sábado, 14 de julho de 2012

Figura esdrúxula

O suplente do senador cassado recentemente tomou posse em uma rápida cerimônia na manhã desta sexta no Senado Federal. Na oportunidade, ele disse, a propósito de tantos questionamentos quanto à sua conduta política, que teria como responder as inúmeras denúncias contra a sua pessoa, com argumentos que considera suficientes para esclarecer os fatos apontados. Enquanto transcorria tudo isso, o presidente nacional do DEM, partido ao qual pertence o parlamentar, declarou que espera do novo senador da legenda por Goiás os "esclarecimentos convincentes" sobre sua suposta ligação com o contraventor do jogo do bicho daquele Estado. Ao que se viu, pelo menos o seu antecessor não teve sucesso com relação às justificativas sobre a ligação dele com o bicheiro e o resultado foi o pior possível, por resultar na merecida e exemplar cassação do seu mandato. A sociedade espera que as suas explicações sejam robustecidas com elementos materiais capazes de refutar as pesadas acusações sobre a reputação decorrente da sua amizade com o citado contraventor, porque de mentiras e subterfúgios o ex-senador já esgotou todo repertório possível e imaginável, restando muito pouco espaço nessa seara para ser explorado. O certo mesmo é que tem sido decepcionante que a classe política permaneça nivelada por baixo, tendo o seu caráter posto em potencial questionamento o tempo todo e nada é capaz de contrariar essa situação de incredulidade ética e moral. Aliás, restaria somente uma única alternativa eficiente para acabar de vez com essa pouca vergonha e moralizar a profissão política, qual seja, a conscientização da sociedade quanto à necessidade de, terminantemente, não votar em candidato que não tenha compromisso com os interesses públicos, mas somente naquele que tenha vocação exclusivamente com as causas do país e do povo. A posse desse cidadão no cargo de senador suscita oportunidade para reflexão capital sobre a real importância da instituição Senado Federal como representante do povo brasileiro, tendo em vista que, sem qualquer aquilatação quanto à sua vida pregressa, em princípio, ele não teria legitimidade para exercer tão expressivo cargo público, haja vista que o suplente não recebe voto, não consta da chapa eleitoral, não sendo eleito direto pelo povo nem recebeu sequer o voto dele. Esse lamentável e maquiavélico equívoco eleitoral contraria princípio constitucional segundo o qual o parlamentar é eleito pelo sufrágio universal para representar o povo. Como representar o povo se não se conhece ao menos o seu nome no memento da votação? Na verdade, a esdrúxula e vergonhosa figura do suplente atende por familiar, amigo ou financiador de campanha do candidato a senador. Urge que haja ampla reforma do sistema político-eleitoral, não somente para a sua moralização, em termos de democratização, mas para o seu aperfeiçoamento e a sua modernização, em especial com a eliminação dessa aberrante figura do suplente de senador. Acorda, Brasil!
  
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 13 de julho de 2012

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