Os desdobramentos da Operação Lava-Jato contribuíram
com forte ingrediente para aumentar a preocupação do Palácio do Planalto,
contrariando totalmente as expectativas da articulação política do governo, que
esperava entrar no ano-novo em plena calmaria, em face das conquistas políticas
e jurídicas obtidas no final do ano velho, que foram contabilizadas
favoravelmente nas hostes governamentais.
A
tranquilidade imaginada pelo governo poderia ter sido aproveitada no recesso
parlamentar para a recomposição da base aliada no Congresso Nacional, com
vistas, em especial, ao enfrentamento do processo de impeachment contra a
presidente do país.
Não
obstante, a mirabolante estratégia do governo foi destruída no limiar no
novo-ano, quando, logo nos primeiros dias de 2016, veio à tona a revelação bombástica
ínsitas nas mensagens trocadas entre o ex-presidente da OAS e autoridades e
políticos da confiança direta da presidente petista, fato que contribuiu para tirar
a tranquilidade que reinava nos palácios da capital federal e a concentração necessária
que o Executivo precisava para trabalhar e recuperar a tão ansiada
governabilidade perdida no curso do ano findo.
O
certo é que causou enorme desconforto no Palácio do Planalto o surgimento de
mensagens entre o então presidente de empreiteira e os importantes ministros da
Casa Civil e da Secretaria de Comunicação Social, ambos da confiança direta da
mandatária brasileira, em cujas mensagens, a Polícia Federal detectou, por meio
de investigações apropriadas, elevadíssimo grau de intimidade do empreiteiro
com o poder, que tinha facilidade para assegurar livre tráfico de influência e,
por meio do famoso “jeitinho” brasileiro, solucionar os problemas de sua
construtora.
Não
é novidade que as aproximações entre importantes políticos e empresários consistem
sempre na troca de favores de ambas as partes, normalmente com a efetivação de relações
nem sempre republicanas, à vista do natural envolvimento de farta propina, notadamente
para as campanhas eleitorais do partido a que eles são filiados, conforme
demonstra a montanha de recursos repassados no último pleito, evidenciando o
desproporcional nível de promiscuidade existente o público e o privado, em
indiscutível afronta aos princípios da ética, moralidade, legalidade,
impessoalidade, dignidade e transparência que devem ser rigorosamente
observados na administração pública.
A
preocupação do governo, no caso do ex-presidente da OAS, parece ter real
consistência, ante as notícias publicadas na imprensa de que ele foi
considerado como espécie de verdadeiro “homem-bomba”, com possível potencial para
revelar informações capazes de explodir as estruturas não somente do Palácio do
Planalto, mas sim da República, ante as relações entre ele e políticos
petistas, que ocupam cargos importantes na Presidência da República e vêm se
passando como de reputação ilibada.
Ocorre
que, logo no início do ano, alguns depoimentos do então presidente da OAS
causaram o levantamento da poeira que se encontrava assentada e despertaram
sentimentos com ares de especulação sobre malfeitos, deixando políticos
petistas apreensivos, diante da possibilidade de revelações bombásticas e contrárias
aos seus interesses políticos.
Trata-se
de mais uma das façanhas heroicas de petistas, que sempre se mostram os
moralistas e donos da verdade, mas morrem de medo quando algum empreiteiro, principalmente
se este já tiver sido condenado por corrupção, confessar os podres
protagonizados, em especial, com relação aos repasses de dinheiro oriundo de
propina aos partidos políticos, para o financiamento de riquíssimas campanhas
eleitorais, normalmente em troca de indecentes tráficos de influência, para a
facilitação de novas contratações com a administração pública, tudo em afronta aos
saudáveis princípios da moralidade, legalidade e dignidade que se exigem na
administração do país.
O
Brasil precisa ser passado a limpo, com urgência, e as principais medidas devem
ser a eliminação da vida político-partidária de homens públicos sem caráter e
sem a mínima condição de representar, com dignidade, os brasileiros, que
igualmente precisam criar vergonha na cara para ter coragem e sensatez de
desprezar, nos pleitos eleitorais, os políticos profissionais que fazem
carreira na vida pública com o exclusivo propósito de resolver seus interesses,
em detrimento das causas nacionais e detrimento dos conceitos republicano e
democrático. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de fevereiro de 2016
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