quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A opacidade da transparência

Diante da notícia de que a primeira-dama brasileira havia recebido depósitos de dinheiro, na sua conta bancária, feitos por ex-assessor da família do presidente da República, este vem evitando esclarecer e justificar à nação, como é do seu dever legal e moral, a regularidade sobre as questionadas operações financeiras.

Sobre esse caso, escrevi a crônica intitulada “À mulher de César...”, onde há referência aos fatos e análise pessoal sobre o comportamento da autoridade envolvida.

Na oportunidade, mostrei, em descrição clara, que o presidente brasileiro tem obrigação constitucional de esclarecer, de maneira minudente, os fatos relacionados com a presente acusação, sob pena de ser considerado conivente com atos nada republicanos, eis que os fatos envolvendo a primeira-dama colocam o seu esposo em situação de responsabilidade solidária, mesmo porque o dinheiro recebido na conta dela se destinava a ele, ante a alegação do pagamento de empréstimo, só que no valor de R$ 40 mil, embora o valor total atinja R$ 89 mil.

À luz do ordenamento jurídico pátrio, essa estranha transação bancária tem sim o condão de contribuir para comprometer a dignidade e a lisura da imagem do mandatário do país, quando ele se esquiva a demonstrar a regularidade dos fatos pertinentes à origem, além de apresentar os documentos comprobatórios.

Não obstante, um cidadão, demonstrando bastante desconforto, faz questão de discordar do texto, por motivo não revelado, mas ele foi enfático em dizer o seguinte, verbis: “Faz aí um artigo desses sobre o enriquecimento da família Lula, dos Marinhos, da Globo, dos Ministros do STF, do Sarney, e tantos outros. Fala aí que Michele trabalhava com Bolsonaro antes de casar com ele e recebia por isso. Fala aí que Queiroz era que gerenciava os pagamentos do pessoal que trabalhava pra família na política . Fala aí que dividindo isso recebia 2.000,00 reais como secretaria. Isso não fala.”.

Em princípio, eu nem deveria prestar esclarecimento ou me justificar pelo que escrevo, mas, ante os deveres civilizatório e de educada informação, cumpro a gentileza de lembrar aos amigos e seguidores que o meu desejo de analisar os fatos da vida diz respeito exclusivamente ao meu sentimento de descrever os fatos da maneira como eu achar melhor e na forma que me convém, não tendo obrigação quanto ao seguimento de padrão e muito menos de orientação ou desejo sobre o enfoque das matérias sugeridas por ninguém.

A espontaneidade de escrever e analisar os fatos do cotidiano faz parte das minhas vontade e liberdade de expressão, sem necessidade de dá satisfação a ninguém, porque escrevo por simples prazer de o fazer, sem compromisso senão com a minha consciência e em estrita sintonia com a verdade, sempre procurando respeitar a integridade e os direitos das pessoas, independentemente de ideologia, partidarismo ou outra forma de filosofia senão a manifestação do meu sentimento de cidadania livre e independente,

A verdade é que não há nada em jogo que me motive a violar meus princípios para agradar ou prejudicar alguém, porque há, em tudo que faço, a veneração suprema à minha consciência livre para a interpretação e a análise dos fatos da vida.

A verdade é que meus textos até possam contrariar o pensamento de alguém, em desagrado ao sentimento de pessoas fanatizadas ideologicamente, que se sentem atingidas quando a verdade dos fatos vai ao âmago de seus interesses e isso fica patente quando alguém insinua que eu também deva escrever sobre a história de fulano ou sicrano, quando, na realidade, sobre eles eu já comentei tanto, só que nos seus devidos tempos, exatamente em harmonia com o meu estilo de escrever sobre os fatos do cotidiano.              

Ao que tudo indica e foi exatamente assim que intuí, que o real desejo do autor da supracitada mensagem pretendia que eu ficasse à procura de erros cometidos por outrem, para, provavelmente, serem aquilatados e comparados com aqueles referidos na inicial ou questionados nas minhas crônicas, como forma de avaliação sobre aqueles que são os mais poderosos, os mais graves, ou apenas se dizer que os homens públicos, todos eles erram e, então, por que a família do atual presente não pode incorrer em deslize também, como se erros de outrem pudessem justificar outras falhas?

É preciso lembrar e deixar muito claro que não tenho por propósito escrever como policial investigativo, mas sim como escriba que relata os fatos do cotidiano, em especial aqueles que interessam diretamente à sociedade, como nesse caso, em que a mulher do presidente do país é denunciada como suspeita de ter sido beneficiada com depósitos de determinada quantia em real, havendo dúvida quanto à origem dos valores, o que é muito natural, porque o extrato bancário não esclarece tal dúvida, que seria conveniente que ela fosse dirimida, para o bem da transparência como forma de aprimoramento do princípio democrático.

Estranha-se profundamente que pessoas insensíveis a fatos obscuros demonstrem irresignação ao texto que apenas os descreve como sendo dissonante com a normalidade na vida pública, dando a entender que ele é incapaz de macular a imagem presidencial, por achar normal alguém se beneficiar de dinheiro depositado em conta pessoal, certamente sem necessidade de precisar esclarecer nada.

À vista da maturidade civilizatória, em consonância com o Estado Democrático de Direito, compete ao presidente da República, pessoa diretamente envolvida nesse imbróglio, esclarecer os fatos, na forma recomendada pelos princípios da boa educação e jamais ficar maltratando com agressão os profissionais da imprensa, que não têm dada a ver com o fato em si.

A maneira deseducada de tratamento ao pessoal das comunicações não condiz com a convivência pacífica e elegante de chefe de governo da importância do Brasil, sabendo-se que a sociedade depende da imprensa para se informar sobre os fatos da vida pública.

Como maneira civilizada e republicana de sanar a celeuma, bastaria a primeira-dama ou o marido dela esclarecer os fatos e provar, por A mais B, que os depósitos têm por fundamento o que realmente aconteceu, mostrando os comprovantes pertinentes, exatamente como fazem os verdadeiros homens públicos, que não têm nada a esconder de ninguém, a evidenciar precisamente a verdade sobre os fatos, dando por encerrada a dúvida que teria surgida em razão da ausência de informação quando a notícia veio à tona.

Por fim, convém que se compreenda que não tem o menor cabimento o presidente da República ficar irritado com indagações acerca da origem dos depósitos em apreço, porque isso só demonstra comportamento contrário aos princípios da cidadania e da civilidade republicana, além de contribuir para ilações no sentido de que não há precisamente justificativa plausível para as suspeitas operações bancárias, porque, se houvesse, era somente citá-la, com a comprovação pertinente, e o assunto seria normalmente encerrado e em definitivo.

          Brasília, em 3 de setembro de 2020 

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