sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Miopia sobre a realidade


Na visão do petista prefeito de São Bernardo/SP, o petista ex-presidente da República está sendo vítima de injustiça, por ter sido colocado no olho do furacão, como alvo de investigação pelo Ministério Público, em razão de suspeita de obtenção de vantagens em negócio com tríplex no Guarujá/SP. Ele também criticou a postura de parte do órgão ministerial e da imprensa.
O prefeito afirmou que “Há insanidades editoriais, de veículos dizendo que o Lula é criminoso e deveria ser preso e também insanidade de promotores. Conheço o presidente Lula não é de hoje e posso afirmar que o que se tem é uma grande injustiça contra ele. Se você olhar na história você também vai ver injustiça com outras lideranças que trabalharam para o bem de seu povo, como Juscelino Kubitschek”.
O prefeito discursa em harmonia com o pensamento das principais lideranças petistas, que avaliam que o ex-presidente está sendo vítima de campanha de difamação, que tem por objetivo desgastá-lo politicamente e contribuir para dificultar sua possível candidatura ao Palácio do Planalto, em 2018, ou seja, segundo ele, “Alguém, com interesses muitas vezes espúrios, busca criminalizar para tentar, quem sabe, retomar [o poder]. Adotam então esse tipo de recurso”.
Nem o Poder Judiciário escapou das ácidas críticas do petista, ao afirmar que “Muita gente travestida da moralidade, do seu papel jurídico está fazendo verdadeiros absurdos, verdadeira caça às bruxas”.
O Ministério Público decidiu que vai ouvir o ex-presidente sobre o negócio envolvendo o questionado apartamento, que foi construído pela OAS Empreendimentos, mas o ex-presidente nega ser dono desse imóvel, que é alvo também de investigações da Operação Lava-Jato.
Por sua vez, a Polícia Federal afirmou que investiga a eventual participação do ex-presidente em suposto esquema de compra de medidas provisórias, de que trata a Operação Zelotes.
Completando as investigações contra o ex-presidente, o Ministério Público também decidiu verificar a regularidade sobre as reformas realizadas no sítio frequentado assiduamente por ele, que também foram patrocinadas por empreiteiras e empresas de amigos dele.
Causa enorme perplexidade que os casos questionados envolvem diretamente a pessoa do ex-presidente e o coloca no olho do furacão, com potencial possibilidade de que a sua influência política tenha contribuído, de forma decisiva, para que os “investimentos” realizados nos imóveis, por construtoras e empresas de amigos, mesmo que a propriedade deles não seja realmente do petista, mas os fatos têm tudo para se aproximar em muito aos interesses dele, justamente porque há fortes evidências da sua ligação com o histórico dos aludidos imóveis, de modo que somente por meio de investigações será possível se aquilatar a veracidade sobre os casos escabrosos vindos à tona.
Trata-se de verdadeira miopia por parte de quem vem avaliando o envolvimento do ex-presidente em possíveis favorecimentos de generosos empreiteiros, por sentenciarem como sendo casos de equivocada injustiça contra o todo-poderoso, quando as medidas em curso visam tão somente às apurações sobre fatos que efetivamente aconteceram e que precisam ser devidamente elucidados, em atenção aos princípios da moralidade, legalidade, transparência e dignidade, que precisam ser fielmente observados pelos homens públicos, à luz da necessidade da prestação de contas sobre os atos praticados na vida pública.
Certamente, não contribui para o aperfeiçoamento da democracia e da verdade a defesa de algo que não pode deixar de ser investigado, que tem como finalidade aclarar de forma cabal os fatos inquinados de possíveis irregularidades, sob a visão dos princípios da ética, moralidade, legalidade e transparência.
Os brasileiros precisam avaliar, com profundidade, os reais sentimentos éticos e de moralidade ínsitos dos homens públicos que ficam defendendo, de forma irresponsável e com injustificável ímpeto, a honra de homens públicos que são colocados sobre quaisquer suspeitas, como se eles fossem o suprassumo da honestidade que sequer podem passar pelo crivo das indispensáveis apurações sobre fatos sob suspeição, em evidente demonstração de desprezo aos princípios da transparência, legalidade, moralidade e dignidade, cuja observância se impõe, de forma imperiosa, na administração das Repúblicas civilizadas e com políticos capacitados com o mínimo de racionalidade, sensatez e sensibilidade sobre o imprescindível zelo da res publica. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de fevereiro de 2016

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