segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A plena desmoralização da sociedade


Na atualidade, virou moda a onda de ataques cerrados e fogo cruzado contra os trabalhos da Operação Lava-Jato, visando exatamente ao estabelecimento definitivo da excrescência do império da impunidade que vigia anteriormente à sua implantação.
Tem sido explícita a ousada operação de revanchismo contra as ações exitosas dessa operação, por ter conseguido, como jamais havia acontecido na história republicana brasileira, punir e colocar atrás das grades poderosos e influentes homens públicos, executivos, empreiteiros, lobistas, doleiros, detentores de fortuna, muitas das quais subtraídas de cofres públicos, aos quais a Justiça se distanciavam por razões nunca justificada à sociedade.
Ou seja, a Lava-Jato foi o marco inicial de verdadeiro combate à criminalidade e à impunidade aos tubarões que dominavam o Brasil, de longa data, em termos políticos e econômicos, e isso se transformou em extraordinário abalo às estruturas do gigantesco poder que predominava no submundo da criminalidade, exatamente porque foram quebrados os fortes elos existentes em poder dos maus e aproveitadores políticos e desavergonhados empresários e seus asseclas.
Por último, ministros do Suprema Tribunal Federal resolveram, por maioria, criar absurdo e extravagante princípio pró-réu, praticamente alterando a legislação penal, mediante decisão com absurda força de lei, exclusivamente para beneficiar, sem o menor escrúpulo, a vida de criminosos que se apoderaram de recursos dos brasileiros, em detrimento dos princípios da moralidade e do interesse público.
Os ministros considerados “garantistas” se esforçaram na interpretação à margem da lei, uma ridícula espécie de sacada do colete, para eleger como regra jurídica que “o delatado tem o direito a falar por último no processo em que figura como réu, depois de todas as arguições da acusação, incluindo os pronunciamentos de eventuais delatores.”;
Ou seja, é consabido que não podem ser adicionados fatos novos nessa etapa do julgamento, o que vale dizer que houve a criação de verdadeiro casuísmo extemporâneo, com capacidade para pôr em risco a perda de, ao menos, 143 casos já examinados e julgados no âmbito da Operação  Lava-Jato, cujas sentenças estão estribadas em evidentes e robustas provas de infração penal, que poderiam ser anulados por vontade de ministros do Supremo, sem a menor plausibilidade.
Para que o estrago não fosse ainda mais grave e que a decisão não seja ainda mais vergonhosa e esdrúxula, ficou decidido que o benefício alcançará apenas os casos daqueles que, na primeira instância, tenham reclamado de não terem sido ouvidos por último e cuja defesa comprove que houve prejuízo concreto ao cliente, em razão desse fato, o que é menos mal, mas isso, por si só, não suaviza em nada a absurda e violenta atitude de ministros que se julgam os donos da verdade e da razão, diante dessa atrocidade ao ordenamento jurídico.
Trata-se, na verdade, de filigrana jurídica que pode contribuir para colocar por terra o importante trabalho da força-tarefa da Lava-Jato, o que poderá levar ao descrédito da Justiça junto à sociedade, diante de injustificável interpretação soberana e irrecorrível, sem a menor plausibilidade para a sua implantação senão beneficiar generosamente o poder da criminalidade e da organização que sempre imperou no Brasil, que certamente há de agradecer aos ministros que se consideram ilustrados da Suprema Corte brasileira, que apenas se vira de costas para a sociedade, com solene gesto popular de banana para ela, a quem se transfere o ônus da irresponsabilidade pela criação dessa excrescente interpretativa jurídica.
À toda evidência, o estabelecimento de tese com capacidade para anulação de processos já sentenciados, o Supremo demonstra, com absoluta clareza, que quer impor a sua autoridade máxima do Judiciário, demonstração truculenta de pôr limites aos trabalhos da Operação Lava-Jato, talvez por ter conseguido destruir organizações criminosas e desbaratar a maior quadrilha de ladrões com poder e influência já conhecida na história brasileira, enquanto os processos pertinentes à Lava-Jato, da alçada dele, permanecem no aguardo de julgamento ou, quiçá, de prescrição, porque, depois de mais de cinco anos, somente um processo, por milagre, foi julgado.
A verdade é que o Supremo, a par de somente ter julgado um processo referente à Lava-Jato, eis que é da sua competência o julgamento das ações pertinentes aos investigados com foro privilegiado, no caso, os congressistas investigados, vem discordando, não se sabe por qual motivo, do claro protagonismo da força-tarefa dessa operação, a despeito dos extraordinários e invejáveis resultados por ela produzidos, tendo demonstrado, na prática e de forma efetiva, a mais bem sucedida cruzada em combate aos esquemas de corrupção do mundo, com mais de centena de julgados, com determinação à prisão e à devolução de dinheiro roubado de cofres públicos.
A história mostra que, antes da Lava-Jato, a maior e bem sucedida operação aconteceu na Itália, por meio da famosa operação “Mãos Limpas”, que obtivera excelentes resultados em perseguição aos criminosos mafiosos daquele país. 
Na realidade, a experiência italiana naufragou exatamente por força de injunções e influências políticas, que praticamente anularam todos os trabalhos desenvolvidos pelos integrantes daquela importante operação, que conseguiu abalar as estruturas de poderosas organizações criminosos.
Mutatis mutandis, teme-se que a Operação Lava-Jato não passe por processo de desmoronamento idêntico, diante dos atos visivelmente destinados a corroer as suas estruturas tão bem consolidadas ao longo do tempo, que não pode passar pelo terrível pelo risco de extinção, pondo por terra brilhantes e importantes exemplos de moralização jamais vistos no Brasil.
O certo é que, além do jogo pesado que parte do Supremo, há em curso ações muito bem articuladas contra a Operação Lava-Jato, arquitetadas por meio de manobras e movimentos por parte de interesses escusos, na tentativa de desmoralizar e desacreditar o seu excelente trabalho em prol da moralização da administração pública, efetivo combate à corrupção e à impunidade.
Outra frente de combate contra a Operação Lava-Jato tem vindo por meio de vazamento de conversas publicadas, de forma ilícitas, pelo site Intercept Brasil, com o holofote direcionado para as estrelas maiores dessa operação, na pessoal do então juiz e hoje ministro da Justiça e do procurador-chefe dos procuradores da operação, que foram gravados em conversas que rendem as mais diversas críticas aos diálogos considerados nada republicanos e fora da linha de conduta do devido processo legal, os quais, na realidade, não passam de conversas hackeadas, que, no fundo, não indicam qualquer ilegalidade comprometedora sobre a culpabilidade dos envolvidos, sugerindo, possivelmente,  no máximo, o cometimento de falhas morais, sem qualquer interferência, repita-se, na materialidade da culpa dos envolvidos, o que é bem diferente do ocorrido efetivamente. 
O sentimento que se tem é que o objetivo maior dos perseguidores aos trabalhos de combate à corrupção e à impunidade é, induvidosamente, o encerramento da Operação Lava-Jato, o mais rapidamente possível, de modo que os seus excelentes resultados, que já tiveram a audácia de incomodar “peixes graúdos” sejam jogados na lata de lixo da imoralidade e da desmoralização, mesmo contrariando a absoluta preferência dos brasileiros, que depositam bastante crédito ao seu esforço de limpeza e purificação do Brasil, tão carcomido pelos aproveitadores do dinheiro público, que ainda, infelizmente, contam com o apoio de antibrasileiros, que ficam hipotecando seu apoio a criminosos condenados.
Não há a menor dúvida de que, caso os antibrasileiros consigam alcançar seus objetivos escusos, a esculhambação voltará a imperar em nível ainda muito mais aprimorado do que já existia anteriormente à Operação Lava-Jato, justamente para que os esquemas sejam arquitetados com maior grau de dificuldade à detectação e a revelação, na forma da eficiência demonstrada pela operação brasileira, com enormes prejuízos para os cofres públicos, eis que a sanha engenhosa dos poderosos de colarinho branco não permitirá que ela seja derrotada novamente e muito menos que seus mentores voltem a sofrer tamanha decadência moral de ser presos, nem ao sofrimento do seu nível de “moralidade”, que foi bastante afetada com os enormes desfalques de seus recursos.
Não se pode olvidar a participação de cumplicidade dos poderes da República nessa vergonhosa  tentativa de desmonte da  Operação Lava-Jato, pela forma mancomunada na mesma direção de esforços, quando houve a adoção de medidas do governo, do Legislativo e do Judiciário para barrarem as contribuições do Coaf e da Receita Federal aos investigadores, que vinham diligenciando no levantamento de falcatruas contra o Fisco, notadamente com o envolvimento de homens públicos influentes.
Convém frisar um dos maiores golpes aos trabalhos de investigação da Lava-Jato, que foi desferido pelo Congresso Nacional, que, na calada da noite, aprovou a Lei de Abuso de Autoridade, sendo efetivada uma das maiores sabotagens contra a moralidade, haja vista que a sua norma tem por objetivo cercear ações de procuradores e magistrados, com a criação de medidas cuja subjetividade podem levar, de forma concreta, a punição para quem investiga crimes, de modo a impedir a liberdade de ação nos mecanismos das investigações.
Nessa mesma linha injustificável de contribuição à criminalidade, encontra-se no Congresso, sob exame em notório processo a passos de tartaruga, o pacote anticrime, enviado pelo governo, que jamais será aprovado na forma enviada pelo Executivo, eis que a norma de que se trata diz respeito ao aperto à criminalidade e a sua  aprovação depende exatamente de congressistas.
À toda evidência, encontra-se formado e muito bem estruturado o conluio de abutres interessados em desqualificar, desacreditar e até mesmo exterminar a mais eficiente operação montada para mudar os rumos gloriosos de combate à corrupção e à impunidade no Brasil, tendo por apoio, por incrível que pareça, principais estruturas dos poderes da República, em clara demonstração de extrema decadência das condutas e dos princípios republicano e democrático, com a mais contundente e poderosa sinalização de que a criminalidade conseguiu impor a sua força sobre a vontade soberana da sociedade, que se acovarda e cala diante de medidas absurdas e desastradas com a finalidade de impor a sua completa e definitiva desmoralização.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 21 de outubro de 2019     

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