O affaire
envolvendo a ex-ministra da Casa Civil e seus familiares é tão confuso que a
Justiça não teve “coragem ou competência” para solucioná-lo, tendo preferido
encerrá-lo sem nenhum veredicto, apesar de a sua gravidade não recomendar
medida nesse sentido, caso ele tivesse sido examinado à luz dos fatos
investigados, com a devida observância aos princípios da imparcialidade e da
transparência e imune à nefasta influência capaz de mudar a sua normal
tramitação. Depois do arquivamento do respectivo processo, sob o argumento da
falta de provas quanto ao tráfego de influência, veio à lume relatório inédito
da Polícia Federal, obtido pelo Jornal F.
de Paulo, onde é mostrado que o filho da ex-ministra e um então assessor daquela
pasta operaram dentro do Palácio do Planalto, para ganhar dinheiro por meio de
consultorias a empresários interessados em contratos com o governo. As
investigações concluíram: "Confirmam-se
as reportagens que apontaram que um servidor da Casa Civil indicou aos
proprietários da EDRB a contratação da empresa de assessoria Capital (do filho
da ex-ministra) para obtenção de parceiros para desenvolver um projeto
apresentado na Casa Civil", "a
real intenção de Vinicius ao levar a EDRB à reunião na Casa Civil era criar
expectativa nos empresários para então oferecer a assessoria da empresa que
explorava com o filho da secretária-executiva" e "Fica evidente que a conduta de Vinicius foi
toda pautada no interesse em oferecer aos empresários o serviço da empresa que
operava com o amigo Israel". A polícia revelou que a conclusão foi
baseada em dezenas de depoimentos e análise de contratos entre diversas
empresas e o governo, tendo ainda quebrado o sigilo telefônico, fiscal e
bancário dos envolvidos. Todavia, a procuradora da República informou que a sua
análise sobre o inquérito policial revelou que alguns dos fatos noticiados pela
imprensa foram "demonstrados",
mas eles não apontavam indícios de crimes e a contratação da consultoria
poderia ser "traduzida como uma
solicitação de vantagem", mas "não restou evidenciado que tenha se dado a pretexto de influir em ato
praticado por servidor". Ela afirmou que o inquérito levantou "fortes indícios que a intenção era viciada",
mas "não se pode dizer que o ato, em
si, era contrário à disposição legal". Inobstante, a PF viu indícios
de sonegação e lavagem de dinheiro e abriu novo inquérito, agora sem a inclusão
da ex-ministra. É impressionante como as negociatas feitas dentro do Planalto, ante
a necessidade de se criar, com a força do poder, ambiente de confiança e de
credibilidade ao lobby, conforme
demonstram as apurações, em evidentes ações ofensivas aos princípios da
legalidade, que refutam a mistura de interesses privados com os públicos, não tenham
sido suficientes para apontarem irregularidades capazes de incriminar os
envolvidos. A conclusão de que não houve delito é inaceitável, à vista de ter
sido utilizada a máquina pública em proveito pessoal. É provocação à sociedade e
afronta à sua inteligência, além de incentivo à reincidência de fatos
semelhantes, a afirmação de que tráfego de influência não tem relevância
alguma, porque fatos dessa natureza não são tidos como conduta criminosa. Como
é desalentador se verificar que as falcatruas e as desonestidades tenham sido
praticadas, de forma criminosa, no âmago do poder público, dentro do palácio
presidencial, e os delinquentes serem aquinhoados com o perdão, como se nada
tivesse acontecido de criminoso. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de julho de 2012
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