sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O preço da imaturidade


Integrantes de partidos de oposição que participam do grupo parlamentar que analisa o pacote anticrime enviado pelo governo ao Congresso Nacional ingressaram com ação no Tribunal de Contas da União contra a campanha publicitária bancada pelo Palácio do Planalto, na tentativa de sensibilizar a sociedade em apoiar medida considerada extremamente essencial ao combate à criminalidade.  
Na representação ao TCU, que fora impetrada contra o presidente da República e o titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, um deputado do PC do B-SP,  um do PT-SP,  um do PSOL-RJ e um senador da Rede-AP ressaltaram que o pacote anticrime é ainda projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados e não pode ser confundido com política pública ou programa de governo em andamento, a ponto de justificar campanha publicitária sobre as medidas propostas pelo governo.
O referido texto ressalta que, "Conforme tem sido noticiado pelos veículos de imprensa, os integrantes do referido grupo de trabalho têm aprovado alterações ao texto original do projeto de lei encaminhado pelo Governo Federal, com vistas à sua adequação ao que dispõe a Constituição, à jurisprudência do Supremo em matéria de direitos e garantias fundamentais, bem como em atenção às recomendações de dezenas de especialistas".
Mais adiante, a representação afirma, verbis: "À toda evidência, a extemporânea e milionária campanha publicitária já iniciada em torno das medidas propostas no famigerado 'Pacote Anticrime', tem como motivação dissimulada constranger os deputados e deputadas a não acatarem as contribuições que ainda serão oferecidas pelo grupo de trabalho à deliberação do plenário".
A representação assinala ainda que, segundo o jornal O Globo, a campanha publicitária tem custo estimado em R$ 10 milhões.
Embora o projeto de lei anticrime tenha sido encaminhado ao Congresso logo no início do governo, a sua tramitação tem sido em velocidade comparável aos passos da tartaruga, o que muito bem demonstra a quase total falta de interesse dos parlamentares na aprovação de medidas de interesse capital para a população, mas certamente não é o caso de quem tem a incumbência constitucional de legislar para resolver os gravíssimos problemas de segurança pública, haja vista que a insegurança sempre tem sido verdadeira desgraça para os brasileiros, mas eles têm a proteção da Polícia Legislativa, exatamente paga pelos bestas dos contribuintes.
Na verdade, a depender da extrema má vontade dos parlamentares, esse projeto jamais será aprovado e, se for, absolutamente nada que tenha sido sugerido pelo governo será aproveitado, porque já se conhece muito bem a índole legiferante de parlamentares, que sempre aproveitam a iniciativa de projeto bem construído e com o melhor dos arcabouços jurídicos, para aprová-lo na forma de monstrinho, tudo absolutamente em conformidade com os seus interesses, a exemplo do que aconteceu com o projeto das dez medidas anticorrupção, que foram simplesmente transformadas na lei de abuso de autoridade, ou seja, o projeto que seria para combater a criminalidade se transformou em medida de proteção dos congressistas, algo simplesmente monstruoso, em termos de mentalidade anticrime, que não passa de verdadeira aberração oportunista.
Nesse ponto, em que pese não se saber exatamente o conteúdo constante do texto publicitário patrocinado pelo governo, parece haver inaceitável precipitação na divulgação sobre algo que pende ainda de aprovação do Congresso, que tem várias alternativas sobre a análise que certamente se estenderá por dias, meses e anos a fio, sem o menor interesse em aprovar medidas contra si mesmo, podendo ainda aprová-las parcialmente, aproveitando algumas ideias completamente transfiguradas e sem a menor importância, em termos de combate a coisa alguma, e simplesmente aproveitar o ensejo para transformar o projeto anticrime em algo que reflita o perfil dos parlamentares tupiniquins, ou seja, o que visava combater a criminalidade passará a ser norma de proteção da bandidagem e ainda sem possibilidade de veto, porque, se houver, será vetado, posteriormente.
Não se sabe se a publicidade pretendida pelo governo tem a finalidade de constranger os parlamentares, o que não faz a menor diferença se for realmente isso, porque com ou sem pressão, eles vão aprovar ou desaprovar a legislação que se enquadre ao seu interesse e não visando à defesa da sociedade, porque não adiante estrebuchar na tentativa de mudar o imutável, eis que os ingênuos eleitores vão garantir a reeleição de todos eles, não importando o que eles façam ou deixem de fazer.
O certo mesmo é que, com essa campanha publicitária milionária, infrutífera, extemporânea e infantil, o governo joga fora, pelos ralos da incompetência e da irresponsabilidade, a bagatela de dez milhões de reais, que poderiam ser aplicados, com proveito, em saúde, educação, estradas, segurança pública ou outra atividade em benefício da sociedade, porque não será por meio de companha publicitária apelativa que os parlamentares vão se conscientizar sobre o que realmente significa trabalhar em defesa do interesse público.    
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 4 de outubro de 2019

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