sexta-feira, 27 de julho de 2012

Medo da verdade?

Alguns coordenadores do setor jurídico do PT de São Paulo, incentivados por integrantes da cúpula do partido, ingressaram com representação na Justiça Eleitoral, objetivando convencer os ministros do Supremo Tribunal Federal da "inconveniência" do julgamento agora do mensalão. O texto diz que "Tem-se o pior dos mundos: a judicialização da política e a politização do julgamento", "É duplamente inoportuno marcar um julgamento criminal na véspera da eleição, em pleno curso da campanha. Sacrificam-se os direitos individuais e desequilibra-se o pleito, do qual o Supremo Tribunal Federal se transformará no principal protagonista" e "Há que se cogitar (...) senão uma recomendação, uma singela manifestação de preocupação aos ministros quanto à inconveniência de se enfrentar o julgamento em tal período.". Já se passaram longos sete anos desde a abertura do processo, mas o PT não se envergonha de pedir para se adiar o julgamento do maior escândalo político por ele protagonizado, sob o argumento de sacrificar os direitos individuais e desequilibrar o pleito. O bom senso indica que já passou do momento de a sociedade conhecer a verdade sobre essa farsa política, independentemente de o resultado do julgamento ter reflexo ou se tornar inconveniente para o interesse partidário, que não deve prevalecer sobre o do país. Isso é uma forma desmoralizante de o PT tratar matéria de tamanha relevância como se fosse mera questão de sindicato, onde a última palavra sempre é a sua. É muito estranho que possa haver medo do julgamento do mensalão, se o todo-poderoso já conseguiu convencer seus asseclas de que esse tão deprimente esquema jamais existiu, porque tudo não passou de invenção dos opositores ao governo e que o dinheirinho do contribuinte não foi envolvido na ridícula compra de igualmente desprezíveis parlamentares. Então, por qual motivo o PT discorda do julgamento de algo inexistente? Não deixa de ser decepcionante a falta de personalidade e de indecência do partido que foi criado com origem no trabalhador que, à época, alardeava cultuar honestidade e lisura na política e na vida pública. Caso o mensalão não tivesse existido, como corolário não haveria crime nem criminoso. Em consequência, não haveria razão para se preocupar com julgamento de algo que inexistiu. Por sua vez, admitindo-se a regularidade dos famigerados procedimentos do mensalão, o seu julgamento seria até mais importante que ocorresse exatamente no período da campanha eleitoral, quando os envolvidos teriam condições de provar sua inocência e, com isso, ganhar o prestígio da sociedade, por terem conseguido mostrar a realidade dos fatos, ao invés de apenas insistirem na surrada e manjada catilinária de defesa desprovida de fundamentos, mas carregada de mentiras e disfarces que somente contribuem para desacreditar ainda mais a classe política. Em homenagem aos princípios democráticos, a sociedade tem o dever cívico de rechaçar as manobras protelatórias sem conteúdo e se posicionar a favor do urgente julgamento do affaire que manchou a honra e a dignidade não somente de partidos políticos, mas em especial da nação, que não conseguiu se livrar dessa ignominiosa ação perpetrada contra o povo brasileiro, que tem todo direito de saber a verdade dos fatos, desde que seja o quanto antes melhor para evidenciar a indispensável transparência. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 26 de julho de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário