sábado, 19 de setembro de 2020

Deplorável prêmio IgNobel!

 

Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos da América estão entre os ganhadores do Prêmio IgNobel, referente à sua 30ª edição, que apontam os fatos mais irrelevantes ou inusitados da ciência mundial.

Eles receberam a “homenagem” pela maneira como enfrentaram a grave crise da pandemia do novo coronavírus.

Juntos, o Brasil e os Estados Unidos somam aproximadamente 335 mil mortes pela Covid-19, o equivalente a 35% das vítimas contabilizadas no planeta, que é algo bastante considerável e lamentável, em termos de perda de vidas humanas.

Ao longo da maior crise sanitária do último século, os dois mandatários têm sido alvo de severas críticas de especialistas e organizações médicas, principalmente por discordarem do isolamento social recomendado para reduzir o contágio e defenderem o uso da cloroquina contra o coronavírus, em que pese o remédio não ter eficácia comprovada contra a doença.  

Segundo os organizadores do evento, os citados presidentes tiveram "efeito mais imediato sobre a vida e sobre a morte do que cientistas e médicos" na gestão da pandemia do novo coronavírus.

Os dois presidentes, em maior ou menor grau, tiveram posturas negacionistas e vacilantes em relação à covid-19 e, não por acaso, alguns dos países citados estão entre os que registram a maior quantidade de casos da doença no mundo: EUA, Brasil, Índia e Rússia, evidentemente por terem população avantajada, em relação ao resto do mundo.

O evento é organizado pela revista Annals of Improbable Research, graças ao financiamento de diversas entidades, como os estudantes de Física da Universidade de Harvard, nos EUA.

Como brincadeira estilizada, o "prêmio" para os vencedores é uma nota de 10 trilhões de dólares do Zimbábue e uma caixa de montagem com as instruções sobre como montar em um dos lados da peça.

Na edição deste ano, os demais prêmios seguiram a mesma linha cômica peculiar ao formato da premiação, mostrando, em tese, o negativismo como predominância para justificar o seu “mérito”.

A premiação já se tornou tradicional, com a sua entrega, de forma sarcástica, há 30 anos, cujos prêmios são "entregues" aos piores projetos, estudos, governos e governantes do mundo, no sentido inverso do que acontece normalmente e com o devido e justificável mérito com o verdadeiro prêmio Nobel, que é a expressão do reconhecimento pelas obras e os trabalhos que contribuem para a dignificação e a valorização do ser humano, além do incentivo às ações notáveis e de excelência.

Muitos críticos ressaltam que somente a imprensa brasileira para publicar notícia besta e sem graça desse tipo, o que demonstra que, ao Brasil, carece de jornalista inteligente e sensato, para tratar de matéria que pouco contribui para elevar o nível do jornalismo.

Outros dizem que quem merece esse tipo de prêmio é a própria imprensa brasileira, que teria noticiado com notória distorção sobre fatos do dia a dia, sendo que ela sabe muito bem a motivação disso.

Já há quem diga que o presidente brasileiro teria sido o único que se preocupou em salvar vidas humanas e a economia, cujos fatos se confirmam no dia a dia.

Embora muitos críticos vejam nessa premiação invertida verdadeira perda de tempo, não há a menor dúvida que é realmente isso, porque os gênios representados por seus organizadores e até mesmo os recursos investidos, poderiam aplicar a sua inteligência para a produção e construção de algo para ser revertido em benefício da humanidade, de modo que a energia despendida nesse projeto poderia ter sido aproveitada para a elevação das causas de interesse social ou de outras maneiras saudáveis e inteligentes aproveitáveis e beneficentes ao homem.

À toda evidência, esse não é o prêmio ansiado por ninguém, muito menos por autoridade do padrão de presidente de nação da maior relevância e influência mundial como, no caso, o Brasil, por haver na objetividade da medida forma mais do que de demérito por parte de quem é “laureado”, por patentear a marca indelével de algo que deveria ter sido evitado.

No caso do presidente brasileiro, não se pode negar que ele foi muito vacilante quando precisava agir muito mais no sentido proativo, por meio de sólido posicionamento em apoio às medidas destinadas ao combate ao contágio do coronavírus, mas jamais em incitação por meio de ações contrárias, como inegavelmente foram muitos os casos que aconteceram neste sentido.

Essa maneira de procedimento tem muito peso por parte de quem é o principal representante do povo, porque é muito importante que o conjunto das medidas pertinentes se consolide por meio de pensamento uniforme da equipe de governo, com vistas a se evitar solução de continuidade dos trabalhos.

No caso referente ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, mesmo que o presidente se sinta plenamente confortável em imaginar que vem agindo em absoluta sintonia com a razão, há muita gente que desaprova a maneira espalhafatosa como ele vem agindo.

Hoje mesmo, o presidente sacou uma de suas “pérolas”, ao afirmar que “Vocês não entraram naquela conversinha mole de 'fique em casa, que a economia a gente vê depois'", tendo concluído com a afirmação de que "Isso é para os fracos. O vírus, eu sempre disse, era uma realidade, e tínhamos que enfrentá-lo. Nada de se acovardar perante aquilo que nós não podemos fugir dele".

À toda evidência, as declarações do presidente não se coadunam com a cartilha de verdadeiro estadista que respeita a liturgia do seu cargo, no sentido de que as suas declarações precisam se manter em conformidade com a linha de seriedade que preza a dignidade dos cidadãos, evitando emitir juízo de valor sobre a coragem das pessoas, em se tratando do enfrentamento da pandemia em causa.

Ou seja, mesmo se tratando de prêmio de cunho estritamente depreciativo, há de se convir que ele tem efetiva validade e importância, para mostrar à saciedade que algo aconteceu, que se admita ou não, fora do padrão da normalidade, sob a competência de avaliação da sociedade, que tem todo direito de julgar os atos das autoridades públicas, que precisam ter a humildade de se autoavaliarem e corrigirem seus pensamentos sobre aquilo que é desaprovado pela sociedade.

Brasília, em 18 de setembro de 2020  

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