domingo, 21 de fevereiro de 2016

Liderança nacional sob suspeita


Na avaliação do ministro-chefe da Casa Civil, o ex-presidente da República petista está “sofrendo um ataque sistemático” e há “caça a uma liderança nacional”.
Questionado sobre a conversa entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, ocorrida na última sexta-feira quando Dilma foi a São Paulo exclusivamente para um encontro com Lula, Wagner confirmou que as denúncias contra o ex-presidente foram um dos temas centrais da conversa.
Sobre a conversa entre a presidente e seu antecessor, o ministro disse que “Obviamente se falou desse ataque sistemático que está sendo feito em torno do ex-presidente. Acho que é uma coisa clara que há uma caça a uma liderança nacional que poderia ser uma caça a um bandido. É uma caça praticamente constante”.
A presidente fez a primeira defesa pública do petista, desde que começaram as investigações sobre o questionado sítio, sob suspeita de ter sido reformado por empreiteiras e tem sido objeto de investigação pela Operação Lava-Jato.
A petista se manifestou nestes termos: “Acho que ele está sendo objeto de uma grande injustiça. Eu respeito muito a história do presidente Lula e tenho certeza de que este processo que será superado, porque acredito que o país, a América Latina e o mundo precisam de uma liderança com as características do presidente Lula”.
Segundo os investigadores da Lava-Jato, há forte suspeita de que as benfeitorias realizadas pelas empresas no sítio sejam clássica forma de pagamento por contratos obtidos na Petrobras, enquanto o ex-presidente garante não ser o dono dele, mas admite que o frequenta junto com seus familiares.
Se os petistas e fanatizados têm tanta certeza sobre a inocência do homem mais honesto do país, como ele mesmo assegurou, com muita clareza e bom português, por que tanta indignação pelo simples fato de se haver investigação para apurar fatos que eles têm absoluta certeza que não vão dar em nada?
Existe o adágio popular segundo o qual "quem não deve, não teme". Então, por que tanto temor sobre fatos que são atestados por várias testemunhas de que duas empreiteiras e a empresa do amigo do petista teriam patrocinado as reformas do sítio frequentado por ele, pelo menos, 111 vezes, entre o ano de 2012 e 11 de janeiro de 2016, segundo relatório da Presidência da República?
Convém ressaltar que a presidente da República cansou de criticar o PSDB por jogar para debaixo do tapete os casos de corrupção, porém, agora, principalmente nesse caso escabroso da reforma do sítio, não somente ela, mas os petistas estranham a caça a uma liderança nacional, como se ele fosse bandido, esquecendo eles que o custo de se passar a mão sobre a cabeça de quem quer que seja, mesmo que seja liderança nacional, funciona muito mais como a eternização da dúvida sobre a verdade quanto aos fatos denunciados, que precisam ser passados a limpo, sob o ponto de vista da verdade.
          A sociedade não pode ficar com a impressão de que o caso escandaloso teria sido jogado para debaixo do tapete, motivado exclusivamente pelo prestígio da liderança nacional, que se acha no direito de se envolver em possível caso de corrupção e ainda ficar a salvo, impune, simplesmente por consequência de pressão completamente absurda de seus correligionários, simpatizantes e fanatizados, que, em cumplicidade com os fatos delituosos não apurados, deixam de propugnar pela aplicação do salutar princípio da transparência, tão prestigiado nos países civilizados e desenvolvidos democraticamente.
Não há desconhecer que os homens públicos têm o dever constitucional e legal, no mínimo sob os princípios ético e moral, de prestar contas à sociedade sobre seus atos, enquanto estiverem na vida pública, conquanto ninguém, no Brasil, tem direito ao usufruto de qualquer forma de privilégio ou de tratamento diferenciado, ante o princípio com base constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei, em direitos e obrigações, evidentemente não importando que se tratem de ex-presidentes da República ou de favelados, com o devido respeito a estes.
Nos países civilizados e desenvolvidos democraticamente, é comum, nos casos de possíveis suspeições ou denúncia de irregularidade, haver, com regularidade, o devido processo legal da apuração pertinente, como forma saudável da prática da transparência que se impõe nas atividades públicas, tendo como princípio o aperfeiçoamento da democracia, que se engrandece com a revelação da verdade sobre os fatos da vida pública, não importando se o envolvido seja liderança nacional ou não, uma vez que há enfraquecimento dos princípios republicano e democrático quando os fatos denunciados são simplesmente ignorados, contribuindo também para a degeneração do importante conceito de moralização do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de fevereiro de 2016

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