso que eu defendo, porque é o caminho natural apontado pela Carta Magna, mesmo que não se obtenha êxito, mas o xingamento não resolve nada, salvo a possibilidade de se mostrar valentia, que em nada se aproveita na administração do país).

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país (palavras jogadas ao vento) (pura demagogia, ao dizer uma coisa e fazer outra, não tendo interesse algum à integração esforços comuns dos três poderes da República).

8Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles (outra mentira jogada ao vento).

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro”.

Depois da divulgação desse texto, o presidente ligou várias vezes para o ministro arqui-inimigo dele, na tentativa de conquistar a simpatia dele, mas, ao que parece, foi tudo em vão, conforme mostram o fatos, que apenas contribuíram para o agravamento da tensão entre ambos.  

O presidente do país divulgou essa pérola de declaração no dia 9 de setembro, em texto intitulado "Declaração à Nação", em que ele afirma, pasmem, que nunca teve "intenção de agredir quaisquer dos poderes".

Segundo ainda a carta "as pessoas que exercem o poder não têm o direito de 'esticar a corda', a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia", mas os fatos mostram exatamente o contrário, valendo para o caso do presidente que poderia ser exemplo de jamais participar do esticamento da corda, mas ele o faz com frequência, em especial mandando o ministro calar a boca.

É preciso lembrar que ato público de 7 de setembro do ano passado, em São Paulo, o presidente do país foi muito claro ao "Dizer a vocês que, qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais", só que ele substituiu isso pela declaração à nação, frustrando o entusiasmo de seus apoiadores, que esperavam que ele tivesse adotado alguma tendente a colocar freios aos abusos, em especial, de parte do Supremo Tribunal Federal.

A carta do presidente do país tinha no seu bojo a velha tática oportunista de sobrevivência política, para maquiar o difícil momento contaminado e envenenando da democracia por ele, conforme o seu discurso agressivo e desrespeitoso de 7 de Setembro, a qual sentia os ares do golpismo, que o obrigou à humilhação de desculpa insincera, na forma da carta, ao enfrentamento da crise que a sua gestão havia gerado.

Enfim, compreende-se que, em momento algum, a prática de erros justifica o enfrentamento da situação com o uso de outros erros, porque ambos são condenáveis, sob a ótica do interesse público e do bem comum.

Quero afirmar que não sou contra o pensamento de ninguém, apenas fico feliz em ainda puder dizer o que sinto sobre os fatos da vida, mesmo que isso possa contrariar a opinião de pessoas, mas o que importa mesmo é que todos tenham as suas ideias e sejam fiéis a elas.  

          Brasília, em 1º de abril de 2022 

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