terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Cadê a prova da inculpabilidade?


A presidente brasileira, enfim, saiu em defesa de seu padrinho político, ao afirmar que ele vem sendo alvo de suspeitas em torno da suposta propriedade de um apartamento tríplex no Guarujá e do uso de um sítio em Atibaia.   
Causa perplexidade que o petista alvo das acusações é que foi procurado pela presidente, para ouvir as lamúrias dele sobre os escândalos que o envolvem, como se ele não tivesse obrigação, como homem público, de apresentar suas justificativas à sociedade sobre os fatos elencados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dando a entender que a reunião dos dois, em São Paulo, evidentemente com o uso da máquina pública, pelo uso de aparato e avião oficiais, teria sido convocada pelo ex-presidente para exigir que a sua pupila tivesse coragem para dizer que ele "está sendo objeto de uma grande injustiça".
    A petista disse que "Respeito muito a história do presidente Lula e tenho certeza que esse será um processo que será superado porque eu acredito que o país, a América Latina, o mundo precisam de uma liderança com as características do presidente Lula”.
É evidente que o gravíssimo imbróglio que envolve o petista poderá ser superado, como sugere a presidente, se ele se dignar a esclarecer e justificar, com elementos probantes, a sua inocência com relação aos fatos levantados pelos órgãos competentes, mas até o momento o petista preferiu recorrer, estranhamente, às autoridades da sua confiança ou da sua submissão, para fazer declarações inconsistentes e absurdas como essa da presidente de que “... o país, a América Latina, o mundo precisam de uma com as características do presidente Lula”.
Na verdade, os brasileiros precisam de estadista que tenha a dignidade e a sensibilidade de reconhecer e assumir seus erros e não ficar se escorando em autoridades que estão igualmente ou pior com a credibilidade tão suja quanto à dele, de modo que suas manifestações têm o condão de agravar ainda mais a situação que já é insustentável, à vista da robusteza das provas colhidas sobre as reformas realizadas graças à influência e ao prestígio de alguém com os poderes ostentados de todo-poderoso.  
          O ex-presidente e a sua mulher são investigados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por suspeição de serem os donos de um tríplex em um prédio no Guarujá, litoral paulista.
          O prédio em apreço foi construído pela construtora OAS e vem sendo investigado pelos integrantes do Ministério Público Federal que compõem a força-tarefa da Operação Lava-Jato, diante da suspeita de que apartamentos teriam usados para pagar propina.
          No que se refere ao sítio, o Ministério Público suspeita que empreiteiras tenham realizado obras no local, com recursos próprios, como compensação por contratos com o governo.
Na verdade, a questão das propriedades dos aludidos imóveis têm importância para a definição quanto aos legítimos donos, mas acresce de relevância, que tem sido o verdadeiro cerne das suspeitas, é a necessidade de inexplicáveis sobre as suntuosas reformas realizadas nos mencionados imóveis, com recursos, ainda não justificados, de empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão, que consiste na roubalheira de milhões de reais em propina para políticos, lobistas, diretores, partidos políticos etc., mas esse fato a presidente do país não fez menção, tendo apenas se referido à propriedade e ao uso deles, os quais realmente não constam no nome do petista, porquanto as provas testemunhais e documentais acenam, de forma nítida e indiscutível, para relação dele com os imóveis, permitindo-se as ilações de que ele teria sido beneficiado indevidamente com dinheiro de origem duvidosa, cujos fatos, à luz do princípio da transparência, precisam ser investigados, mas os petistas resistem às apurações e à elucidação da verdade, por, obviamente, temerem que a honestidade suprema do país se esparrame por terra, o que poderia ser grave golpe e o fim da própria legenda, esquecendo eles que o inverso poderá contribuir para confirmar a aura de imaculado dele.
O certo é que os homens públicos precisam ter a dignidade de avaliar os fatos como eles realmente aconteceram, não confundindo o público com o privado, a exemplo da influência e do prestígio do ex-presidente que podem ter contribuído para que empreiteiras promovessem deslumbrantes reformas em imóveis com suspeitas de terem estreitas vinculações com ele, como no caso dos cuidados com a transformação do tríplex em apartamento luxuosíssimo, sob a orientação dele e da sua mulher, e da ampliação e modernização no sítio onde ele e família frequentam (ou frequentavam) com assiduidade, tudo a demonstrar que jamais as reformas teriam sido feitas por empreiteiras, com recursos próprios, se não houvesse escusos interesses envolvidos.
Já há provas mais que robustas e suficientes para caracterizar exatamente quem se beneficiaria ou se beneficia das generosas e magnânimas benfeitorias promovidas nos citados imóveis, notadamente do sítio, que, no início de 2011, recebeu parte da mudança do ex-presidente da República, enviada de Brasília, o que pode caracterizar uma das residências do petista, que teria visitado o local, no período de 2012 a 11 de janeiro último, por 111 vezes, conforme relatório fornecido pela Presidência da República, o que significa que o petista continua sendo homem público que recebe os cuidados da segurança patrocinados pelos cofres públicos.
Trata-se de liderança política que precisa provar a honestidade de seus atos, tendo em vista que a sua inculpabilidade precisa ser comprovada, por meio de investigação e de confrontação de informações que, por enquanto, estão demonstrando que empreiteiras realizaram sim reformas no tríplex e no sítio cujo envolvido em potencial é o ex-presidente, que precisa ter a dignidade de responder por seus atos, sem necessidade de recorrer ao socorro da presidente do país e de entidades e organizações civis, para defender o que a sociedade já percebeu exatamente o que pode ter ocorrido de verdade, que não condiz nem um pouco com os salutares princípios da seriedade e dignidade que devem prevalecer como inspiração nas atividades dos homens públicos. Acorda, Brasil!  
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de fevereiro de 2016

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