sábado, 6 de fevereiro de 2016

A igualdade como princípio?


O petista ex-presidente da República divulgou nota, em sua conta na rede social Facebook, em demonstração de repúdio à tentativa de envolvê-lo em atos ilícitos investigados pela Operação Lava-Jato.
Conforme notícias veiculadas pela imprensa, a nova fase da aludida operação, deflagrada pela Polícia Federal, aponta fatos que estariam se aproximando do ex-presidente, uma vez que as investigações, nessa nova fase, têm por objetivo verificar casos relacionados com suposta lavagem de dinheiro, pertinente à compra de empreendimentos imobiliários no Guarujá, litoral paulista, e em Atibaia/SP, representados, respectivamente, por um apartamento e um sítio.
O petista diz, na nota, que, “Nos últimos 40 anos, nenhum líder brasileiro teve a vida particular e partidária tão vasculhada quanto Lula e jamais encontraram acusação válida contra ele.”.
O texto diz que “O ex-presidente Lula não foi sequer citado na decisão do juiz Sérgio Moro e repudia qualquer tentativa de envolver seu nome em atos ilícitos investigados na chamada Operação Lava Jato... Portanto, Lula não ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E continuará lutando em defesa do Brasil, do Estado de Direito e da democracia.”.
 É estarrecedor se perceber a ira das pessoas suspeitas da prática de atos ilícitos e dos simpatizantes fanatizados, que demonstram indignação somente porque o petista-mor vem sendo investigado sobre caso rumoroso que poderia ser facilmente esclarecido se ele, à luz dos princípios da dignidade e da transparência, justificasse, com base em documentos probantes, os motivos e os fatos pelos quais os questionados tríplex e sítio teriam sido reformados em conformidade com a orientação e a supervisão dele e da sua esposa, como mostram fartos depoimentos de testemunhas, afirmando que eles teriam visitado, na fase da reforma, o suposto apartamento que seria de propriedade dele e o sitio onde o petista esteve, em três anos, 111 vezes, mas nenhum dos imóveis se encontra em nome dele, fato que leva à ilação de que pode haver, nesses casos, ocultação de propriedade.
Segundo as informações, os citados imóveis teriam sido reformados sob as orientações do ex-presidente e da sua esposa, porém com recursos das construtoras AOS e Odebrecht, cujos executivos se encontram presos, por força de seus envolvimentos nos fatos objeto das investigações da Operação Lava-Jato.
Trata-se de verdadeira triangulação que envolve negócios que podem não ter nada de estranho se não fossem as enormes dificuldades para os devidos esclarecimentos por parte de pessoa que se diz honesta ao extremo, mas os fatos por si sós não se coadunam com os verdadeiros princípios de licitude ínsitos dos homens públicos, que não podem simplesmente parecer honestos, têm que provar a sua honestidade, sempre que houver suspeita de irregularidade contra eles.
No entendimento do petista, o fato de se suscitar possíveis irregularidades sobre a sua pessoa não condiz precisamente com o Estado Democrático de Direito, em que pese o seu pilar se assentar no princípio fundamental da transparência, que vem sendo omitida, nos casos questionados, até o presente momento, conquanto muitas versões já vieram à tona, pondo em dúvida a correção sobre os episódios em apreço.
Também causa perplexidade, a indignação demonstrada pelo petista e por seus seguidores fanatizados, pelo simples fato de haver investigações sobre os casos até agora não explicados de forma convincentes sobre eles, como se ex-presidente estivesse acima de tudo e da lei e fosse detentor de imunidade e intocabilidade, em injustificável esforço de desprezo ao princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei, estando sujeitos inclusive aos procedimentos de investigação, que têm por finalidade justamente pôr os fatos às claras, estando eles, em princípio, suspeitos de irregularidades.
Os homens públicos que se julgam injustiçados ou perseguidos precisam compreender que, em princípio, quem não deve, não teme às investigações, porque, ao seu final, caso seja provado que o ex-presidente é inocente o resultado das apurações tem o poder de reverter em benefício dele, por mostrar que seus atos estão revestidos de licitude, situação esta que somente se concretiza se os casos suspeitos de irregulares não forem jogados para debaixo do tapete, em razão do envolvimento de pessoa que se considera poderosa.
Nos países civilizados e desenvolvidos, os homens públicos têm a dignidade de se deixarem que seus atos sejam devidamente investigados, em atenção aos princípios da transparência e legalidade, haja vista que, normalmente, eles são engrandecidos com os resultados das apurações, que servem como atestado de dignidade e honorabilidade sobre a atuação na vida pública, obviamente quando o resultado não aponte nada de errado quanto aos fatos questionados.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que não pode existir superioridade ou distinção perante a lei, segundo o princípio constitucional de que todos são iguais em direito e obrigação, cujo conceito se harmoniza com o regime republicano, que repudia qualquer forma de privilégio, como a absurda tentativa de isenção de investigação sobre fatos com fortes suspeitas de irregularidades, não importando a relevância dos homens públicos envolvidos, porque devem prevalecer, nesses casos os princípios da igualdade, verdade, transparência, moralidade e dignidade, como forma de satisfazer, sobretudo, o interesse público, com embargo das causas pessoais e partidárias. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de fevereiro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário