quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Promiscuidade em potencial


Em pouco menos de dois anos, o ex-presidente da República petista teve vertiginoso crescimento de rejeição, partindo de 17% para 47%, em evidente queda de prestígio, conforme demonstra pesquisa do Datafolha, enquanto o percentual dos brasileiros que o consideravam o melhor presidente do país despencou de 55% para 39%.
Por seu turno, as intenções de voto, com vistas à disputa de 2018, atingiram índices baixíssimos de 22%, situando nove pontos atrás do principal candidato tucano, o que significa enorme perda do prestígio conquistado no seu governo.
Segundo os especialistas políticos, o momento de evidente desgaste político do petista poderia ensejar a saída honrosa dele da vida pública, que não deixa de ser tentadora, mas há quem entenda diferentemente, por achar que isso seja erro que poderia prejudicar o próprio partido, decretando a morte da lenda do PT, que também não subsistiria sem ele, que tem sido o todo-poderoso que ainda o mantém atuando, mesmo mergulhado em sucessivos escândalos, todos sob a índole da corrupção, a exemplo do mensalão e do petrolão, todos com a marca indelével da desmoralização e da falta de ética na administração pública, em prejuízo dos interesses da população, como no caso das atuais investigações sobre o próprio símbolo do partido, que tem passado por fortes pressões, a ponto de recorrer à presidente do país e a entidades e organizações sociais, para agirem no sentido de socorrê-lo contra o que ele chama de massacres protagonizados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, como se ele fosse incapaz e impotente de se defender das acusações de ter se beneficiado de reformas irregulares em imóveis vinculados ou sob o usufruto atual ou futuro, conforme evidenciam de forma robusta provas testemunhais e documentais.
Não obstante, a cúpula do PT insiste que o ex-presidente será seu candidato em 2018, não importando o resultado das investigações, mesmo que isso sirva somente para que ele possa usar os palcos de campanha para se defender e contribuir para salvar o seu partido da extinção, que se encontra ameaçado de acabar, caso ele desista da luta política.
Não há a menor dúvida de que a presente situação é gravíssima, porque há regra não escrita no PT de que os pecados cometidos por petistas em nome dos interesses da agremiação são toleráveis, compreensíveis e aceitáveis, como aconteceram nos casos do mensalão e do petrolão, no que tange aos crimes praticados por petistas, que jamais foram penalizados pelo partido, mas é muito diferente desse magnânimo entendimento quando os casos de corrupção são cometidos em nome pessoal, como é o caso do ex-ministro da Casa Civil, que se encontra preso e ainda tem o desprezo e o isolamento do PT, diante das revelações de reformas em casas de sua propriedade por lobistas.
          O ex-presidente se aproxima, de forma perigosa, do limiar de cair em desgraça, à vista das fortes evidências que se avolumam de que empreiteiras objeto de investigação pela Operação Lava-Jato teriam reformado o tríplex e o sítio, principalmente este, que ele usa como sendo seu, embora esteja registrado em nome de pessoas sócias de seu filho mais velho, numa triangulação supercarregada de muita suspeição, quando envolve a figura do homem mais honesto do país, dita por ele próprio.
É evidente que o ex-presidente ainda tem bastante cacife no âmbito de seu partido, que ainda mantém seu status mítico dentro do PT, mas ele precisa, com urgência, comprovar sua inocência com relação à carrada de denúncias que está sob os holofotes da Polícia Federal e do Ministério Público, que são bastante incompatíveis com a dignidade ínsita dos homens públicos, principalmente dele, que já foi presidente do país, por dois mandatos, e teve aprovação recorde quando se despediu do Palácio do Planalto.
Em caso contrário, se ele não conseguir se salvar dessa avalanche de denúncias que pesa sobre os ombros dele, é evidente que o prestígio dele poderá se afundar de vez, salvo de seus eternos simpatizantes insistirem em endeusar como sendo o verdadeiro deus, mesmo depois da comprovação das práticas de corrupção, que não condizem com a dignidade que se exige nas atividades político-partidárias.
Independentemente de se tratar de importante homem público, o ex-presidente precisa ser investigado sim, diante de muitos fatos irregulares cuja responsabilidade é atribuída a ele, que seriam capazes de macular por completo a sua reputação, mesmo diante do seu direito constitucional da defesa prévia e do contraditório, como forma de demonstração da inculpabilidade, mas o petista apenas alega que é vítima em potencial, de ter sido acusado sem prova material, embora existam testemunhas e vasta documentação sobre as reformas, às custas de empreiteiras, no tríplex, que seria reformado para ele, e no sítio, onde ele frequenta com a sua família, conforme relatório da Presidência da República atestando que ele esteve nesse local por 111 vezes, desde 2012 até 11 de janeiro de 2016.
Os fatos vindos à lume, por sua gravidade e o seu altíssimo grau de promiscuidade envolvendo empreiteiras e homem público importante, precisam ser apurados com profundidade e abrangência, para se aquilatar a verdade sobre as denúncias de que se tratam, porque, ao contrário, haveria injustificável contribuição ao abominável princípio da impunidade, que tem sido fator de incentivo à corrupção, que não pode continuar prejudicando o patrimônio dos brasileiros e a reputação dos homens públicos, que devem ser rigorosamente fiéis aos princípios da ética, moralidade, legalidade, dignidade e transparência. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de fevereiro de 2016

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