A presidente da República, após ser
questionada se o seu antecessor seria o alvo de investigação pela Polícia
Federal, por força da 22ª Fase da Operação Lava-Jato, fechou o semblante e
disse que "Eu me recuso a responder
pergunta desse tipo porque se levantam acusações, insinuações e não me dizem
por que, quando, como, onde e a troco do quê", em que pesem os claríssimos
objetivos perseguidos nessa fase de investigação, quais sejam, o envolvimento
de petistas da cúpula do partido em lavagem de dinheiro sujo desviado da
Petrobras.
A presidente criticou o que ela qualificou de "insinuações" contidas nos
vazamentos da investigação em apreço, tendo ficado irritada quando
foi questionada se a citada operação estava se aproximando do petista-mor
e disse que "Se alguém falasse
a respeito de qualquer um de nós aqui, que a nova fase da Lava-Jato
levanta suspeitas sobre você, e você não soubesse do que é suspeita, como é que
é suspeita e de onde vem a suspeita, você não acharia extremamente
incorreto, do ponto de vista do respeito?", perguntou ela. E
continuou, dizendo que "Quem prova -
acho que foi a partir da Revolução Francesa, se não me engano, foi com Napoleão
– a culpabilidade, ao contrário do mundo medieval, o ônus da prova é de
quem acusa.".
Para a presidente, o inquérito e as investigações
existem para apurar os fatos, e não para vazar informações ainda sob análise.
Ela concluiu afirmando que "Antes
como você provava? Eu dizia que você era culpado e você lutava comigo. Se
você perdesse, você era culpado. Então, houve um grande avanço no mundo
civilizado a partir de todas as lutas democráticas", que ela parece
não saber exatamente o que isso significa, porque democracia tem a ver,
sobretudo, com transparência, que tem sido omitida para a sociedade, à vista da
necessidade de proteger as lideranças do maior partido tupiniquim, em negação à
verdadeira luta democrática, que tem como escopo o escancarar da verdade.
A presidente do país dá a entender que os fatos
revelados pela imprensa não devem merecer credibilidade e muito menos o devido
esclarecimento, por mais graves e absurdos que eles representam de graves nos
regimes republicano e democrático, tão somente por serem objeto, segundo ela,
de meras “insinuações” vazadas por vias oblíquas, embora eles, de uma forma ou
de outra, podem ter existido de verdade e precisam ser apurados com
profundidade e responsabilidade, na forma das incumbências institucionais, para
que sejam desvendadas suas motivações, como forma da indicação da verdade,
inclusive se há envolvimento de pessoas públicas nas irregularidades sob
suspeição.
Como pessoa pública, a presidente do país não pode
deixar de se manifestar sobre fatos com possível suspeita de corrupção, mesmo
que eles digam respeito a pessoas ligadas ao seu círculo de amizade, a exemplo
do ex-presidente da República, quando a sua omissão se torna ainda mais
censurável, justamente por se permitir a ilação de que ela não quer se indispor
com o seu padrinho político, fato que prejudica o seu comportamento como a
mandatária do país que tem a obrigação constitucional não somente de cumprir e
fazer observar o ordenamento jurídico do país, mas de se posicionar
contrariamente aos fatos em dissonância com os princípios da moralidade e
legalidade, mesmo que eles ainda estejam em fase de apuração, mas que merecem
condenação enquanto não houver o veredicto sobre a sua veracidade ou não,
ocasião que, ai sim, o posicionamento da autoridade pode ser feita em
definitivo com segurança.
Em caso contrário, a omissão da presidente de se
manifestar, em qualquer circunstância, constitui péssimo exemplo no âmbito da
administração pública, por exigir que seus dirigentes sejam sempre inflexíveis
contra os fatos com suspeita de irregularidade e até mesmo quando eles ainda estejam
apenas sob suspeição de corrupção, porque os homens públicos devem se pautar em
fidelidade aos princípios da transparência, moralidade e legalidade, sob pena
de merecer, com toda justiça, o veemente repúdio da sociedade, que não suporta
mais tanta banalidade de corrupção e quanto à leniência com a impunidade, por
ela ter o condão de contribuir para a reincidência de casos prejudicais ao
interesse público. Acorda,
Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 10 de fevereiro de 2016
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