segunda-feira, 23 de julho de 2012

Que falta que ele faz

Uma das estratégias da defesa do delator do mensalão, na tentativa de absolvê-lo, será questionar à Procuradoria Geral da República, no púlpito do Supremo Tribunal Federal, o motivo pelo qual o ex-presidente da República deixou de integrar o rol de denunciados. O citado delator, além de ser atual presidente nacional do PTB, é um dos 38 réus no julgamento programado para se iniciar no próximo dia 2, por ter sido acusado pela prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em face da suspeita de ter recebido R$ 4 milhões do chamado "valerioduto", apelido derivado do nome do operador do dinheiro sujo que abastecia parlamentares aliados ao governo. A defesa garante que, mesmo que o ex-presidente não soubesse do suposto pagamento da propina a parlamentares, em troca de apoio político no Congresso Nacional, é lícita a sua responsabilização criminal pela existência do mensalão. Na acepção da defesa, a PGR cometeu falha grave ao deixar de denunciá-lo nas suas alegações finais, uma vez que ele não poderia ter sido alijado da denúncia, porquanto “quem faz ato de ofício não é o governo, é o presidente. Os ministros denunciados não eram presidentes, eram auxiliares do governo. O procurador-geral da República diz que o governo foi beneficiado. O governo era o Lula, não o Zé Dirceu". Convém ressaltar que os recursos que abasteciam o esquema indecente teriam sido obtidos mediante organização criminosa, supostamente liderada pelo ex-chefe da Casa Civil da Presidência. Não há a menor dúvida de que a argumentação em causa está acobertada de razão, ao questionar a ausência do principal elemento no processo do mensalão, coincidindo em idêntica pergunta que é feita com frequência pela sociedade, por também entender que o esquema criminoso teria sido arquitetado por alguém que trabalhava ao seu lado no Palácio do Planalto, criado, mantido e operado com exclusiva finalidade de comprar parlamentares para dar sustentação ao governo, beneficiando em potencial o ex-presidente da República, mediante o repasse de recursos ilegais aos políticos corruptos. Há grande possibilidade de que, nesse imbróglio ainda nada explicado, tenha havido poderoso tráfego de influência para que o mentiroso, que nada sabia nem tinha visto coisa alguma, saísse ileso do lamaçal infecto, de difícil assepsia da história política. Em nome da decência e honradez que se exigem dos homens públicos, principalmente quanto à necessidade de haver a devida justificativa sobre o desvio de recursos públicos em proveito do governo, é de todo pertinente que o ex-presidente seja arrolado como réu no nesse processo, para que haja justeza e correção no seu julgamento, por estarem sentados no mesmo banco os reais delinquentes do maior escândalo político já protagonizado no país, consistente no desvio de verbas da administração pública, com aval da cúpula petista para comprar votos de parlamentares em favor de projetos de interesse do governo, entre os quais a reforma da Previdência Social. A sociedade protesta por que o julgamento do processo do mensalão sirva de verdadeiro paradigma para moralizar a gestão dos recursos públicos e de conscientização dos eleitores sobre a necessidade de que os maus políticos devem ser banidos definitivamente da vida pública brasileira. Acorda, Brasil!  

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de julho de 2012

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