terça-feira, 3 de julho de 2012

Perdão?

O senador, apanhado prestando serviços oficiais em benefício do bicheiro mais famoso na atualidade, subiu à tribuna do Senado Federal para apelar aos seus pares pela manutenção do seu mandato e para pedir perdão aos colegas que o defenderam no último dia 6 de março, pelos constrangimentos causados. Ele disse que se encontrava de peito aberto para pedir que a injustiça se torne reparável. De forma contraditória, por ter se desculpado e pedido perdão, o político afirma que nada fez para ter destruída a sua honra, apenas admite ter sido amigo do aludido contraventor e ter conversado frequentemente por telefone com ele, mas nunca teve negócios legais ou ilegais com ele. Reafirmou os termos do discurso pronunciado no dia 6 de março, dizendo que ele é a pura verdade. E concluiu: "Há quatro meses vivo um calvário sem trégua. No âmbito jurídico, sequer fui acusado, mas no tribunal das manchetes já fui condenado". Não deixa de ser lamentável equívoco por parte do senador, ao pedir perdão de algo que ele considera que não existiu, qual seja, seu envolvimento com o contraventor que responde, na prisão, a vários processos criminais. Certamente que o Brasil não vai mudar nunca se seu povo não se conscientizar urgentemente sobre a necessidade de modificar completamente essa classe política, substituindo-a por pessoas que se comprometam a trabalhar com exclusividade em benefício da sociedade e do bem comum, como tentativa de moralização das atividades políticas. Na forma do sistema político vigente, em que prevalecem os interesses pessoais e partidários, é bastante entristecedor verificar um político praticando atos indignos, ilegais, imorais e deploráveis, contrários aos princípios da boa conduta e da ética política, e ainda ter a desfaçatez de afirmar que nada fez de errado e que não merece ser censurado nem punido. Sem dúvida alguma, o senador suavizaria um pouquinho a sua culpa se reconhecesse sua fraqueza em participar da amizade de contraventor e contribuir para seus projetos delituosos, em troca de agrados e presentes comprados com dinheiros sujos. Atitudes como essas fortalecem em muito a desesperança quanto à possível limpeza moral da classe política brasileira, que, mesmo sendo apanhada com as mãos na botija, cometendo atos ilícitos e contrários ao decoro parlamentar, ainda tem a cara deslavada de jurar, de mãos juntas, inocência e de se achar digno de perdão. É lamentável que um político que conquistou a admiração da sociedade, por sua louca paixão pela defesa das normas dos bons costumes e da moralidade na política, tenha se esvaído repentinamente no torvelinho de grande decepção da política contemporânea. O Brasil espera que o lamentável envolvimento desse político com o submundo do crime e das contravenções sirva, não só para purificar um pouquinho que seja o Congresso Nacional, com o seu afastamento dessa casa, mas de lição para os demais congressistas, de modo que as camaradagens espúrias e contrárias aos salutares princípios éticos e morais não voltem mais a representar o povo nos parlamentos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 02 de julho de 2012

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