O
ex-presidente da República petista se queixou com amigos sobre a ausência de
manifestação mais contundente da sua sucessora, em defesa dele, desde o
recrudescimento dos bombardeios contra a pessoa dele, que ainda cobra do Ministério
da Justiça medida no sentido de coibir o que ele chama de "abusos" da
Polícia Federal, para devassar sua vida nas investigações.
O
petista argumentou para dirigentes do PT, deputados e advogados que, diante do
desgaste sofrido, há necessidade de nova estratégia de comunicação, tendo como
a principal ideia o estancamento da crise, com a montagem de rede de apoio ao
ex-presidente, com o slogan "somos
todos Lula", compreendendo a participação de políticos de outros
partidos e representantes de movimentos sociais, com ações de rua e da mídia.
Na
comemoração dos 36 anos do PT, a cúpula do partido fará desagravo ao petista,
com destaque para a denúncia de que há "caçada política" contra o ex-presidente para interditar o PT,
inviabilizar o governo e derrotar a esquerda nas eleições de 2018, uma vez que
o ex-presidente é o candidato à sucessão da presidente, que se encontra na pendência
dos desdobramentos das investigações sobre os fatos que o envolvem como
principal alvo.
Informada
sobre a insatisfação do ex-presidente, a mandatária do país apenas criticou as
"insinuações" contra ele e
disse achar "extremamente incorreto"
esse tipo de vazamento, mas não quis se alongar no assunto, embora ele
esperasse algo mais contundente por meio de solidariedade da sucessora.
Por
seu turno, um integrante do Instituto Lula tentou pôr panos quentes, tendo
argumentado nestes termos: "Como é
que a Dilma vai defender o Lula se ela própria não consegue se defender?".
Ao
mesmo tempo, o petista é alvo de investigação da Operação Zelotes, que apura esquema
de "compra" de medidas provisórias no governo dele, e do Ministério
Público de São Paulo, por suspeita de ocultação de patrimônio relacionada à
compra de um tríplex e das reformas realizadas nesse imóvel, à custa de
empreiteiras de amigos.
A
Operação Lava-Jato também vasculha a regularidade de benfeitorias executadas
por empresas envolvidas no escândalo da Petrobras em um sítio frequentado pelo
ex-presidente e sua família, embora ele tenha alegado que apenas usa o sítio
para descansar, mas não é dono da propriedade.
Um
petista disse que "Se estão fazendo
isso contra um ex-presidente da República respeitado como o Lula, imagine o que
não vão fazer com a classe política?". Alegando que todos podem ter a
vida "devassada" pela
Polícia Federal, ele pediu aos deputados que saiam em defesa do ex-presidente.
O
Instituto Lula e o PT ainda não têm estratégia definida para enfrentar a atual
temporada de denúncias, mas advogados do ex-presidente, do PT e líderes
políticos vão se reunir, para decidir sobre os próximos passos da contraofensiva,
que poderiam se esforçar no sentido de comprovar a inocência do petista, com a
comprovação de elementos contundentes, ao invés de contra-atacar com pífias
argumentações que somente convencem os incrédulos, ingênuos e fanatizados, que
resistem enxergar a realidade dos fatos.
Por
sua vez, profissionais de mídia simpáticos ao PT pretendem discutir plano de
"recomposição" da imagem do ex-presidente, à vista de pesquisas
internas mostrarem que ele vem perdendo apoio em todos os segmentos sociais,
fato que inviabilizaria a sua eleição, se as eleições para presidente fossem agora.
A
Frente Brasil Popular, o Movimento dos Sem Terra, a CUT, a UNE e a Central de
Movimentos Populares se manifestaram repudiando a "forma seletiva" como estão sendo conduzidas, segundo eles, as
investigações da Operação Lava-Jato e o tratamento dado ao ex-presidente pela
imprensa, cujo texto diz que "Todos
nos sentimos atingidos com os constantes ataques feitos a Lula".
Os
integrantes das referidas entidades precisam se conscientizar de que ninguém,
mas ninguém mesmo está acima das leis do país, à luz do princípio
constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei, em direitos e
obrigações, independentemente da sua posição de mandatário do país que deve ter
o mesmo tratamento, em igualdade de condições, sem qualquer privilégio.
No
caso específico das acusações que estão sendo feitas ao ex-presidente, elas
ganham ainda mais destaque porque os fatos precisam ser esclarecidos,
justamente em razão da relevância do homem público envolvido, que precisa ter a
dignidade de se defender sem precisar recorrer a movimentos sociais para abafar
os escândalos e jogá-los para debaixo do tapete, medida, aliás, tão criticada
pela presidente do país, que agora não hesita em defender a imagem do
ex-presidente, mesmo antes de se conhecer a veracidade sobre os fatos
denunciados, que são graves e precisam ser investigados na mesma forma como se
o envolvido integrasse partido da oposição, em que os petistas e simpatizantes
fariam o maior esforço para que os fatos fossem devidamente esmiuçados até a
medula.
Causa
perplexidade se perceber que essas mesmas entidades estariam fazendo o maior
rebuliço caso o político envolvido nas mesmas condições do petista, porque ele
seria certamente massacrado, execrado, enquanto não fossem investigados os
fatos denunciados, mas o ex-presidente é defendido mesmo antes do resultado das
imprescindíveis apurações.
É realmente muito preocupante a situação do petista
ex-presidente da República, por ter se metido, por própria iniciativa, em
verdadeiro imbróglio, uma vez que os fatos relacionados com o tríplex e o sítio
são de extremas gravidade e desmoralização para envolvê-lo como beneficiário,
em princípio, das reformas realizadas, que, de sã consciência, jamais seriam
patrocinadas com tanta generosidade por empreiteiras, caso não tivesse o
envolvimento de homem público com a expressividade de um ex-presidente de
reconhecimento e reputação nacionais e internacionais.
A situação se agiganta com maior gravidade quando
envolve a figura de quem se julga a pessoa mais honesta do país, conforme foi
recentemente ressaltado, com muita ênfase, pelo ex-presidente, em exaltação que
demonstra o fino da prepotência e da ousadia, como se os fatos levantados com
possível envolvimento da influência dele sequer merecessem investigação, dando
a entender que ele está acima de tudo e de todos, inclusive do ordenamento
jurídico do país, quando ele é brasileiro com os mesmos direitos e as mesmas obrigações
dos cidadãos do país, como assim preceitua princípio constitucional.
Nessas condições, se for confirmado que realmente
houve as magnânimas e benevolentes reformas tão somente em razão para
beneficiar o ex-presidente petista, a reputação dele será completamente destruída
e ele passará para a história como o homem público mais honesto do Brasil que
foi agraciado com magníficas reformas em imóveis que sequer estão registrados
como sendo da sua propriedade, embora os fatos mostrem claramente que as
questionadas reformas jamais seriam executadas se o beneficiário não tivesse o
prestígio e a autoridade de um ex-presidente do país.
Convém lembrar que, nos países civilizados e mesmo
com pouca evolução, as denúncias sobre fatos irregulares são investigadas sem
alarde e sem o menor obstáculo, em que as autoridades envolvidas são submetidas
normalmente aos preceitos do ordenamento jurídico e dos rituais apuratórios pertinentes,
sem sequer imaginarem se livrar das acusações na base do grito ou por meio de
recursos que não sejam exclusivamente com a comprovação de elementos,
documentos e provas contestando os fatos inquinados de irregulares, em evidente
demonstração da dignidade ínsita dos homens públicos, que têm o dever de
prestar contas sobre seus atos, em estrita harmonia com os princípios da
legalidade, honorabilidade e transparência.
É evidente que somente nas republiquetas, onde
prevalecem indevidos benefícios e privilégios aos homens públicos, por se
sentirem que estão acima de tudo e das leis do país, as autoridades preferem se
defender de acusações e denúncias sobre fatos irregulares a elas atribuídas
apenas por meio de artifícios destituídos de consistência, como recorrer aos
auxílios da sociedade civil organizada, das amizades e, enfim, defenderem-se
simplesmente no grito, quando a única forma correta de defesa é atrair os fatos
para si e se defenderem com o altruísmo da sua dignidade, expondo às claras os documentos
probantes da sua inocência, porque quem não deve não teme e nem precisa
recorrer a quem não tem nada com os fatos questionados, porque ele poderá ser
considerado cúmplice com os fatos irregulares e passará a ser igualmente
desacreditado pela sociedade, por ter empenhado a sua palavra a quem não teve a
dignidade de assumir suas culpas indefensáveis. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de fevereiro de 2016
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