domingo, 7 de fevereiro de 2016

Desprezo à indignidade

Os desdobramentos da Operação Lava-Jato contribuíram com forte ingrediente para aumentar a preocupação do Palácio do Planalto, contrariando totalmente as expectativas da articulação política do governo, que esperava entrar no ano-novo em plena calmaria, em face das conquistas políticas e jurídicas obtidas no final do ano velho, que foram contabilizadas favoravelmente nas hostes governamentais.
A tranquilidade imaginada pelo governo poderia ter sido aproveitada no recesso parlamentar para a recomposição da base aliada no Congresso Nacional, com vistas, em especial, ao enfrentamento do processo de impeachment contra a presidente do país.
Não obstante, a mirabolante estratégia do governo foi destruída no limiar no novo-ano, quando, logo nos primeiros dias de 2016, veio à tona a revelação bombástica ínsitas nas mensagens trocadas entre o ex-presidente da OAS e autoridades e políticos da confiança direta da presidente petista, fato que contribuiu para tirar a tranquilidade que reinava nos palácios da capital federal e a concentração necessária que o Executivo precisava para trabalhar e recuperar a tão ansiada governabilidade perdida no curso do ano findo.
O certo é que causou enorme desconforto no Palácio do Planalto o surgimento de mensagens entre o então presidente de empreiteira e os importantes ministros da Casa Civil e da Secretaria de Comunicação Social, ambos da confiança direta da mandatária brasileira, em cujas mensagens, a Polícia Federal detectou, por meio de investigações apropriadas, elevadíssimo grau de intimidade do empreiteiro com o poder, que tinha facilidade para assegurar livre tráfico de influência e, por meio do famoso “jeitinho” brasileiro, solucionar os problemas de sua construtora.
Não é novidade que as aproximações entre importantes políticos e empresários consistem sempre na troca de favores de ambas as partes, normalmente com a efetivação de relações nem sempre republicanas, à vista do natural envolvimento de farta propina, notadamente para as campanhas eleitorais do partido a que eles são filiados, conforme demonstra a montanha de recursos repassados no último pleito, evidenciando o desproporcional nível de promiscuidade existente o público e o privado, em indiscutível afronta aos princípios da ética, moralidade, legalidade, impessoalidade, dignidade e transparência que devem ser rigorosamente observados na administração pública.
A preocupação do governo, no caso do ex-presidente da OAS, parece ter real consistência, ante as notícias publicadas na imprensa de que ele foi considerado como espécie de verdadeiro “homem-bomba”, com possível potencial para revelar informações capazes de explodir as estruturas não somente do Palácio do Planalto, mas sim da República, ante as relações entre ele e políticos petistas, que ocupam cargos importantes na Presidência da República e vêm se passando como de reputação ilibada.
Ocorre que, logo no início do ano, alguns depoimentos do então presidente da OAS causaram o levantamento da poeira que se encontrava assentada e despertaram sentimentos com ares de especulação sobre malfeitos, deixando políticos petistas apreensivos, diante da possibilidade de revelações bombásticas e contrárias aos seus interesses políticos.
Trata-se de mais uma das façanhas heroicas de petistas, que sempre se mostram os moralistas e donos da verdade, mas morrem de medo quando algum empreiteiro, principalmente se este já tiver sido condenado por corrupção, confessar os podres protagonizados, em especial, com relação aos repasses de dinheiro oriundo de propina aos partidos políticos, para o financiamento de riquíssimas campanhas eleitorais, normalmente em troca de indecentes tráficos de influência, para a facilitação de novas contratações com a administração pública, tudo em afronta aos saudáveis princípios da moralidade, legalidade e dignidade que se exigem na administração do país.
O Brasil precisa ser passado a limpo, com urgência, e as principais medidas devem ser a eliminação da vida político-partidária de homens públicos sem caráter e sem a mínima condição de representar, com dignidade, os brasileiros, que igualmente precisam criar vergonha na cara para ter coragem e sensatez de desprezar, nos pleitos eleitorais, os políticos profissionais que fazem carreira na vida pública com o exclusivo propósito de resolver seus interesses, em detrimento das causas nacionais e detrimento dos conceitos republicano e democrático.  Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de fevereiro de 2016

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