Um
engenheiro da empreiteira Odebrecht, investigada pela Operação Lava-Jato, disse
à reportagem do jornal Folha
de S. Paulo que participou de obras feitas no sítio de Atibaia (SP),
frequentado pelo petista ex-presidente da República e por familiares dele.
Segundo
a comerciante que forneceu os produtos para a reforma, os pagamentos do
material de construção foram feitos pela empreiteira, que teria informado ao citado
jornal não ter “identificado relação da
empresa com a obra”, iniciada em outubro de 2010, dois meses antes de o
petista deixar a Presidência da República.
O
funcionário da Odebrecht disse ter dado “algum
apoio” ao projeto durante as férias de fim de ano, enquanto o Instituto
Lula não ter demonstrado interesse em comentar o caso em apreço.
A
propriedade do sítio em causa está dividida em dois lotes, sendo cada um pertencente a
empresários sócios, em diferentes empresas, do filho mais velho do ex-presidente,
cujas reformas são amplas e abrangeram, desde a construção de área com
churrasqueira até ampliação da piscina e da casa, além da colocação de armários
e mobiliários.
Ainda
segundo a reportagem publicada pela Folha,
a ex-dona do Depósito Dias atribuiu à Odebrecht os pagamentos por materiais de
construção enviados ao sítio, no montante aproximado de R$ 500 mil, cuja
reforma nesse imóvel frequentado pelo ex-presidente foi coordenada por
engenheiro da Odebrecht, que teria atuado também na construção da Arena
Corinthians, na zona leste de São Paulo, estádio usado na abertura da Copa de
2014.
Embora
tiver negado saber sobre qualquer relação do petista com o sítio, o engenheiro relatou
à reportagem que trabalhou na reforma durante suas férias e que não cobrou pelo
serviço, dando a entender que foi empregado o jeitinho brasileiro de alguém
levar vantagem, de alguma forma, porque dificilmente profissional desse porte
trabalhe de graça, neste país.
A
ex-dona do depósito disse que foi orientada pelo engenheiro a emitir notas de
compras feitas pela Odebrecht em nome de outras empresas e que parte dos materiais
foi vendida sem registro fiscal, tendo confirmado que os pagamentos eram feitos
semanalmente, fato este que demonstra outra grave forma de irregularidade, no
sentido de não se identificar os nomes dos verdadeiros envolvidos nas obras.
Segundo
a ex-dona da loja, ela vendia muito para a obra em apreço e que, durante dois
meses, o engenheiro da Odebrecht ia praticamente todos os dias comprar material
acompanhado por um arquiteto de Dourados (MS), responsável pela reforma, que
mais tarde foi identificado pela reportagem da revista Veja se tratar de
arquiteto da indicação do pecuarista de Mato Grosso, amigo do ex-presidente,
preso e investigado por suposta obtenção de vantagens indevidas em função da
proximidade dele com o petista.
Para
complicar ainda mais o imbróglio, a empreiteira OAS também teria atuado na
reforma, conforme foi esclarecido por um caminhoneiro ouvido pela revista, que disse
que o engenheiro que cuidava da obra tinha trabalhado no estádio do Corinthians
e que ele era pago em dinheiro em espécie.
A
reportagem da revista Veja também
ouviu um marceneiro que trabalhou na obra, tendo afirmado que era a Odebrecht a
empreiteira responsável pelo projeto e que teria ouvido falar que o sítio seria
do petista e que ele se relacionava diretamente com o engenheiro dessa
construtora.
À
toda evidência, as provas são robustas e contundentes, tendo o peso de
conspirar, em substância, contra a dignidade do ex-presidente, que terá
bastante dificuldade para sair dessa teia de aranha criada por ele, principalmente
depois que a Presidência da República confirmou que os seguranças do
ex-presidente estiveram no sítio em apreço, nada mais nada menos, que 111
vezes, desde o ano de 2012 até 11 de janeiro último, dando a entender que não
se tratava de apenas visitas casuais e esporádicas dele ao local.
Agora, imagine-se se não fossem todos
os casos rumorosos que estão vindos à baila sobre reformas de tríplex, sítios e
outras falcatruas envolvendo aquele que se diz o homem público mais honesto do
país? O que os brasileiros vão achar dos demais políticos que nem se atrevem a
pousar com a áurea da suprema honestidade?
Os
fatos mostram que o Brasil se encontra a ano-luz de alcançar os verdadeiros
princípios de dignidade e honorabilidade no que foi denominado como práticas
político-administrativas sérias, porque o público e o privado foram
simplesmente confundidos como se tudo fizesse parte da classe política
dominante, como sendo o seu verdadeiro patrimônio, em cristalina demonstração
de que a sociedade é apenas tratada como um bando de imbecis e ignorantes, à
vista de que, pelo menos, sua expressiva maioria foi preparada para comungar na
cartilha da imundície ideológica dessa classe podre, que ainda se arvora no
direito de defender o que é absolutamente censurável e condenável, como se a
desonestidade dos atuais homens públicos fosse modelo e paradigma de moralidade
e seriedade, quando suas atitudes mostram exatamente o contrário que se espera
sobre o zelo pela coisa pública.
Os
brasileiros de dignidade, que têm realmente vergonha na cara, precisam
demonstrar reação e coragem para se indignar contra essa verdadeira
esculhambação que tomou conta da nação, em que homens públicos têm a petulância
de bradar que são verdadeiros exemplos de honestidade, enquanto os fatos
mostram que o seu patrimônio não resistem às auditorias sérias sobre a
legitimidade quanto à sua origem.
Em
termos de moralidade e dignidade, há completa evidência de que o país está
integralmente sem o devido respaldo de legitimidade, de vez que aquele que diz
ser o mais honesto de todos não consegue se afastar das páginas obscuras do
noticiário policial da imprensa, com a indicação do seu envolvimento em fatos
escabrosos de corrupção e a extrema falta de transparência e de seriedade
somente potencializa dúvidas e suspeitas sobre o que realmente existe de
verdade, porque em toda situação aparece a presença de provas
irrefutáveis e injustificáveis, à luz dos princípios da correção, verdade e
honestidade.
Com
certeza, o Brasil não merece passar por situação de extrema humilhação, com a
enxurrada de casos de corrupção protagonizada por homens públicos ditos de
escol e que deveriam dar o exemplo de dignidade e probidade para a sociedade,
que se sente cada vez mais ultrajada diante da permanente revelação de fatos
incompatíveis com a nobreza que deve imperar nas atividades
político-administrativas, em razão do seu envolvimento em situações que fogem
aos padrões da ética, da moralidade, da legalidade e do decoro, em verdadeira
dissonância com os princípios democrático e republicano. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de fevereiro de 2016
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