terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A saturação da impunidade


O presidente do Senado Federal afirmou não ter havido "dinheiro público" no pagamento da pensão à filha que teve fora do casamento, a propósito de o Supremo Tribunal Federal decidir, nos próximos dias, se ele será réu por peculato (desvio de dinheiro público), falsidade ideológica e uso de documento falso no escândalo apurado, pasmem, em 2007, em que ele foi acusado de ter recebido propina da Mendes Júnior, para pagar despesas pessoais em troca de emendas parlamentares para a empreiteira.
Causa estranheza que a investigação se arrasta desde o ano de 2007, quando o senador alagoano renunciou à presidência da Câmara Alta, para salvar seu mandato, mas o presidente do Supremo já afirmou que o processo em apreço não tem pressa para ser apreciado.
Consta no processo em epígrafe provas de que a empreiteira Mendes Júnior entregava à mãe de sua filha pacotes de dinheiro vivo em nome do senador, para custear a pensão alimentícia que era da obrigação dele, em troca de emendas parlamentares apresentadas por ele, para beneficiar a empreiteira, com a criação de obras no estado de Alagoas, conforme devastador depoimento prestado pela jornalista que manteve caso amoroso com o senador.
Não obstante, na tentativa de sustentar que possuía recursos próprios para custear as questionadas despesas, o senador declarou que investia em gado e que teria obtido lucro espantoso com as transações rurais, mas laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Federal atestou que os resultados das alegadas transações eram fictícios, que foram corroboradas por investigações concluindo que os documentos apresentados pelo senador eram forjados, cujos levantamentos apontaram que ele não tinha recursos para pagar R$ 16.500,00 mensais de pensão.
Na mesma denúncia, consta que o senador também desviou recursos da verba indenizatória do Senado, para custear despesas referentes ao mandato, como aluguel de escritório, combustíveis e passagens aéreas, sendo que os recursos do Senado ou do povo eram destinados para uma locadora de carros, cujo dono foi apontado como laranja do senador.
O peemedebista teve que enfrentar outras acusações na época, como possuir rádios em nome de laranjas, beneficiar a cervejaria Schincariol, cobrar propina em ministérios comandados pelo PMDB e até espionagem contra parlamentares adversários.
Diante de tantas e graves irregularidades, o senador, ignorando por completo que ele é homem público, representante do povo, que tem a obrigação constitucional e legal de dar plena transparência sobre seus atos à sociedade, simplesmente ressaltou que o caso envolve questão pessoal que precisa ser preservada, como se ele tivesse o seu próprio mundo.
Ele disse que "Sobre essa matéria é preciso que se diga, primeiro, que quem pediu a investigação junto ao Supremo Tribunal Federal e ao Ministério Público fui eu. Eu, mais do que qualquer um, tenho total interesse que essas coisas se esclareçam. Isso não envolve dinheiro público".
Na tentativa de mudar o foco da imprensa para outros assuntos, o senador informou que não havia nenhum fato novo e que a matéria já foi fartamente discutida, tendo afirmado que "Eu já dei todas as explicações", ou seja, o parlamentar não tem o mínimo compromisso com os bestas dos brasileiros que o elegeram, como se ele tivesse chegado, moto próprio, onde está.  
A situação do senador é de tamanha insustentabilidade que ele é investigado, na Excelsa Corte de Justiça, em outros seis inquéritos, por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, objeto do escândalo de que trata a competentíssima Operação Lava-Jato.
Possivelmente, nem nas piores republiquetas, parlamentar com o currículo tão sujo, desmoralizado, maculado e indigno como do senador alagoano teria condições de presidir qualquer espécie de instituição pública, quanto mais a Câmara Alta de país com a expressividade do Brasil, porque as denúncias de irregularidades cuja culpa lhe é atribuída não condizem com a dignidade que exige para o exercício de tão relevante cargo da República, fato que demonstra o verdadeiro nível de pobreza moral do Parlamento tupiniquim.
Com nível parlamentar sem as mínimas condições de representar o povo, diante de suas condutas de indiscutível falta de credibilidade moral para exercer cargos públicos eletivos, à vista dos crimes, no caso do senador alagoano, de falsidade ideológica, pelo uso de documento falso, recebimento de propina, pelo recebimento de propina da Mendes Júnior e dos contratos da Petrobras, não se pode esperar que o país consiga, tão cedo, retomar o caminho dos ansiados desenvolvimento e moralização.
Os brasileiros precisam, com o máximo de urgência, criar vergonha na cara para eliminar da vida pública homens públicos com a índole de extrema perversidade com os princípios da ética, moralidade, honestidade e dignidade, em defesa de interesses próprios, como forma de se contribuir para a construção de um país sério e digno e para a imperiosa necessidade da imediata punição dos atos delituosos, independentemente da relevância das pessoas envolvidas, à vista do princípio constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei, em direitos e obrigações. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de fevereiro de 2016

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