O ministro da Saúde afirmou
que a dependência do crack é uma nova epidemia no país, mas nem por isso os
usuários da droga devam ser tratados como bandidos. Segundo essa autoridade,
"Não podemos amenizar o tema. Quem
já foi à Cracolândia sabe que esse é um mercado novo de drogas, uma droga
barata, desestruturadora de famílias, que interrompe projetos individuais".
O ministro disse ser a favor da reorganização das políticas públicas de
saúde, educação e segurança, para viabilizar o tratamento de dependentes. Ele
defende a reestruturação do SUS - Sistema Único de Saúde e de programas sociais
para o combate ao crack. Ainda no seu entender, o usuário deve ser tratado como
tal, não como o bandido nem como criminoso e que ele precisa ser acolhido e não
recolhido de forma compulsória, que às vezes isso é feito nas ruas por
policiais, quando deveria ser por profissionais de saúde, com o devido preparo.
Em primeiro lugar, a designação de epidemia diz respeito à doença que, de forma
repentina e contagiosa, acomete em grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo,
numa região geográfica. Já crack, por ser droga, jamais poderia ser considerada
doença. A droga não tem o poder de se espalhar rapidinho senão pela patente
incompetência do governo, cujas omissão e leniência possibilitam a sua traficância e venda com plena
liberdade e à vontade, nas ruas, nas praças, nas escolas, nos presídios e nos
locais onde mais for atrativo o seu mercado, que se expande num comércio
lucrativo e progressista. O governo, que tem a incumbência de combater o
tráfego do crack, mas não o faz, precisa saber com urgência que somente se
consegue “pegá-lo” nos locais como a Cracolândia, onde a venda é livre e
estimulada pela deficiência de controle sobre os narcotraficantes. Agora, a
ideia de fortalecer o SUS para cuidar dos viciados parece até piada de salão,
para não dizer precisamente que o governo quer mesmo é que os usuários se
explodam de vez, porque esse sistema não dá conta nem da sua clientela básica.
Pelo menos o ministro tem a dignidade de reconhecer a lastimosa situação dos
usuários, mas demonstra evidente incapacidade de amenizar o sofrimento das
pessoas envolvidas e obrigadas a conviver com a triste situação, por não
esboçar política capaz de combate à origem desse câncer social, a começar pelo efetivo
controle da entrada das drogas pelas fronteiras e pelos aeroportos, por onde elas
passam. Na verdade, a “epidemia” que existe é a de incompetência, nesse caso
considerada doença por deficiência gerencial, que contamina a administração
pública de forma trágica e tem o poder de transmitir para a sociedade o padecimento
oriundo das questões cruciais que afetam a nação. A sociedade anseia por que as
autoridades públicas passem da retórica à prática, combatendo, com eficiência,
não somente ao tráfego de drogas, mas às mazelas que martirizam os brasileiros e
que também sejam capazes de criar políticas adequadas ao seu tratamento, como
forma de exterminar o desprezo e a incompetência do Estado para com os
problemas sociais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de julho de 2012
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