quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Estratégia errada?


Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o governador do Ceará criticou o ex-governador do Ceará e último candidato à Presidência da República pelo PDT, por entender que este adota estratégia errada de ataques frequentes ao PT.  
O governador acha que “Nenhuma candidatura se constituirá à esquerda, centro-esquerda, se não tiver o PT como aliado. O PT demonstrou uma força extraordinária na última eleição. Fernando Haddad teve 47 milhões de votos, o partido elegeu a maior bancada federal, a maioria dos governadores. Tem uma base social muito forte. O Ciro sempre foi muito aliado, Lula não pode mais ser candidato. Defendi lá atrás que Ciro fosse candidato, defendi a chapa Ciro-Haddad, fui um dos primeiros. Era o momento de se unir em torno de um projeto.”. 
O governador reconhece que há abalo na relação entre o PT e o ex-governador, mas não com relação a ele, porque ela “é muito sólida com base em projeto no qual a gente acredita para nosso Estado. Posso ter divergências quanto ao comportamento do Ciro, acho que a estratégia dele está errada, mas respeito a posição.”.
O governador cearense disse que tem até sido criticado internamente por essa visão, “mas como quero conquistar o Brasil? Precisa ter uma mudança, principalmente na região Sul-Sudeste, onde se criou um antipetismo muito forte. O PT deve se renovar, se reinventar em alguns aspectos para conquistar essa parcela da população que se decepcionou, que não acredita mais. O partido deve mostrar que é possível, que tem coisas muito boas e importantes que já fez e pode fazer.
O governador entende que “o partido deveria ter defendido proposta de reforma da Previdência que defendesse os mais pobres em vez de apenas se colocar contra o projeto do governo.”.
Na verdade, erra mesmo é a visão do governador que desaprova as atitudes do político do PDT, considerando que este vem criticando o PT certamente com base no tratamento nada cordial dispensado a ele pelo cacique-mor do partido, na última eleição, que orientou medidas extremamente contrárias aos interesse do pedetista, com vistas a afastá-lo para longe do PT, tirando todas as possibilidades de alianças entre ambos, que era o único objetivo dele para se ganhar a eleição.
É evidente que, por estratégia política, depois de ser exortado das proximidades do PT, o ex-governador  pedetista também aproveitou para explorar as atividades criminosas representadas pelos escândalos dos mensalão e petrolão, atribuindo àquele partido a autoria de muitas falcatruas que nunca foram assumidas pelos políticos envolvidos e, de resto, pelos demais integrantes dele, além de seus seguidores, como se nada tivesse acontecido de errado contra os princípios da moralidade e da dignidade, com relação à gestão de recursos públicos, à luz das investigações levadas a efeito pela Operação Lava-Jato, que demonstrou os verdadeiros estragos e rombos causados aos cofres da principal petrolífera brasileira, em especial.
Na verdade, é preciso que se diga que o pedetista somente vem repisando as chagas petistas depois que recebeu tratamento de desprezo por parte do todo-poderoso, nas últimas eleições, quando, até então, nenhuma palavra de sinceridade sobre as tramoias de seus agora desafetos políticos era pronunciada com tanta ênfase, o que bem demonstra a sua índole política, ou seja, se as suas pretensões políticas tivessem sido atendidas pelo cacique do PT, jamais ele passaria a ser tão crítico e ácido como vem sendo ultimamente, o que bem demonstra a personalidade da maioria dos políticos brasileiros, que não têm o menor escrúpulo para aderir ao bloco dos aproveitadores e dos defensores de interesses pessoais e, secundariamente, partidários.
Não há a menor dúvida de que é verdade que, no Brasil, nenhuma candidatura de esquerda será vitoriosa sem a aliança com o PT, conforme é fato a sua estrutura eleitoral, principalmente no Nordeste, onde a sua consolidação política tem sido notória.
Agora, diante disso, será se vale a pena deixar de dizer e defender a verdade sobre os malfeitos daquele partido somente para se ganhar eleição, quando essa forma de se negar a verdade sobre os fatos contradiz o princípio e a finalidade das atividades políticas, o que valeria deixar de se criticar o que foi errado somente para se dar bem com os partidos de esquerda, para se ganhar a eleição, mesmo que o passado de um partido o condena exatamente por maus-tratos com a coisa pública?
Pobre país este Brasil, que ainda tem político com mentalidade extremamente fragilizada, que prefere se acomodar e se aconchegar em passado nebuloso, tendo a certeza que pertence ao partido maculado por fatos degradantes, mas por conveniência política, é preferível se manter nos braços dessa agremiação que, apesar dos pesares, tem condições de oferecer vitória tranquila, diante da sua força extraordinária, conforme ficou demonstrada na última eleição, em que eleitores desinformados pouco se importam com os princípios da ética e da moralidade, nas atividades políticas, continuam acreditando piamente nas bondades de partido que foi capaz de conduzir o Brasil à ruína e ao abismo, diante dos fatos investigados pela Operação Lava-Jato, que são incontestáveis.
Não passa de pura hipocrisia o governador imaginar que o PT iria defender qualquer matéria originaria do governo, quando ele se mostrou, desde a origem, radicalmente contrário à ideia da reforma da Previdência, sem sequer oferecer sugestão senão para o seu arquivamento, em clara demonstração de nenhum interesse nem disposição para contribuir com alguma emenda ao seu texto, em que pese se tratar do partido que se diz defensor dos trabalhadores, pelo menos é o que consta da sigla.
Causa perplexidade o político cearense dizer que ele defende autocrítica sobre os erros cometidos na economia e na política pelo PT, sem mencionar, como devia, as ilicitudes pertinentes aos escândalos dos mensalão e petrolão, à vista da caracterização, devidamente evidenciada, do maior desvio de dinheiro público da história republicana, que não pode ficar sem a devida justificativa perante a sociedade, em termos de assunção das responsabilidades pessoais e partidárias, pouco importando a ideologia da população, porque os recursos subtraídos pertencem ao partido único dos brasileiros, ou seja, a nação.
A bem da verdade, o político pedetista presta importante contribuição à nação e aos brasileiros, ao criticar e mostrar os maus-feitos de partido que foi capaz de protagonizar os maiores escândalos da história republicana, ao se apoderar, de maneira irregular, de recursos públicos, para, entre outros fins nada republicanos, financiar milionárias e sujas campanhas eleitorais, tendo por propósito a sua manutenção no poder e a dominação absoluta das classes política e social.
Quiçá que outros políticos, em especial da nova geração, também se conscientizem de que é preciso sim denunciar, com veemência, não somente os homens públicos, mas também os partidos políticos que demonstraram a sua verdadeira índole com relação à gestão de recursos públicos, de modo que os eleitores possam ser mais bem esclarecidos e informados quanto à imperiosa necessidade da lisura no exercício dos cargos públicos e principalmente da eliminação da vida pública daqueles que tenham implicações com denúncias sobre atos contrários aos princípios republicano e democrático.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 24 de outubro de 2019 

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