sexta-feira, 27 de julho de 2012

Influências nefastas

O inquérito que apurou possível tráfico de influência na Casa Civil da Presidência da República foi arquivado pela Justiça Federal, depois de um ano e sete meses da sua abertura, sob o fundamento de que não foram encontradas provas que incriminassem a ex-ministra e seus familiares. Segundo esclarecimentos prestados pelo seu defensor, "As provas demonstraram, categoricamente, que a ex-ministra não cometeu crime algum. Provas testemunhais, perícias da PF e documentos oficiais da Receita Federal comprovaram a inocência dela. Os dados foram cruzados e tudo aquilo que foi alegado contra ela virou fumaça". Conforme denúncias então publicadas na imprensa, um filho da ex-ministra teria se envolvido na cobrança de comissões de empresas para a liberação de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e para renovar concessão na Agência Nacional de Aviação Civil. Entretanto, a acusação que teve substância e tornou insustentável a permanência da ex-ministra no governo foi a de que um consultor, que atuava para a empresa de Campinas EDRB, revelou que teria sido extorquido ao buscar empréstimo de R$ 2,25 bilhões para construção de um parque solar no Nordeste. Nos termos do seu relato, à época, um dirigente dos Correios, ligado ao filho da ex-ministra, teria exigido R$ 5 milhões para viabilizar o empréstimo junto ao referido banco, cujo valor seria entregue à ex-ministra, que repassaria para as campanhas da candidata à Presidência da República e do candidato do PMDB ao governo de Minas Geral. Na época, o escândalo foi robustecido com elementos comprobatórios das denúncias, minutas de contratos de prestação de serviços e testemunhas confirmando as tratativas para a efetivação dos serviços a serem prestados pelo filho da ex-ministra, tudo encaminhado mediante tráfego de influência entabulado dentro do Palácio do Planalto ou por facilitação de pessoas que se encontravam nele encasteladas. Agora, a notícia do arquivamento do processo causa surpreendente estranheza, máxime pelo fato de que nenhuma prova teria sido produzida contra a ex-ministra. Isso é espantoso, por contrariar frontalmente as acusações iniciais das principais partes prejudicadas. Então, como acreditar agora na fidedignidade dessas conclusões, principalmente tendo em contra que somente o defensor da ex-ministra se dignou a prestar informação acerca do arquivamento do processo? A verdade é que os esforços e as investigações resultaram em infrutíferas presunções de que podem ter havido tráfegos de influência do mal, no Executivo, quando das acusações dos fatos suspeitos, e do bem, na Justiça, por ocasião do exame das apurações. Como se tratam de “forças” antagônicas, o encontro entre ambas tem efeito nulo, havendo, como consequência, o inevitável encerramento dos autos, com final melancólico para a verdade da história contemporânea do país. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 27 de julho de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário