A presidente brasileira, enfim, saiu em defesa de
seu padrinho político, ao afirmar que ele vem sendo alvo de suspeitas em torno
da suposta propriedade de um apartamento tríplex no Guarujá e do uso de um
sítio em Atibaia.
Causa perplexidade que o petista alvo das acusações
é que foi procurado pela presidente, para ouvir as lamúrias dele sobre os
escândalos que o envolvem, como se ele não tivesse obrigação, como homem
público, de apresentar suas justificativas à sociedade sobre os fatos elencados
pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dando a entender que a reunião
dos dois, em São Paulo, evidentemente com o uso da máquina pública, pelo uso de
aparato e avião oficiais, teria sido convocada pelo ex-presidente para exigir
que a sua pupila tivesse coragem para dizer que ele "está sendo objeto de uma grande injustiça".
A petista disse que "Respeito muito a história do presidente Lula e tenho certeza que esse
será um processo que será superado porque eu acredito que o país, a América
Latina, o mundo precisam de uma liderança com as características do presidente
Lula”.
É evidente que o gravíssimo imbróglio que envolve o
petista poderá ser superado, como sugere a presidente, se ele se dignar a
esclarecer e justificar, com elementos probantes, a sua inocência com relação
aos fatos levantados pelos órgãos competentes, mas até o momento o petista
preferiu recorrer, estranhamente, às autoridades da sua confiança ou da sua
submissão, para fazer declarações inconsistentes e absurdas como essa da
presidente de que “... o país, a América
Latina, o mundo precisam de uma com as características do presidente Lula”.
Na verdade, os brasileiros precisam de estadista
que tenha a dignidade e a sensibilidade de reconhecer e assumir seus erros e
não ficar se escorando em autoridades que estão igualmente ou pior com a
credibilidade tão suja quanto à dele, de modo que suas manifestações têm o
condão de agravar ainda mais a situação que já é insustentável, à vista da
robusteza das provas colhidas sobre as reformas realizadas graças à influência
e ao prestígio de alguém com os poderes ostentados de todo-poderoso.
O
ex-presidente e a sua mulher são investigados pelo Ministério Público do Estado
de São Paulo por suspeição de serem os donos de um tríplex em um prédio no
Guarujá, litoral paulista.
O prédio
em apreço foi construído pela construtora OAS e vem sendo investigado pelos
integrantes do Ministério Público Federal que compõem a força-tarefa da Operação
Lava-Jato, diante da suspeita de que apartamentos teriam usados para pagar
propina.
No que se
refere ao sítio, o Ministério Público suspeita que empreiteiras tenham
realizado obras no local, com recursos próprios, como compensação por contratos
com o governo.
Na verdade, a questão das propriedades dos aludidos
imóveis têm importância para a definição quanto aos legítimos donos, mas
acresce de relevância, que tem sido o verdadeiro cerne das suspeitas, é a
necessidade de inexplicáveis sobre as suntuosas reformas realizadas nos
mencionados imóveis, com recursos, ainda não justificados, de empreiteiras envolvidas
no escândalo do petrolão, que consiste na roubalheira de milhões de reais em
propina para políticos, lobistas, diretores, partidos políticos etc., mas esse
fato a presidente do país não fez menção, tendo apenas se referido à propriedade
e ao uso deles, os quais realmente não constam no nome do petista, porquanto as
provas testemunhais e documentais acenam, de forma nítida e indiscutível, para
relação dele com os imóveis, permitindo-se as ilações de que ele teria sido
beneficiado indevidamente com dinheiro de origem duvidosa, cujos fatos, à luz
do princípio da transparência, precisam ser investigados, mas os petistas
resistem às apurações e à elucidação da verdade, por, obviamente, temerem que a
honestidade suprema do país se esparrame por terra, o que poderia ser grave
golpe e o fim da própria legenda, esquecendo eles que o inverso poderá contribuir
para confirmar a aura de imaculado dele.
O certo é que os homens públicos precisam ter a
dignidade de avaliar os fatos como eles realmente aconteceram, não confundindo
o público com o privado, a exemplo da influência e do prestígio do
ex-presidente que podem ter contribuído para que empreiteiras promovessem deslumbrantes
reformas em imóveis com suspeitas de terem estreitas vinculações com ele, como
no caso dos cuidados com a transformação do tríplex em apartamento
luxuosíssimo, sob a orientação dele e da sua mulher, e da ampliação e
modernização no sítio onde ele e família frequentam (ou frequentavam) com
assiduidade, tudo a demonstrar que jamais as reformas teriam sido feitas por
empreiteiras, com recursos próprios, se não houvesse escusos interesses
envolvidos.
Já há provas mais que robustas e suficientes para
caracterizar exatamente quem se beneficiaria ou se beneficia das generosas e
magnânimas benfeitorias promovidas nos citados imóveis, notadamente do sítio,
que, no início de 2011, recebeu parte da mudança do ex-presidente da República,
enviada de Brasília, o que pode caracterizar uma das residências do petista,
que teria visitado o local, no período de 2012 a 11 de janeiro último, por 111
vezes, conforme relatório fornecido pela Presidência da República, o que
significa que o petista continua sendo homem público que recebe os cuidados da
segurança patrocinados pelos cofres públicos.
Trata-se de liderança política que precisa provar a
honestidade de seus atos, tendo em vista que a sua inculpabilidade precisa
ser comprovada, por meio de investigação e de confrontação de informações que,
por enquanto, estão demonstrando que empreiteiras realizaram sim reformas no
tríplex e no sítio cujo envolvido em potencial é o ex-presidente, que precisa
ter a dignidade de responder por seus atos, sem necessidade de recorrer ao
socorro da presidente do país e de entidades e organizações civis, para
defender o que a sociedade já percebeu exatamente o que pode ter ocorrido de
verdade, que não condiz nem um pouco com os salutares princípios da seriedade e
dignidade que devem prevalecer como inspiração nas atividades dos homens
públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de fevereiro de 2016
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