domingo, 29 de julho de 2012

Carência de ações práticas

O ministro da Saúde afirmou que a dependência do crack é uma nova epidemia no país, mas nem por isso os usuários da droga devam ser tratados como bandidos. Segundo essa autoridade, "Não podemos amenizar o tema. Quem já foi à Cracolândia sabe que esse é um mercado novo de drogas, uma droga barata, desestruturadora de famílias, que interrompe projetos individuais". O ministro disse ser a favor da reorganização das políticas públicas de saúde, educação e segurança, para viabilizar o tratamento de dependentes. Ele defende a reestruturação do SUS - Sistema Único de Saúde e de programas sociais para o combate ao crack. Ainda no seu entender, o usuário deve ser tratado como tal, não como o bandido nem como criminoso e que ele precisa ser acolhido e não recolhido de forma compulsória, que às vezes isso é feito nas ruas por policiais, quando deveria ser por profissionais de saúde, com o devido preparo. Em primeiro lugar, a designação de epidemia diz respeito à doença que, de forma repentina e contagiosa, acomete em grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo, numa região geográfica. Já crack, por ser droga, jamais poderia ser considerada doença. A droga não tem o poder de se espalhar rapidinho senão pela patente incompetência do governo, cujas omissão e leniência  possibilitam a sua traficância e venda com plena liberdade e à vontade, nas ruas, nas praças, nas escolas, nos presídios e nos locais onde mais for atrativo o seu mercado, que se expande num comércio lucrativo e progressista. O governo, que tem a incumbência de combater o tráfego do crack, mas não o faz, precisa saber com urgência que somente se consegue “pegá-lo” nos locais como a Cracolândia, onde a venda é livre e estimulada pela deficiência de controle sobre os narcotraficantes. Agora, a ideia de fortalecer o SUS para cuidar dos viciados parece até piada de salão, para não dizer precisamente que o governo quer mesmo é que os usuários se explodam de vez, porque esse sistema não dá conta nem da sua clientela básica. Pelo menos o ministro tem a dignidade de reconhecer a lastimosa situação dos usuários, mas demonstra evidente incapacidade de amenizar o sofrimento das pessoas envolvidas e obrigadas a conviver com a triste situação, por não esboçar política capaz de combate à origem desse câncer social, a começar pelo efetivo controle da entrada das drogas pelas fronteiras e pelos aeroportos, por onde elas passam. Na verdade, a “epidemia” que existe é a de incompetência, nesse caso considerada doença por deficiência gerencial, que contamina a administração pública de forma trágica e tem o poder de transmitir para a sociedade o padecimento oriundo das questões cruciais que afetam a nação. A sociedade anseia por que as autoridades públicas passem da retórica à prática, combatendo, com eficiência, não somente ao tráfego de drogas, mas às mazelas que martirizam os brasileiros e que também sejam capazes de criar políticas adequadas ao seu tratamento, como forma de exterminar o desprezo e a incompetência do Estado para com os problemas sociais. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 29 de julho de 2012

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