terça-feira, 8 de outubro de 2019

Indiciamento é grave


O presidente da República pretende manter no cargo o ministro do Turismo, que acaba de ser indiciado pela Polícia Federal, por suposto desvio de recursos por meio de candidaturas laranjas, nas eleições de 2018.
O porta-voz da Presidência, ao ser questionado por jornalistas, disse que "O presidente da República aguardará o desenrolar do processo. O ministro permanece no cargo".
Desde o início das investigações sobre a atuação do mencionado ministro e de seus assessores, o presidente acenou que aguardaria a apuração da Polícia Federal, para definir o futuro do ministro, que é deputado federal por Minas Gerais.
Nos últimos dias, o presidente tomou posição semelhante para justificar a permanência no posto do líder do governo no Senado Federal, que foi alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal, em setembro recente.
O presidente tem dito que é preciso ter algo "mais concreto" contra o citado e que ele tem feito bom trabalho junto aos parlamentares.
Outro argumento repetido no Palácio do Palácio é de que o caso envolvendo o mencionado líder transcorreu no passado e não está relacionado à atuação dele como líder do governo.
O mesmo entendimento se aplica ao caso do ministro do Turismo, que responde por irregularidades relacionadas com a campanha eleitoral, antes de assumir o atual cargo.
O Ministério do Turismo afirmou que o ministro ainda não foi notificado sobre o indiciamento, mas "reafirma sua confiança na Justiça e reforça sua convicção de que a verdade prevalecerá e sua inocência será comprovada".
O referido ministério disse ainda que "Assim como vem declarando desde o início da investigação, que teve como base uma campanha difamatória e mentirosa, o ministro reitera que não cometeu qualquer irregularidade na campanha eleitoral de 2018. Vale lembrar que esta é apenas mais uma etapa de investigação e o ministro segue confiante de que ficará comprovada sua inocência".
Em cada notícia envolvendo mais indiciamento do primeiro escalão, o governo somente consegue perder credibilidade com relação às promessas de mudanças, em termos de moralização da administração pública, quando se imaginariam que nunca mais se ouviria em ficha suja no governo, pelo menos era essa a ideia passada para os eleitores.
Os fatos mostram que tudo continua como antes no quartel de Abrantes, se permitindo que os fora da lei se passem por inocentes, cada qual os mais puros e imaculados, com a cara mais limpa e deslavada.
É lamentável que a República seja comandada por quem demonstra não ter palavra e muito menos se lembrar dela, porque o significado de mudança diz respeito exatamente que nada mais se repetiria do passado vergonhoso em que praticamente toda cúpula do governo se envolveu em falcatruas, mas, mesmo assim, ninguém assumiu nenhuma culpabilidade por nada.
O presidente da República precisa ter a dignidade de entender que indiciamento já é caso elevado e potencial da possível prática de irregularidade, em que o envolvido deve ser afastado de imediato para cuidar exclusivamente da sua defesa, não importando se os fatos aconteceram ontem, hoje ou se ainda vão acontecer, porque impõe-se mesmo que a administração pública não tenha ninguém implicado com investigação ou até mesmo com suspeita de envolvimento em caso nebuloso, que precisa ser devidamente esclarecido, desde que distante das funções públicas, eis que uma coisa não se coaduna com a outra.
O Código de Ética do Serviço Público diz claramente que o cargo público somente poderá ser exercido ou ocupado por pessoa revestida de conduta moral ilibada, livre de qualquer suspeita, o que vale dizer que o indiciamento já contraria frontalmente esse princípio essencial de moralidade pública.
Diante desse princípio, é muito estranho que a autoridade máxima do país se atreva a contrariá-lo, sem justificativa plausível, porque isso implica descumprimento de norma cogente, o que vale se afirmar que a permanência no cargo por quem é indiciado precisa ser apenas afastado automaticamente, sob pena de censura ao governo, na forma da lei.  
Em síntese, uma República séria e civilizada, em termos administrativos e morais, jamais permitiria que servidor indiciado ou suspeito da prática de irregularidade permaneça no cargo, principalmente sob justificativa fajuta, frágil e inconsistente como essa de que os fatos investigados ocorreram no passado, dando a entender que o governo não tem a menor preocupação com a limpeza moral no seu seio.
Os brasileiros anseiam por que chegue o dia em que o mandatário se conscientize de que o verdadeiro princípio de moralidade pública condiz com a transparência sobre a verdade estampada na prática dos atos na vida pública, compreendendo que a pessoa indiciada precisa ser afastada imediatamente das suas funções e permanecer longe da administração pública enquanto estiver se defendendo e se justificando junto a quem de direito, somente tendo condições para reassumi-las quando tudo ficar devidamente esclarecido perante a sociedade.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 8 de outubro de 2019 

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