quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A canonização da Irmã Dulce


No dia 13 do fluente mês, o papa irá canonizar, no Vaticano, a primeira mulher brasileira, conhecida popularmente pelo “Anjo Bom” da Bahia.
A Irmã Dulce se tornará santa com os méritos de quem protagonizou exemplar obra de caridade que a fez verdadeira santa ainda quando estava viva e não sabia fazer outra coisa senão amar o próximo, por meio de suas magníficas obras de assistência social, sendo justíssima a sua entronização nos altares brasileiros.
A Santa Irmã Dulce dedicou a sua vida, já a partir da juventude, aos pobres de pão e água e aos doentes do corpo ou da alma.
Nas livrarias brasileiras, já começa a ser vendida uma das melhores e mais completas de sua biografia e se trata do livro intitulado “Irmã Dulce, a Santa dos Pobres” (editora Plansseta), cuja obra é resultado de quase uma década de pesquisas realizadas pelo autor, em Salvador, onde ela nasceu e viveu a maior parte de seus 78 anos, e também de estudos e busca de documentação no Vaticano, na França e nos EUA.
Já se encontra nas livrarias o livro que destaca, sobretudo, o método seguido pela Irmã Dulce, que, sem o menor constrangimento, pedia ajuda financeira para as suas obras sociais, principalmente aos poderosos da política, com quem ela mantinha importante relação de confidência e amizade.
Consta do livro que o último presidente do regime militar fez visita a Salvador e se deparou com as condições precárias do Hospital Santo Antônio, no qual a Irmã Dulce acolhia necessitados, e ele não conseguiu conter as lágrimas e chorou, tendo prometido ajudá-la.
O tempo passou e nada da ajuda do governo federal, mas, em 1982, ela novamente esteve com o então presidente e cobrou a ajuda, olhos nos olhos, mas o ex-presidente brincou, dizendo que iria assaltar um banco para auxiliá-la, com o que a Irmã Dulce retrucou, em tom de brincadeira: “assaltar banco, é só avisar que vou junto”, tendo resultado em risada e mais risada, mas o certo é que o gozador presidente fez importante doação às obras da religiosa, por meio do então Ministério do Planejamento, no valor de cerca de R$ 4,5 milhões, no dinheiro da época, cujo montante atualizado corresponde, atualmente, a 50 milhões de reais.
O livro relaciona os principais políticos que eram também amigos e benfeitores das obras da Irmã Dulce, citando o ex-governador da Bahia, ex-ministro e ex-senador, e os ex-presidentes Eurico Gaspar Dutra e José Sarney, sendo que, deste, ela possuía o número do telefone privativo de emergência, o chamado telefone vermelho, instalado no gabinete presidencial, a quem ela precisou fazer pedidos de socorro, por várias vezes.
Quando era senador, o político maranhense disse à Irmã Dulce: “Sou indigno de fazer outra coisa, senão lhe beijar os pés”, tamanho era a sua veneração à pessoa que cuidava dos pobres, como poucos na face da Terra.  
Consta do livro que a Irmã Dulce jamais passava por aperto e quando precisava era capaz até de furtar, evidentemente no bom sentido do termo, mas o fazia com a maior decência e transparência, posto que sempre deixava bilhetes com o aviso sobre o furto de alguma coisa, que nominava, como fez com um comerciante, dono de loja de material de construção, quando ela precisou levar uma furadeira.
O livro narra histórias interessantes vividas pela Irmã Dulce, a exemplo da que foi passada entre ela e o escritor Paulo Coelho, um dos mais traduzidos em todo o mundo, e se deu da seguinte maneira: o escritor tinha vida conturbada, inclusive ele chegou a ser internado compulsoriamente em clínica de tratamento.
Certa feita ele conseguiu fugir da clínica e foi ao encontro da Irmã Dulce, em Salvador, quando narrou a ela a sua história de vida, por perceber nela confidente, atenta e aplicada ouvinte, mas, no final da conversa, ele disse à religiosa que precisava de passagem de ônibus para voltar à sua cidade, pois estava sem dinheiro. Sem titubear, ela escreveu mensagem em pedaço de papel e assinou isso: “vale um bilhete de viagem”.
Para a surpresa do escritor, bastou a apresentação o papel ao motorista, que reconheceu a autenticidade da assinatura da Irmã Dulce e imediatamente permitiu o embarque do hoje célebre e renomado escritor brasileiro.
O famoso escritor Paulo Coelho escreveu a seguinte mensagem para a então freira, verbis: “Muito obrigado, Irmã Dulce, por seus dois milagres: matar a fome de alguém e permitir a volta do filho pródigo.”.
A história da Irmã Dulce é riquíssima de envolvimento em maravilhosos acontecimentos, que realmente precisavam ser contados em livro, mostrando a sua expressiva dedicação aos doentes, aos famintos, aos desorientados, aos abandonados e a outros relegados pela sociedade, mas acolhidos com muitíssimo amor, porque o seu coração fluidificava os ricos e saudáveis ensinamentos de Jesus Cristo, que professava a necessidade a acolhida aos desvalidos, como forma de puro amor ao próximo, como a si mesmo, em prova do sacrifício da própria vida.
Trata-se e vida purificada pela abnegação às causas da caridade, do amor e da fé, em condições extremamente precárias, mas as suas obras sempre progrediram diante da sua persistência e da sua força da superação e da busca cada vez mais de novas conquistas em benefício de seu semelhante, sempre animada pela a sua inabalável fé, por acreditar que tudo era possível em nome de Deus.
O esforço e a dedicação materializados no legado da Irmã Dulce certamente levariam à canalização da sua imagem para o caminho da santificação, como vai ser realizado pelo Vaticano, em reconhecimento da sua gloriosa vida, porque é a uma das formas de recompensa divina para quem somente praticou o bem ao próximo e de forma substancial em benefício de causa essencialmente humanitária.
Em síntese, tudo o que está acontecendo agora tem o condão de mostrar a grandeza da freirinha brasileira e o respeito que todos tinham pela gloriosa e carismática religiosa, porque, para ela, tudo tinha muita importância e terminava convergindo para a realização das obras de Deus, sob a simpatia e a singeleza angelicais da sua sedução cristã, tendo por primado os princípios da benevolência e da caridade, que, além de merecerem os maiores respeito e admiração, agora são reconhecidos em forma de eternização de seu nome, com a valorização dos milagres a ela atribuídos e a concessão do título máximo outorgado pela Santa Igreja Católica, como a primeira santa genuinamente brasileira, que passa a ser venerada pelo nome de Santa Dulce dos Pobres.
Brasília, em 2 de outubro de 2019

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