Com
a contabilização da derrubada de dois ministros do atual governo, o chamado
"gabinete da raiva" do Palácio do Planalto vem perdendo, como
era de se esperar, protagonismo em processo de redistribuição de forças e poder
junto ao presidente da República.
A
estratégia dominante de radicalização defendida pelo grupo, que tem a tutela do
vereador filho do presidente, vem sofrendo reveses, o que é mais do que
necessário, desde que pesquisas começaram a apontar progressiva erosão da
popularidade do presidente, justamente por se constatar que esse estilo
agressivo de governar não é a maneira mais apropriada nem civilizada para se
comportar um estadista moderno.
O
bunker de ideólogos trogloditas, por defenderem ideologias mais radicais
à direita, está instalado numa sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a
poucos metros do gabinete do presidente, dando a entender que a sua presença no
governo tem o poder de influenciar pronunciamentos e decisões do mandatário
brasileiro, com viés destinado a agradar os principais apoiadores da autoridade
máxima do país.
Os
integrantes desse grupo chegaram ao governo com o objetivo de manter viva atuante
a militância digital responsável por alçar o capitão reformado do Exército à
Presidência da República, uma vez que o seu trabalho foi muito importante na
campanha eleitoral, diante da verificação de que o seu pensamento disseminado
pela mídia tinha o poder de atrair pessoas para o lado que defendia a causa do
presidente.
Com
fortíssima ligação com um dos filhos do presidente do país, o grupo mereceu a
confiança dele, obtendo o poder de influenciá-lo, a ponto de muitas de suas
orientações servirem para a adoção de medidas em momentos-chave, inclusive
determinante na substituição de dois ministros, mostrando a prevalência de suas
opiniões, que, na verdade, estão sendo contrariadas pela realidade dos fatos,
que não são nada favoráveis à imagem do governo nem do presidente.
Ao
revés, para os integrantes do núcleo moderado, composto pela cúpula militar,
parcela significativa do aumento da reprovação presidencial, para 38%, apontada
pela pesquisa do Datafolha, deve-se às malsucedidas e polêmicas declarações do
presidente, evidentemente sob orientação e o incentivo desses assessores do mal,
que pensam que estão contribuindo para a construção de nova mentalidade de governar,
quando, infelizmente, o resultado tem se mostrado tão somente desastroso,
conforme mostram os fatos.
Sem
margem para dúvidas, a aludida ala palaciana do bem avalia que o mandatário brasileiro
acabou sendo a principal vítima dos próprios ataques, a ponto de, em tão pouco tempo,
ele vir a perder importante popularidade, justamente porque os brasileiros
precisam de mandatário que demonstre o mínimo de equilíbrio, maturidade,
ponderação e principalmente respeito aos princípios civilizatórios, sob pena de
precisar encarar o desprezo até mesmo de parte de seus eleitores, que discordam
plenamente de falácias que em nada contribuem para solucionar as graves
questões nacionais, que estão à espera de medidas concretas e efetivas para o
seu saneamento.
No
mês de julho último, o presidente teria sido estimulado pelo “gabinete da raiva”
a entrar numa escalada de radicalização, com o objetivo de acenar para os seus
apoiadores mais fiéis, sob a tese ideológico de que ele deveria manter o tom de
confronto que dominou a tônica de sua campanha eleitoral, principalmente não
aceitando provocações nem insultos.
Há
informação, por exemplo, de que eles tiveram papel decisivo na atitude impensada adotada pelo presidente de cancelar,
de última hora, reunião com o ministro francês das Relações Exteriores, que
resultou no maior reboliço diplomático, notadamente porque ele apareceu, em
seguida, nas redes sociais, ao vivo, cortando o cabelo, que poderia fazê-lo em
outro momento, o que teria evitado terrível mal-estar.
Na
verdade, esse imbróglio deu início à crise diplomática com o governo francês,
cujo presidente reclamou do episódio ao presidente chileno, dizendo que "Isso
não é a atitude de presidente".
É
extremamente lastimável que esse grupo esteja na linha de frente de ideias que
estimulam o presidente a ir para o confronto direto e aberto com a imprensa e
seus possíveis desafetos, porque isso somente demonstra imaturidade,
incompetência e irresponsabilidade, diante dos graves reflexos prejudiciais à
imagem dele, do governo e do Brasil.
Ou
seja, não poderia haver nada mais desastroso para quem precisa ter tranquilidade
para governar e solucionar o amontoado de problemas que grassam país afora, do
que essa terrível confrontação explícita com tudo e todos, apenas sob a
injustificável égide de se pretender agradar parcela de eleitores, em completa
dissonância com o verdadeiro sentido de estadista, que tem o dever
institucional de agradar aos brasileiros, indistintamente de qualquer ideologia
ou preferência.
O
Palácio do Planalto informou, por meio de nota, que o grupo realmente possui
"alguma relação de trabalho" com o presidente, por "demanda
dele", que ela é pautada na "ética" e na "confiança"
e que os servidores federais, segundo se afirma, repassam eventualmente
avaliações e diagnósticos diretamente ao presidente, ou seja, inexiste filtro
sobre o que esse grupo de “malucos” sugere que o presidente deva fazer, o que é
muito perigoso, à vista dos resultados mais do que não recomendáveis para quem precisa
agir com absolutos acerto e responsabilidade.
O
Palácio do Planalto afirmou ainda que os integrantes do “gabinete da raiva”
desempenham atribuições inerentes aos seus cargos e que eles "não
recebem orientações ou ordens externas", a despeito de eles serem
orientados, diretamente, por um dos filhos do presidente, segundo é do
conhecimento prevalente.
É
inacreditável que, em pleno século XXI, ainda haja governante que se submete a
essa deplorável forma de se permitir ser conduzido sob ideias produzidas por
grupo ideológico com mentalidade retrógrada, agressiva e desprezível, com
capacidade para a indução de confronto e intimidação, a evidenciar mentalidade
dissonante com a realidade das conquistas da humanidade, onde devem e precisam prevalecer
as ideias de convergência, pacificação, tolerância, união e principalmente
neutralidade, com à consecução de objetivos exclusivamente voltados para a
causa primordial do desenvolvimento socioeconômico.
Os
brasileiros anseiam por que o presidente da República se conscientize, o mais rapidamente
possível, sobre a imprescindibilidade da rigorosa observância da liturgia do
cargo, como fazem os governantes dos países sérios, civilizados e evoluídos, em
termos administrativos, políticos e democráticos, com embargo dessa mentalidade
medíocre de confrontação inconsequente, que somente evidenciam estupendas e
irracionais decadência e falta de princípios republicano, democrático e
civilizatório.
Brasil:
apenas o ame!
Brasília,
em 3 de outubro de 2019
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