quinta-feira, 26 de julho de 2012

Diplomacia à deriva

A presidente da República fez duras críticas às medidas destinadas ao isolamento do Irá do resto do mundo, quanto às compras de seus produtos, principalmente os derivados de petróleo, ao considerá-las extremamente perigosas, em que pese serem quase inexistentes as relações comerciais do Brasil com aquele país. Ela disse compreender que outros países precisam comprar petróleo iraniano, mas isso está sendo impedido pelos Estados Unidos e pela Europa, prejudicando os interesses daquelas nações. No seu entendimento, há necessidade de ser evitado que a situação relativa ao Irã se evolua em rumo a um conflito, sendo imprescindível que haja entendimento mediante conversações bilaterais. Entretanto, a imposição de sanções àquele país somente deveria ter validade se fosse efetivada diretamente pelas Nações Unidas, em consonância com o Direito Internacional, e jamais por decisões isoladas de países. O discurso da presidente fez alusão às reiteradas insinuações de Israel, no sentido de que é necessário atacar o Irã antes que seu programa nuclear atinja um ponto em que a obtenção da bomba atômica seja irreversível. Finalmente, ela fez também questão de ressaltar a necessidade da substituição de agressões verbais e ameaças pelo reconhecimento do direito dos países de usar a energia nuclear para fins pacíficos, como fazem muitos países. As manifestações da mandatária brasileira não somente contrariam as deliberações dos Estados Unidos e da Europa, mas demonstram sobretudo a reiterada imaturidade da diplomacia tupiniquim, ao opinar sobre questão que não lhe diz respeito diretamente, porquanto o bloqueio econômico é matéria que não tem nenhum reflexo nas relações do Brasil com o Irã e as medidas de isolamento visam obrigar que o país islâmico permita que o seu programa nuclear seja fiscalizado pela Agência Internacional de Energia, cujas inspeções possibilitem eliminar as dúvidas sobre o caráter do programa e aquilatar se o seu desenvolvimento é realmente para fins pacíficos. Além do mais, é difícil acreditar que os últimos governantes brasileiros, sem escrúpulo algum ou plausibilidade para tanto, mas de forma costumeira, se empenhem com denodo em defender, no plano internacional, os interesses de países de regime ditatorial, cujos mandatários não demonstram respeito aos princípios saudáveis da democracia e aos direitos humanos. A sociedade anseia por que a diplomacia brasileira se aperfeiçoe e se atualize, para que possa acompanhar a evolução da modernidade mundial, de maneira que competência e eficiência sejam colocadas com exclusividade a serviço dos interesses nacionais, deixando que cada país cuide da defesa das próprias causas, como forma de respeito ao primado da independência e autonomia das nações. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de julho de 2012

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