sábado, 13 de fevereiro de 2016

Quem não deve, não teme!


O ex-presidente da República petista se queixou com amigos sobre a ausência de manifestação mais contundente da sua sucessora, em defesa dele, desde o recrudescimento dos bombardeios contra a pessoa dele, que ainda cobra do Ministério da Justiça medida no sentido de coibir o que ele chama de "abusos" da Polícia Federal, para devassar sua vida nas investigações.
O petista argumentou para dirigentes do PT, deputados e advogados que, diante do desgaste sofrido, há necessidade de nova estratégia de comunicação, tendo como a principal ideia o estancamento da crise, com a montagem de rede de apoio ao ex-presidente, com o slogan "somos todos Lula", compreendendo a participação de políticos de outros partidos e representantes de movimentos sociais, com ações de rua e da mídia.
Na comemoração dos 36 anos do PT, a cúpula do partido fará desagravo ao petista, com destaque para a denúncia de que há "caçada política" contra o ex-presidente para interditar o PT, inviabilizar o governo e derrotar a esquerda nas eleições de 2018, uma vez que o ex-presidente é o candidato à sucessão da presidente, que se encontra na pendência dos desdobramentos das investigações sobre os fatos que o envolvem como principal alvo.
Informada sobre a insatisfação do ex-presidente, a mandatária do país apenas criticou as "insinuações" contra ele e disse achar "extremamente incorreto" esse tipo de vazamento, mas não quis se alongar no assunto, embora ele esperasse algo mais contundente por meio de solidariedade da sucessora.
Por seu turno, um integrante do Instituto Lula tentou pôr panos quentes, tendo argumentado nestes termos: "Como é que a Dilma vai defender o Lula se ela própria não consegue se defender?".
Ao mesmo tempo, o petista é alvo de investigação da Operação Zelotes, que apura esquema de "compra" de medidas provisórias no governo dele, e do Ministério Público de São Paulo, por suspeita de ocultação de patrimônio relacionada à compra de um tríplex e das reformas realizadas nesse imóvel, à custa de empreiteiras de amigos.
A Operação Lava-Jato também vasculha a regularidade de benfeitorias executadas por empresas envolvidas no escândalo da Petrobras em um sítio frequentado pelo ex-presidente e sua família, embora ele tenha alegado que apenas usa o sítio para descansar, mas não é dono da propriedade.
Um petista disse que "Se estão fazendo isso contra um ex-presidente da República respeitado como o Lula, imagine o que não vão fazer com a classe política?". Alegando que todos podem ter a vida "devassada" pela Polícia Federal, ele pediu aos deputados que saiam em defesa do ex-presidente.
O Instituto Lula e o PT ainda não têm estratégia definida para enfrentar a atual temporada de denúncias, mas advogados do ex-presidente, do PT e líderes políticos vão se reunir, para decidir sobre os próximos passos da contraofensiva, que poderiam se esforçar no sentido de comprovar a inocência do petista, com a comprovação de elementos contundentes, ao invés de contra-atacar com pífias argumentações que somente convencem os incrédulos, ingênuos e fanatizados, que resistem enxergar a realidade dos fatos.
          Por sua vez, profissionais de mídia simpáticos ao PT pretendem discutir plano de "recomposição" da imagem do ex-presidente, à vista de pesquisas internas mostrarem que ele vem perdendo apoio em todos os segmentos sociais, fato que inviabilizaria a sua eleição, se as eleições para presidente fossem agora.
A Frente Brasil Popular, o Movimento dos Sem Terra, a CUT, a UNE e a Central de Movimentos Populares se manifestaram repudiando a "forma seletiva" como estão sendo conduzidas, segundo eles, as investigações da Operação Lava-Jato e o tratamento dado ao ex-presidente pela imprensa, cujo texto diz que "Todos nos sentimos atingidos com os constantes ataques feitos a Lula".
Os integrantes das referidas entidades precisam se conscientizar de que ninguém, mas ninguém mesmo está acima das leis do país, à luz do princípio constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei, em direitos e obrigações, independentemente da sua posição de mandatário do país que deve ter o mesmo tratamento, em igualdade de condições, sem qualquer privilégio.
No caso específico das acusações que estão sendo feitas ao ex-presidente, elas ganham ainda mais destaque porque os fatos precisam ser esclarecidos, justamente em razão da relevância do homem público envolvido, que precisa ter a dignidade de se defender sem precisar recorrer a movimentos sociais para abafar os escândalos e jogá-los para debaixo do tapete, medida, aliás, tão criticada pela presidente do país, que agora não hesita em defender a imagem do ex-presidente, mesmo antes de se conhecer a veracidade sobre os fatos denunciados, que são graves e precisam ser investigados na mesma forma como se o envolvido integrasse partido da oposição, em que os petistas e simpatizantes fariam o maior esforço para que os fatos fossem devidamente esmiuçados até a medula.
Causa perplexidade se perceber que essas mesmas entidades estariam fazendo o maior rebuliço caso o político envolvido nas mesmas condições do petista, porque ele seria certamente massacrado, execrado, enquanto não fossem investigados os fatos denunciados, mas o ex-presidente é defendido mesmo antes do resultado das imprescindíveis apurações.  
É realmente muito preocupante a situação do petista ex-presidente da República, por ter se metido, por própria iniciativa, em verdadeiro imbróglio, uma vez que os fatos relacionados com o tríplex e o sítio são de extremas gravidade e desmoralização para envolvê-lo como beneficiário, em princípio, das reformas realizadas, que, de sã consciência, jamais seriam patrocinadas com tanta generosidade por empreiteiras, caso não tivesse o envolvimento de homem público com a expressividade de um ex-presidente de reconhecimento e reputação nacionais e internacionais.
A situação se agiganta com maior gravidade quando envolve a figura de quem se julga a pessoa mais honesta do país, conforme foi recentemente ressaltado, com muita ênfase, pelo ex-presidente, em exaltação que demonstra o fino da prepotência e da ousadia, como se os fatos levantados com possível envolvimento da influência dele sequer merecessem investigação, dando a entender que ele está acima de tudo e de todos, inclusive do ordenamento jurídico do país, quando ele é brasileiro com os mesmos direitos e as mesmas obrigações dos cidadãos do país, como assim preceitua princípio constitucional.
Nessas condições, se for confirmado que realmente houve as magnânimas e benevolentes reformas tão somente em razão para beneficiar o ex-presidente petista, a reputação dele será completamente destruída e ele passará para a história como o homem público mais honesto do Brasil que foi agraciado com magníficas reformas em imóveis que sequer estão registrados como sendo da sua propriedade, embora os fatos mostrem claramente que as questionadas reformas jamais seriam executadas se o beneficiário não tivesse o prestígio e a autoridade de um ex-presidente do país.
Convém lembrar que, nos países civilizados e mesmo com pouca evolução, as denúncias sobre fatos irregulares são investigadas sem alarde e sem o menor obstáculo, em que as autoridades envolvidas são submetidas normalmente aos preceitos do ordenamento jurídico e dos rituais apuratórios pertinentes, sem sequer imaginarem se livrar das acusações na base do grito ou por meio de recursos que não sejam exclusivamente com a comprovação de elementos, documentos e provas contestando os fatos inquinados de irregulares, em evidente demonstração da dignidade ínsita dos homens públicos, que têm o dever de prestar contas sobre seus atos, em estrita harmonia com os princípios da legalidade, honorabilidade e transparência.
É evidente que somente nas republiquetas, onde prevalecem indevidos benefícios e privilégios aos homens públicos, por se sentirem que estão acima de tudo e das leis do país, as autoridades preferem se defender de acusações e denúncias sobre fatos irregulares a elas atribuídas apenas por meio de artifícios destituídos de consistência, como recorrer aos auxílios da sociedade civil organizada, das amizades e, enfim, defenderem-se simplesmente no grito, quando a única forma correta de defesa é atrair os fatos para si e se defenderem com o altruísmo da sua dignidade, expondo às claras os documentos probantes da sua inocência, porque quem não deve não teme e nem precisa recorrer a quem não tem nada com os fatos questionados, porque ele poderá ser considerado cúmplice com os fatos irregulares e passará a ser igualmente desacreditado pela sociedade, por ter empenhado a sua palavra a quem não teve a dignidade de assumir suas culpas indefensáveis. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de fevereiro de 2016

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