Uma das estratégias
da defesa do delator do mensalão, na tentativa de absolvê-lo, será questionar à
Procuradoria Geral da República, no púlpito do Supremo Tribunal Federal, o motivo
pelo qual o ex-presidente da República deixou de integrar o rol de denunciados.
O citado delator, além de ser atual presidente nacional do PTB, é um dos 38
réus no julgamento programado para se iniciar no próximo dia 2, por ter sido acusado
pela prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em face da suspeita de
ter recebido R$ 4 milhões do chamado "valerioduto", apelido derivado do
nome do operador do dinheiro sujo que abastecia parlamentares aliados ao
governo. A defesa garante que, mesmo que o ex-presidente não soubesse do
suposto pagamento da propina a parlamentares, em troca de apoio político no
Congresso Nacional, é lícita a sua responsabilização criminal pela existência
do mensalão. Na acepção da defesa, a PGR cometeu falha grave ao deixar de
denunciá-lo nas suas alegações finais, uma vez que ele não poderia ter sido
alijado da denúncia, porquanto “quem faz
ato de ofício não é o governo, é o presidente. Os ministros denunciados não
eram presidentes, eram auxiliares do governo. O procurador-geral da República
diz que o governo foi beneficiado. O governo era o Lula, não o Zé Dirceu".
Convém ressaltar que os recursos que abasteciam o esquema indecente teriam sido
obtidos mediante organização criminosa, supostamente liderada pelo ex-chefe da
Casa Civil da Presidência. Não há a menor dúvida de que a argumentação em causa
está acobertada de razão, ao questionar a ausência do principal elemento no
processo do mensalão, coincidindo em idêntica pergunta que é feita com frequência
pela sociedade, por também entender que o esquema criminoso teria sido arquitetado
por alguém que trabalhava ao seu lado no Palácio do Planalto, criado, mantido e
operado com exclusiva finalidade de comprar parlamentares para dar sustentação
ao governo, beneficiando em potencial o ex-presidente da República, mediante o
repasse de recursos ilegais aos políticos corruptos. Há grande possibilidade de
que, nesse imbróglio ainda nada explicado, tenha havido poderoso tráfego de
influência para que o mentiroso, que nada sabia nem tinha visto coisa alguma,
saísse ileso do lamaçal infecto, de difícil assepsia da história política. Em
nome da decência e honradez que se exigem dos homens públicos, principalmente
quanto à necessidade de haver a devida justificativa sobre o desvio de recursos
públicos em proveito do governo, é de todo pertinente que o ex-presidente seja
arrolado como réu no nesse processo, para que haja justeza e correção no seu
julgamento, por estarem sentados no mesmo banco os reais delinquentes do maior
escândalo político já protagonizado no país, consistente no desvio de verbas da
administração pública, com aval da cúpula petista para comprar votos de
parlamentares em favor de projetos de interesse do governo, entre os quais a
reforma da Previdência Social. A sociedade protesta por que o julgamento do
processo do mensalão sirva de verdadeiro paradigma para moralizar a gestão dos
recursos públicos e de conscientização dos eleitores sobre a necessidade de que
os maus políticos devem ser banidos definitivamente da vida pública brasileira.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de julho de 2012
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