segunda-feira, 25 de abril de 2022

Insensibilidade?

 

        O Ministério da Defesa declarou, em resposta às afirmações de um ministro do Supremo Tribunal Federal, que "repudia qualquer ilação ou insinuação, sem provas" de que as Forças Armadas "teriam recebido suposta orientação para efetuar ações contrárias aos princípios da democracia".

A sua manifestação em apreço tem o objetivo de contestação, diante da sua clareza, quando ela diz que "Afirmar que as Forças Armadas foram orientadas a atacar o sistema eleitoral, ainda mais sem a apresentação de qualquer prova ou evidência de quem orientou ou como isso aconteceu, é irresponsável e constitui-se em ofensa grave a essas Instituições Nacionais Permanentes do Estado Brasileiro. Além disso, afeta a ética, a harmonia e o respeito entre as instituições".

Ocorre que, em seminário promovido por uma universidade alemã, o aludido ministro teria dito que vê as Forças Armadas sendo orientadas para atacar o processo eleitoral brasileiro, mas ele não apresentou nenhuma evidência sobre a sua leviana afirmação, possivelmente apenas tendo por base conclusões pessoais, evidentemente sem qualquer plausibilidade.

O magistrado também afirmou que o Brasil é um dos países que testemunham a ascensão do populismo autoritário e relembrou episódios como o desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios e os ataques do presidente do país às urnas eletrônicas, tendo afirmado que existe uma tentativa de levar as Forças Armadas ao "varejo da política", o que é outra assertiva de caráter pessoal, que não fica bem para ministro se manifestar, em afirmação, sobre assuntos existentes apenas no mundo do seu imaginário, ante a inexistência de parâmetros fáticos.

O ministro ainda fez advertência, conclamando que é importante que os comandantes militares evitem esse tipo de contaminação, dando a entender que os fatos alegados por ele são verdadeiros, quando até possam ser, mas, à toda evidência, ele não seria capaz de provar absolutamente nada, o que só confirma a conclusão do Ministério da Defesa, que classificou a fala do ministro como irresponsável e ofensiva às Forças Armadas.

Ressalte-se que, no ano passado, em meio à intensa e agressiva pressão do presidente da República, que, de forma reiterada, atacava, sem provas, a segurança das urnas eletrônicas, o Tribunal Superior Eleitoral, que era presidido pelo aludido ministro, convidou representantes das Forças Armadas para participarem do processo de fiscalização daquelas urnas.

O Ministério da Defesa ressaltou que as Forças Armadas aceitaram o convite "republicanamente e apresentaram propostas colaborativas, plausíveis e exequíveis".

O ministro da Defesa enfatizou ainda que as Forças Armadas têm a "ampla confiança da sociedade", à vista das pesquisas de opinião pública, além do sentimento que se tem pelos contatos regulares dos militares com a população.

Ele também sublinhou que as Forças Armadas têm "história de séculos de dedicação a bem servir à Pátria e ao Povo brasileiro, quer na defesa do País, quer na contribuição para o desenvolvimento nacional e para o bem-estar dos brasileiros".

O ministro da Defesa concluiu afirmando que "Assim, o prestígio das Forças Armadas não é algo momentâneo ou recente, ele advém da indissolúvel relação de confiança com o povo brasileiro, construída junto com a própria formação do Brasil.".

Realmente, não há a menor dúvida de que o ministro do Supremo foi extremamente infeliz e injusto, ao fazer ilação falsa, diante da falta de elementos fáticos para que ele pudesse fazer declaração absolutamente sem fundamento, sem provas, tendo por base tão somente ilações que não fazem o menor sentido, salvo para tentar enlamear a reputação das Forças Armadas, a despeito da gravidade da impressão dele, no sentido de que ele possa ter acerca da questão central, a ponto de imaginar que haja “orientação para efetuar ações contrárias aos princípios da democracia".

É preciso se entender, de maneira inteligente e amadurecida, como forma de harmonização aos princípios de interesse da sociedade, que os assuntos de competência do Estado devam ser tratados, discutidos e encaminhados à solução, sempre na melhor forma do diálogo e do entendimento, tendo como norte o verdadeiro sentimento do espírito público, com embargo de discussões antagônicas que somente conduzem a resultados infrutíferos e contrários ao interesse público, como se percebe neste caso.

Ao contrário disso, tem sido normal as autoridades da República se digladiarem publicamente, a exemplo dessa deplorável rixa travada entre o presidente da República contra ministros do Supremo e vice-versa, tendo como pano de fundo disputa ingênua, inglória e inócua, na vil tentativa de mostrar quem mais tem o poder, a força e a influência, que somente evidencia perda de tempo, quando as suas importantes funções aconselham, ao contrário, a convergência de esforços para a busca da satisfação das necessidades públicas.

Essa absurda acusação do ministro é prova substancial de que as autoridades da República estão agindo exatamente na contramão da história, diante do seu sentimento absolutamente estranho aos interesses da sociedade, no qual não tem espaço senão para a construção de obras próprias das funções públicas para as quais elas estão investidas.

A manifestação do Ministério da Defesa tem o condão de mostrar, com precisão, sabedoria e maturidade, a real inutilidade dessas desavenças das autoridades da República, muitas quais sem provas e desnecessárias, que apenas alimentam o seu indiscutível sentimento de pobreza intelectual, em detrimento das melhores ações que poderiam ter a iniciativa delas, exatamente em harmonia com o desempenho das suas missões institucionais.

À toda evidência, espera-se que a manifestação do Ministério da Defesa sirva de importante parâmetro para que as autoridades da República possam refletir sobre o verdadeiro sentido das suas funções institucionais, em especial sob a inspiração da serenidade dos monges, para que haja a imediata conscientização delas sobre a relevância do trabalho cooperativo e uníssono em benefício exclusivamente do interesse da sociedade.              

Brasília, em 25 de abril de 2022

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