quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Rombo sobre rombo


O governo escondia o rombo das contas públicas por trás das pedaladas fiscais, que serviu de ardil por meio do qual os bancos oficiais assumiram pagamentos da incumbência do Tesouro Nacional, como Bolsa Família, aposentadorias, fornecedores etc., com a promessa de repassar os recursos no futuro, dando a entender que as contas públicas estavam sempre em dia e não com extraordinário déficit, ou seja, os limites da meta fiscal foram mandados para o espaço sideral, em evidente burla às normas de administração financeira e orçamentária de que tratam as Leis de Responsabilidade Fiscal e de Diretrizes Orçamentárias.
          Depois o governo promovia o acerto com os bancos, sempre o empurrando para o futuro, à mercê de melhores dias, o efetivo pagamento da conta, de modo que a dívida do governo pertinentes às pedaladas fiscais atingiu o montante, pasmem, da ordem de R$ 55 bilhões. Ao assumir a diferença, que era absolutamente inevitável, o governo acabou por reconhecer que teria realmente infringido os preceitos insculpidos na Lei da Responsabilidade Fiscal e dar razão ao Tribunal de Contas da União, que, de forma acertada, em cumprimento à sua missão constitucional, denunciou a prática irregular e as distorções contrárias aos princípios da legalidade e da transparência.
Além de burlar as normas legais aplicáveis à espécie, o atrevimento das pedaladas fiscais prejudicou a série de estatísticas e varreu a verdadeira situação das contas públicas para debaixo do tapete, contrariando a seriedade contábil que deve ser rigorosamente respeitada, sob pena de macular a credibilidade das contas públicas. Em consequência disso, não há exatidão comparativa da situação das contas públicas com as pedaladas (2014, por exemplo) com os novos números, agora escoimados das famigeradas pedaladas, justamente pela existência de distorção de informações, que passaram a ser irreais sobre o desempenho das despesas do governo.
Também contribuiu como fator causador do megarrombo do desempenho do governo a recessão econômica, que teve como principal reflexo a acentuada redução de arrecadação, quando o Tesouro contabilizou queda de receita da ordem de 5,6%, em relação ao exercício de 2014. A política fiscal flácida foi outro expressivo fator que contribuiu para o pífio desempenho do governo, por ele não ter produzido cortes suficientes de despesas nem promovido qualquer reforma das obsoletas e desatualizadas estruturas do Estado, que padecem de vícios quase insanáveis e bastante prejudiciais à modernidade e ao aperfeiçoamento do funcionamento da máquina pública e das demais instituições do país.
Na verdade, o estrago proveniente das pedaladas fiscais foi obviamente tapado com mais despejo de títulos públicos no mercado, ou seja, houve o saneamento do rombo com aumento da dívida pública, que, por sua vez, vai contribuir para aumentar o valor dos juros. Somente em dezembro último, o aumentou foi da ordem de R$ 79,4 bilhões, não apenas para pagar as pedaladas fiscais, mas também para incorporar despesas com juros ao principal, no valor de R$ 30,2 bilhões.
Embora o Orçamento da União tenha sido aprovado com previsão de superávit de 0,5% do PIB, ao final de 2016, esse resultado não é confiável, à vista da incerteza sobre a firmeza da arrecadação, que continua em queda, acompanhando a retração econômica, e da incerteza quanto à efetividade da receita da CPMF, que foi incluída no orçamento mesmo na pendência da sua aprovação pelo Congresso Nacional.
Para aumentar a arrecadação é preciso crescimento econômico, porque não existe fórmula mágica para se arrecadação mais senão por meio do progresso da economia, que depende muito de medidas eficientes e eficazes nas políticas que levem ao desenvolvimento e também à recuperação da confiança no mercado, com a retomada da produção, do emprego e do consumo.
Urge que o governo tenha sensibilidade e consciência para promover reformulação das estruturas do Estado, notadamente no que diz respeito às políticas econômica, fiscal e monetária, com vistas à adequação dos sistemas tributário, de juros e de crédito à realidade das condições econômicas capazes de contribuir para a retomada da plena produtividade e do crescimento do consumo, de modo a apoiar e favorecer o desenvolvimento econômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de fevereiro de 2016

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