sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A ajustável estratégia

          Na campanha eleitoral, o discurso do então candidato à Presidência da República foi costurado e centrado, de forma estratégica, com base no  antissistema e viés bem definido contra a corrupção e a impunidade, sob o compromisso com a gestão liberal na economia, na certeza de que, seguramente, essas teorias basilares bem à direita haveria de garantir apoio não só de parcela significativa do eleitorado, mas principalmente de maciços segmentos do mercado financeiro, do empresariado e dos capitalistas.

Já bem ante da metade do seu governo, o presidente do país demonstra, com bastante clareza, que suas principais bandeiras não tiveram a prosperidade que se prometia com o mesmo afinco na batalha da campanha eleitoral, sabendo que elas não foram empunhadas na sua gestão, conforme evidenciam os fatos.

O governo começou, por exemplo, com o que foi chamado de “superministro” da Justiça e Segurança Pública, tendo origem na famosa Operação Lava-Jato, que teria por finalidade fundamental construir o poderoso arcabouço instrumental contra o câncer da corrupção, mas o ex-juiz, em claro sentimento de desmotivação, se afastou bem cedo do cargo, sem conseguir realizar projeto algum nesse sentido, tendo como argumento a inexistência de agenda política voltada para a anticorrupção, diante dos visíveis apatia e desinteresse por parte do governo.

Na outra extremidade do governo, que mereceu relevância na gestão, ganhou destaque o Ministério da Economia, mas a falta de conexão daquele argumento liberal da campanha eleitoral com a prática do dia a dia também perdeu motivação, fato este que já causou a perda de importantes colaboradores em nível de secretários, que preferiram abandonar o barco, diante do desgaste resultante do notório distanciamento das políticas prometidas pelo então candidato, para se ganhar a eleição.

Para complicar de vez o quadro político-administrativo do governo e torná-lo ainda mais incompreensível, o presidente do país, depois de envolto em seguidos tumultuados relações e distanciamentos com o Congresso Nacional, perdeu completamente a compostura que defendia de anticorrupção e decidiu se aproximar, em definitivo, do famigerado Centrão, bloco que tem como princípio a defesa do fisiologismo clássico, no sentido de conceder apoio aos projetos do governo no Congresso, em troca de cargos públicos e emendas parlamentares, na pior da compreensão do nefasto sistema conhecido como o “toma lá dá cá”, que ele tanto recriminava na campanha eleitoral.

Sobre essa questão, o presidente chegou a declarar, na época da campanha eleitoral, que, verbis: “Nenhum presidente é maior do que seu ministério. O segredo para bem administrar o Brasil é você botar as pessoas certas nos ministérios certos. O que vem sendo feito ao longo dos últimos anos? O presidente indica os seus ministros de acordo com interesses político-partidários. Tem tudo para não dar certo.”.

Outra questão da maior importância foi conduzida pelo lado negacionista pelo presidente, durante o combate à pandemia do coronavírus, que, induvidosamente, afetou o pensamento conservadorista no Brasil e no mundo, diante da teimosa e desgastada política da relativilização das medidas de combate à crise, encetada por ele, de maneira irresponsável, à vista da gravidade do problema, que foi transformado em algo de somenos importância, embora a monstruosidade da quantidade de óbitos, que já ultrapassa dos cem mil, mostre a crueldade do episódio real, que exigia comportamento bem condizente, em termos de prudência, com a tristeza mostrada pelos fatos.

Enfim, verifica-se que o presidente do país nunca esboçou qualquer intenção ou reforço para a aprovação de normas anticorrupção, abraçou, sem a menor cerimônia, a condenável política fisiológica tradicional, tendo ignorado, por conveniência, a séria política tradicional, além de se afastar das abrangentes reformas do Estado, que fizeram parte das promessas de mudanças, tidas e reconhecidas como necessárias ao verdadeiro desenvolvimento socioeconômico.

Ou seja, o presidente foi bastante inteligente quando quis se passar pelo homem público revestido do arraigado sentimento de moralidade, mas apenas na campanha eleitoral, como forma de marketing estratégico, muito ao feitio da publicidade que termina funcionando como meramente enganosa, feita apenas para agradar muitos eleitores, mas, depois, obviamente por conveniência política, essa embalagem que servia apenas de rotulagem e própria da roupagem da campanha, é posta de lado e poucos nem percebem, porque os tempos são outros e a reeleição já passa a merecer outras estratégias apropriadas aos novos tempos.

Nesse caso, a estratégia também precisa ser ajustada, precisamente para se atingir novos objetivos, porque as promessas da campanha passada são incompatíveis com a nova mentalidade presidencial, que se apresenta com novos rótulos, já adaptados e amoldados aos sonhos da reeleição, que é transformada em encanto de todos homens públicos que se apoderam do trono presidencial.

A ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil reacendeu a esperança de verdadeira e potencial mudança generalizada no porvir, porque foi essa a ideia passada para a população, no embalo dos palanques, onde tem-se como o local apropriado para a proliferação e metas e promessas de governo, as quais terminam se dissolvendo com o calor da realidade do gestão propriamente, onde múltiplos são os caminhos que se vislumbram para o novo horizonte político, contribuindo para frustrar muitos daqueles que acreditaram nas promessas da campanha.

A falta do efetivo cumprimento das metas de campanha, em se tratando de discurso extremista, dando, em princípio, sinal de mudar o passado, fatalmente gera clima de insegurança e certeza, podendo criar vulnerabilidade nas pessoas, diante do juízo de que todos os políticos são iguais em capacidade de resistir à mudança no seu norte, sem precisar justificar nem dar satisfação nem mesmo àqueles que disseram sim às ideias anteriores.

Esse comportamento é muito ruim, ante à imperiosa necessidade do aperfeiçoamento político-democrático, à vista do que aconteceu com o governo, que não cumpriu o prometido quanto às mudanças, principalmente com relação às estrutura e conjuntura do Estado, que permanecem praticamente nas mesmas condições paquidérmicas, em termos operacionais, ainda assoberbado pelo arcaísmo referente ao inchaço próprio da máquina desatualizada, onerosa e ineficiente, extremamente carente de aperfeiçoamento e modernidade, a tanto prometido pelo então candidato.

O governo acaba de enviar ao Congresso minirreforma administrativo, que tem abrangência pontual e limitadíssima e ainda por afetar apenas parte do Executivo, sem tanger, como imprescindível precisa ser, o âmago da eficiência e da qualidade da prestação dos serviços públicos, inclusive com a premência da desestatização de empresas públicas desnecessárias, deficitárias e bastantes onerosas, que somente se prestam ao anacronismo da administração pública, que, ao contrário, precisa ser aperfeiçoada e modernizada, como forma de acompanhamento do sentimento de evolução da humanidade.  

Por seu turno, é bem possível que há quem possa alegar, de maneira ufanista, que não há marca ou exemplo de corrupção no governo, como se isso fosse algo extraordinário, quando a administração normal precisa ser, necessariamente, imune à desmoralização da coisa pública e isso passa a ser dever e não forma de favor, sendo, de  certa forma, algo surpreendente em comparação a governos recentes, que demonstraram arredios aos princípios republicanos da moralidade e da dignidade na gestão pública, conforme mostram as investigações nesse sentido.

Pode-se dizer que o governo não é totalmente afeito às mudanças, porque ele conseguiu efetivar seu principal gesto nesse sentido, ao selar o pacto do interesse pessoal, como tentativa de livrá-lo do processo de impeachment, com a formalização do fisiologismo com o Centrão, algo que era absolutamente incompatível com a pessoa dele, na campanha eleitoral.

Isso implica descer do patamar da implacabilidade quanto ao respeito aos princípios republicados da ética, da moralidade, da dignidade, entre outros que não condizem com o sentimento de flexibilização, que tem muito com o ranço da impunidade e do aproveitamento da coisa pública, porque é se dando que se recebe, com a materialização do “famoso” e abominável balcão do governo, onde se processa, com o sinete oficial, o deplorável “toma lá dá cá”.

Enfim, em curto período de gestão, pode-se ter ideia bastante consistente sobre alguns aspectos do estilo bolsonariano, onde as principais mudanças ficaram nas pranchetas da campanha eleitoral, mas houve a implantação da vergonhosa aliança com grupo político sem credibilidade moral,  para “salvação” do governo que se dizia imune aos conchavos, além do distanciamento das mudanças prometidas de moralidade, que foram abortadas antes da concepção, restando as perspectivas que estão gravitando em torna das mirabolantes estratégias de marketing político, visando à tão ambiciosa reeleição.

Brasília, em 4 de setembro de 2020Na campanha eleitoral, o discurso do então candidato à Presidência da República foi costurado e centrado, de forma estratégica, com base no  antissistema e viés bem definido contra a corrupção e a impunidade, sob o compromisso com a gestão liberal na economia, na certeza de que, seguramente, essas teorias basilares bem à direita haveria de garantir apoio não só de parcela significativa do eleitorado, mas principalmente de maciços segmentos do mercado financeiro, do empresariado e dos capitalistas.

Já bem ante da metade do seu governo, o presidente do país demonstra, com bastante clareza, que suas principais bandeiras não tiveram a prosperidade que se prometia com o mesmo afinco na batalha da campanha eleitoral, sabendo que elas não foram empunhadas na sua gestão, conforme evidenciam os fatos.

O governo começou, por exemplo, com o que foi chamado de “superministro” da Justiça e Segurança Pública, tendo origem na famosa Operação Lava-Jato, que teria por finalidade fundamental construir o poderoso arcabouço instrumental contra o câncer da corrupção, mas o ex-juiz, em claro sentimento de desmotivação, se afastou bem cedo do cargo, sem conseguir realizar projeto algum nesse sentido, tendo como argumento a inexistência de agenda política voltada para a anticorrupção, diante dos visíveis apatia e desinteresse por parte do governo.

Na outra extremidade do governo, que mereceu relevância na gestão, ganhou destaque o Ministério da Economia, mas a falta de conexão daquele argumento liberal da campanha eleitoral com a prática do dia a dia também perdeu motivação, fato este que já causou a perda de importantes colaboradores em nível de secretários, que preferiram abandonar o barco, diante do desgaste resultante do notório distanciamento das políticas prometidas pelo então candidato, para se ganhar a eleição.

Para complicar de vez o quadro político-administrativo do governo e torná-lo ainda mais incompreensível, o presidente do país, depois de envolto em seguidos tumultuados relações e distanciamentos com o Congresso Nacional, perdeu completamente a compostura que defendia de anticorrupção e decidiu se aproximar, em definitivo, do famigerado Centrão, bloco que tem como princípio a defesa do fisiologismo clássico, no sentido de conceder apoio aos projetos do governo no Congresso, em troca de cargos públicos e emendas parlamentares, na pior da compreensão do nefasto sistema conhecido como o “toma lá dá cá”, que ele tanto recriminava na campanha eleitoral.

Sobre essa questão, o presidente chegou a declarar, na época da campanha eleitoral, que, verbis: “Nenhum presidente é maior do que seu ministério. O segredo para bem administrar o Brasil é você botar as pessoas certas nos ministérios certos. O que vem sendo feito ao longo dos últimos anos? O presidente indica os seus ministros de acordo com interesses político-partidários. Tem tudo para não dar certo.”.

Outra questão da maior importância foi conduzida pelo lado negacionista pelo presidente, durante o combate à pandemia do coronavírus, que, induvidosamente, afetou o pensamento conservadorista no Brasil e no mundo, diante da teimosa e desgastada política da relativilização das medidas de combate à crise, encetada por ele, de maneira irresponsável, à vista da gravidade do problema, que foi transformado em algo de somenos importância, embora a monstruosidade da quantidade de óbitos, que já ultrapassa dos cem mil, mostre a crueldade do episódio real, que exigia comportamento bem condizente, em termos de prudência, com a tristeza mostrada pelos fatos.

Enfim, verifica-se que o presidente do país nunca esboçou qualquer intenção ou reforço para a aprovação de normas anticorrupção, abraçou, sem a menor cerimônia, a condenável política fisiológica tradicional, tendo ignorado, por conveniência, a séria política tradicional, além de se afastar das abrangentes reformas do Estado, que fizeram parte das promessas de mudanças, tidas e reconhecidas como necessárias ao verdadeiro desenvolvimento socioeconômico.

Ou seja, o presidente foi bastante inteligente quando quis se passar pelo homem público revestido do arraigado sentimento de moralidade, mas apenas na campanha eleitoral, como forma de marketing estratégico, muito ao feitio da publicidade que termina funcionando como meramente enganosa, feita apenas para agradar muitos eleitores, mas, depois, obviamente por conveniência política, essa embalagem que servia apenas de rotulagem e própria da roupagem da campanha, é posta de lado e poucos nem percebem, porque os tempos são outros e a reeleição já passa a merecer outras estratégias apropriadas aos novos tempos.

Nesse caso, a estratégia também precisa ser ajustada, precisamente para se atingir novos objetivos, porque as promessas da campanha passada são incompatíveis com a nova mentalidade presidencial, que se apresenta com novos rótulos, já adaptados e amoldados aos sonhos da reeleição, que é transformada em encanto de todos homens públicos que se apoderam do trono presidencial.

A ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil reacendeu a esperança de verdadeira e potencial mudança generalizada no porvir, porque foi essa a ideia passada para a população, no embalo dos palanques, onde tem-se como o local apropriado para a proliferação e metas e promessas de governo, as quais terminam se dissolvendo com o calor da realidade do gestão propriamente, onde múltiplos são os caminhos que se vislumbram para o novo horizonte político, contribuindo para frustrar muitos daqueles que acreditaram nas promessas da campanha.

A falta do efetivo cumprimento das metas de campanha, em se tratando de discurso extremista, dando, em princípio, sinal de mudar o passado, fatalmente gera clima de insegurança e certeza, podendo criar vulnerabilidade nas pessoas, diante do juízo de que todos os políticos são iguais em capacidade de resistir à mudança no seu norte, sem precisar justificar nem dar satisfação nem mesmo àqueles que disseram sim às ideias anteriores.

Esse comportamento é muito ruim, ante à imperiosa necessidade do aperfeiçoamento político-democrático, à vista do que aconteceu com o governo, que não cumpriu o prometido quanto às mudanças, principalmente com relação às estrutura e conjuntura do Estado, que permanecem praticamente nas mesmas condições paquidérmicas, em termos operacionais, ainda assoberbado pelo arcaísmo referente ao inchaço próprio da máquina desatualizada, onerosa e ineficiente, extremamente carente de aperfeiçoamento e modernidade, a tanto prometido pelo então candidato.

O governo acaba de enviar ao Congresso minirreforma administrativo, que tem abrangência pontual e limitadíssima e ainda por afetar apenas parte do Executivo, sem tanger, como imprescindível precisa ser, o âmago da eficiência e da qualidade da prestação dos serviços públicos, inclusive com a premência da desestatização de empresas públicas desnecessárias, deficitárias e bastantes onerosas, que somente se prestam ao anacronismo da administração pública, que, ao contrário, precisa ser aperfeiçoada e modernizada, como forma de acompanhamento do sentimento de evolução da humanidade.  

Por seu turno, é bem possível que há quem possa alegar, de maneira ufanista, que não há marca ou exemplo de corrupção no governo, como se isso fosse algo extraordinário, quando a administração normal precisa ser, necessariamente, imune à desmoralização da coisa pública e isso passa a ser dever e não forma de favor, sendo, de  certa forma, algo surpreendente em comparação a governos recentes, que demonstraram arredios aos princípios republicanos da moralidade e da dignidade na gestão pública, conforme mostram as investigações nesse sentido.

Pode-se dizer que o governo não é totalmente afeito às mudanças, porque ele conseguiu efetivar seu principal gesto nesse sentido, ao selar o pacto do interesse pessoal, como tentativa de livrá-lo do processo de impeachment, com a formalização do fisiologismo com o Centrão, algo que era absolutamente incompatível com a pessoa dele, na campanha eleitoral.

Isso implica descer do patamar da implacabilidade quanto ao respeito aos princípios republicados da ética, da moralidade, da dignidade, entre outros que não condizem com o sentimento de flexibilização, que tem muito com o ranço da impunidade e do aproveitamento da coisa pública, porque é se dando que se recebe, com a materialização do “famoso” e abominável balcão do governo, onde se processa, com o sinete oficial, o deplorável “toma lá dá cá”.

Enfim, em curto período de gestão, pode-se ter ideia bastante consistente sobre alguns aspectos do estilo bolsonariano, onde as principais mudanças ficaram nas pranchetas da campanha eleitoral, mas houve a implantação da vergonhosa aliança com grupo político sem credibilidade moral,  para “salvação” do governo que se dizia imune aos conchavos, além do distanciamento das mudanças prometidas de moralidade, que foram abortadas antes da concepção, restando as perspectivas que estão gravitando em torna das mirabolantes estratégias de marketing político, visando à tão ambiciosa reeleição.

         Brasília, em 4 de setembro de 2020

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