sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A verdade da Justiça?


Em entrevista concedida ao UOL, o ex-presidente da República petista afirmou que "Não estou reivindicando essa discussão de segunda instância. Não estou interessado nisso. Eu estou interessado na minha inocência".
A aludida entrevista ocorreu dia antes de o Supremo Tribunal Federal começar a julgar se é constitucional prender condenados em segunda instância ou se a prisão deve ocorrer após todos os recursos.
Condenado à prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex em Guarujá (SP), pelo então juiz federal da Operação Lava-Jato, hoje ministro da Justiça, com sentença confirmada em segunda (TRF-4) e terceira (STJ) instâncias, o ex-presidente é o caso mais famoso que poderá se beneficiar de possível mudança de entendimento do Supremo.
Não obstante, o petista afirmou que essa não é a saída desejável por ele, porque "Quero que os ministros da suprema corte tenham acesso à verdade do processo e anulem. Se vai ser um ano a mais ou um ano a menos, se vou ficar aqui ou em outro lugar, não importa".
O ex-presidente defende o mesmo raciocínio para refutar a ida ao regime semiaberto, recomendada pela Lava-Jato, no fim do último mês, e diz que o problema não é a tornozeleira eletrônica, tendo afirmado que "Não quero progressão da pena, quero a minha inocência".
O petista concluiu afirmando que "Não tem meio-termo comigo. O que eles vão fazer? Antigamente, era mais fácil. Mandava esquartejar, salgar, pendurar no poste. Cometeram a bobagem de me prender, cometeram a bobagem de me acusar, agora vão ter que suportar esse peso aqui dentro". 
O petista precisa se conscientizar de que só existe um único caminho para se chegar na sua inocência, que é exatamente ele levantar contraprovas sobre os fatos denunciados e investigados pela Operação Lava-Jata, de modo que ele consiga derrubar as provas coligidas e inseridas nos autos da condenação, sabendo ele que as suas defesas apresentadas nas fases próprias da Justiça, compreendendo as primeira e segunda instâncias, foram insuficientes para o convencimento dos magistrados, que entenderam de maior consistência os elementos constantes dos autos.
Nesta fase, a bem da verdade, somente tem cabimento a declaração de inocência pela Justiça se novos elementos pertinentes aos fatos da denúncia forem carreados para os autos, com vistas à nova avaliação e isso, é claro, somente ele e sua defesa podem produzir.
Ou seja, dificilmente o Supremo vai se dignar a declarar o ex-presidente inocente, diante dos fatos robustamente inseridos nos autos da condenação, salvo se a Corte Excelsa encontrar alguma inconstitucionalidade nos autos, caso em que o máximo que ele pode fazer é determinar a baixa do processo para novas investigações ou então declarar, conforme a circunstância, a anulação dos julgamentos ou até mesmo do processo, para novo julgamento, mas jamais afirmar a inocência dele, o que seria o maior absurdo do mundo, diante da falta de elementos novos que demonstrem a inculpabilidade do petista.
O ex-presidente, ao que indica, imagina que somente os ministros do Supremo são os únicos justos e corretos, que vão enxergar a sua inocência nos autos, quando nove magistrados, um juiz da primeira instância (Lava-Jato), três desembargadores da segunda instância (TRF-4) e cinco ministros da terceira instância (STJ), já desceram o martelo e afirmaram, por unanimidade, a robusteza das provas constantes dos autos, provas estas que, na esperança do condenado, os ministros do Supremo vão simplesmente ignorar, fechando os olhos para o que realmente consta de investigado e levantada, somente para agradá-lo, sabe-se lá por qual motivação.
Chega a ser risível o ex-presidente ter a petulância de afirmar que “Cometeram a bobagem de me prender, cometeram a bobagem de me acusar (...).”, quando, na verdade, ele sabe melhor do que ninguém quem realmente cometeu bobagem e, agora, precisa pagar por seus pecados praticados contra a sociedade, como forma de reparação penal, no caso.
É até compreensível, por razões pessoais e políticas, à vista da sua relevância no mundo político, que o ex-presidente não se digne a aceitar a condenação, mas, à toda evidência, não tem o menor cabimento que ele fique acusando, de forma leviana, quem o tenha julgado, como se a culpa fosse deste e que ele entra nessa história como injustiçado, embora até agora, depois de quase centena de recursos apresentados por ele, em essência, nenhum foi provido pela Justiça, o que só demonstra que condenado nessas condições tem pouquíssima credibilidade para reclamar, quando devia, ao contrário, provar que é realmente inocente, não por meio de falácias, mas por provas verdadeiramente plausíveis, sem depender de ninguém, como ele tem agido desde que foi preso.   
Enfim, mesmo contra a sua vontade, é mais provável que o político seja realmente solto pelo Supremo Tribunal Federal, não pela declaração de inocência dele, mas pela decisão sobre a prisão em segunda instância, porque tudo indica que a intenção dos ministros, mesmo na contramão da vontade dos brasileiros, será mesmo a de privilegiar a impunidade, em vergonhoso e inaceitável benefício aos criminosos, em prejuízo da população, por força da soltura de milhares de bandidos, que ganham a liberdade para praticarem a sua profissão de criminalidade, com o beneplácito da Excelsa Corte de Justiça brasileira.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 18 de outubro de 2019 

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