quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A indispensabilidade da investigação


Conforme documento assinado por uma delegada da Polícia Federal, o tríplex do ex-presidente da República petista, no condomínio Solaris, no Guarujá (SP), é indicado como um dos imóveis com "alto grau de suspeita" quanto à sua real titularidade.
No organograma elaborado pelos policiais, a citada unidade residencial é registrada como de propriedade da OAS, investigada por integrar o clube do bilhão de empreiteiras da Petrobras e que já teve seus executivos, incluindo o seu ex-presidente, condenados na Operação Lava-Jato, por crime de corrupção.
A Policia Federal deflagrou a 22ª fase da Lava-Jato, que tem sob suspeita, entre outras irregularidades, os imóveis do condomínio Solaris, construídos pela OAS, que possam estar sendo utilizados para camuflar o pagamento de propina do escândalo do petrolão, onde se encontra o apartamento de luxo de suposta propriedade do ex-presidente petista, que é alvo de investigação, na citada fase.
A revista Veja revelou que, depois de um pedido feito pelo ex-presidente ao então presidente da OAS, a empreiteira teria assumido a construção de prédios da cooperativa, cujo pedido teria transformado em favor e garantido a conclusão das obras nos apartamentos do ex-tesoureiro do PT, enquanto outros cooperativados foram obrigados a ingressar na Justiça e ainda aguardam para conseguir receber seus imóveis, diferentemente do que aconteceu com a cúpula do partido, que apenas se valeu da influência pessoal de importante político para receberem seus imóveis.
As atividades da OAS e o estreito relacionamento da empreiteira com integrantes do PT, mais especificamente com o ex-presidente, são objeto de investigação da Promotoria de Justiça de São Paulo, a exemplo do processo que tramita independentemente do escândalo de corrupção de que trata a Operação Lava-Jato, onde o petista será denunciado por ocultação de propriedade.
Ao que se tem conhecimento, a Bancoop - Cooperativa Habitacional de Bancários deu calote em seus associados por meio do desvio de recursos para os cofres do PT, chegando a ser quebrada em 2006, tendo deixado quase três mil famílias sem seus imóveis, mas os petistas da cúpula, como o ex-presidente não teve o menor problema, porque para os quais foram garantidos seus apartamentos, como é o caso do tríplex que se encontra no olho do furacão, causando forte turbulência nos planos políticos do petista-mor.
Com o alistamento de vários apartamentos que seriam alvo de investigação, a Polícia Federal destaca que "manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores apontam que unidades do condomínio Solaris, localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, 638, em Guarujá-SP, podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS em troca de benesses junto aos contratos da Petrobras". Entre os imóveis suspeito de irregularidade se encontra o tríplex que seria destinado ao ex-presidente, que foi identificado como a unidade 164 da torre A.
A suspeita dos procuradores de São Paulo é de uso dos imóveis em causa para pagamento de propina, lavagem de dinheiro e criação de empresas offshore para transferência deles para a cúpula do PT.
Embora a transferência do apartamento não tenha sido lavrada em nome do ex-presidente, isso não significa descartar que o imóvel não tenha sido reservado para ele, porque as luxuosas reformas não teriam sentido se o interessado não fosse alguém que estivesse visitando o imóvel, orientando e opinando quanto à colocação de elevador e de outras importantes e profundas reformas, tudo ao gosto pessoal do petista-mor e da digníssima esposa, que estiveram pessoalmente no local, demonstrando seu interesse pela conclusão das obras.
Não há a menor dúvida de que a investigação pretende chegar até o ex-presidente, para que ele esclareça os motivos pelos quais a OAS teria investido tanto nesse tríplex, com tanto esmero que certamente não seria possível se ele não se destinasse para o petista, que, estranhamente não teria gasto um centavo do seu bolso, porquanto as reformas foram bancadas pela citada empreiteira, em demonstração de enorme apreço ao futuro proprietário, fato que se caracteriza como muito estranho, em se tratando de operações no mundo capitalista, onde tudo é feito visando ao lucro.  
Embora o próprio ex-presidente, os petistas e seus simpatizantes demonstrem extremo inconformismo pelo fato de haver investigação sobre a suspeita de irregularidade envolvendo figura da maior importância para o PT, é normal que, no Estado Democrático de Direito, os fatos com denúncia de irregularidade sejam devidamente investigados, como forma de se mostrar a verdade, independentemente de quem tenha sido arrolado como envolvido, haja vista que não há ninguém acima da lei que mereça o privilégio de não poder ser investigado, mas a apreensão se torna bem maior porque o petista não pretende se curvar facilmente aos gentis cuidados da eficiência do Ministério Público de São Paulo, para comprovar a sua inocência desde o pedido para a OAS assumir as obras de construção dos apartamentos até a benevolente reforma do questionado tríplex, como forma de aperfeiçoamento dos princípios democrático e republicano.
Há toda evidência de que o tríplex em questão seria destinado normalmente ao ex-presidente petista e à sua família, pela forma especial do carinho como foram realizadas as reformas nele, incluindo a instalação, pasmem, de elevador, justamente para se harmonizar com a importância do proprietário, que o teria visitado, depois de ter sido especialmente preparado para receber a família imperial, diga-se, presidencial, a título de deferência e magnanimidade à altura da autoridade do seu proprietário, mesmo que isso implique suspeição que jamais poderia deixar de ser devidamente investigada, em nome da dignidade e da verdade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de fevereiro de 2016

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