sábado, 26 de setembro de 2020

Atentado à liberdade de expressão?

 

Uma jogadora brasileira de vôlei de praia disse espontânea e propositadamente, ao vivo, logo após partida da etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em entrevista a canal de televisão: “Só para não esquecer: Fora Bolsonaro”.

Segundo um comentarista esportivo, a jogadora “agiu com espontaneidade e liberdade política, mas a reação às suas palavras foram desproporcionais e violentas. O mundo do esporte está assistindo, neste momento, um atentado à liberdade de expressão.”.      

Uma reportagem noticia que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), “temendo melindrar o presidente Jair Bolsonaro e perder o patrocínio do Banco do Brasil, divulgou uma nota de repúdio e repreendeu a atleta por seu ato, ameaçando tomar medidas cabíveis. Embora tenha apenas expressado sua opinião, tentaram calá-la com dureza. Nas mídias sociais, ela também foi ofendida e sofre ameaças de bolsonaristas.”.

A CBV disse que o “ato praticado no domingo 20 pela atleta Carol Solberg em nada condiz com a atitude ética que os atletas devem sempre zelar. Tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”. 

Outro comentarista disse que “Atletas devem ter o direito de se manifestar politicamente e não deveria mais haver questionamentos neste sentido.”.

Esse mesmo comentarista invocou o caso de um jogador do Palmeira, que “não para de elogiar o presidente Jair Bolsonaro, de quem é eleitor e admirador, e, nem por isso, sofreu qualquer tipo de intimidação dos clubes, da Federação Paulista ou da CBF. Perseguir atletas por sua posição política é algo típico de ambientes repressivos.”.

Consta da reportagem que a jogadora lamentou a ameaça de punição que sofreu por se manifestar livremente e não se arrepende do seu ato, tendo dito que “Não sou ativista, mas me sinto na obrigação de me posicionar e é lamentável e curioso que eu possa ser punida por exercer a minha liberdade de expressão contra este desgoverno. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer, mas a reação da CBV no meu caso foi bem diferente do ocorrido com o Wallace.”, este, ao contrário dela, se manifestou em apoio ao presidente do país, o que já é diferente dela.   

Em verdade, a jogadora em tela tem realmente total direito de se expressar livremente, inclusive na forma como ela entendeu de fazer,  em ambiente completamente fora de contexto político, quando ela se encontrava logo após partida do esporte praticado por ela, que parece deveria ser o momento ideal para ela falar exclusivamente das questões pertinentes à partida, se a disputa foi difícil ou não, se ela estava feliz com o resultado e tudo o mais sobre o que teria acontecido no desenrolar do jogo em si.  

Agora, sem mais nem menos, sem que ela tenha sido questionada sobre outro assunto, que corretamente não era o caso, nem mesmo sobre política ou governo, ela, todo metida, insere a expressão que considera correta para ocasião aparentemente inadequada, precisamente para dizer: “Só para não esquecer: Fora Bolsonaro”, exatamente para lembrar que o presidente do país, porque ela não gosta nem votou nele, tem que ficar fora do governo, porque ela, mesmo que fosse a mais importante jogadora de vôlei do universo, quer que isso aconteça, o que bem demonstra tamanho disparate e grosseria cívicas.

Essa cidadã precisa saber que o presidente do Brasil, que ela e a turma dela pode até normalmente não gostar, como ela deixou muito claro sobre isso, foi eleito pela maioria dos brasileiros em pleito eleitoral segundo os ditames da Constituição brasileira, que ela tem obrigação de acatar e respeitar, e na melhor forma dos princípios democráticos, que estabelecem precisamente que a vontade da maioria deve prevalecer sobre a minoria, porque é exatamente assim que funciona nas civilizações modernas e evoluídas, em que os cidadãos conscientes da sua responsabilidade cívica e igualmente civilizados precisam respeitar as regras democráticas.

Convém que as pessoas entendem que o legítimo exercício do direito de se expressar livre, democrática e politicamente não pode contrariar o direito dos demais cidadãos brasileiros, que, no caso, votaram no presidente da República, por livre opção democrática, que precisa ser respeitada pelos demais brasileiros, inclusive por aqueles que pensam diferentemente, que também devem ser respeitados, sob o princípio de que ninguém é dono da verdade.

Não se pode olvidar que a verdade é direito inviolável, desde que ela não fira gravemente o direito de outrem, exatamente como fez essa jogadora que acha que somente ela tem a razão, por entender que é normal mandar o presidente do país para fora do trono dele, conquistado na forma da legalidade, sem imaginar de forma civilizada que há pessoas que pensam diferentemente dela, motivo pelo qual se pode inferir que é do princípio da correta cidadania se expressar livremente, desde que isso não fira o sentimento das demais pessoas, que também têm o mesmo direito de manifestação, inclusive em contrário, onde prevalece a maioria da vontade popular.

Em que pese entendimento em outra linha, não há, no caso vertente, coisíssima alguma de “atentado à liberdade de expressão.”, na ação espontânea da jogadora, estritamente porque aquele não era momento reservado para a manifestação sobre assunto político, quando a reportagem tratava de esporte, mas ela preferiu fazer gracinha com coisa séria, com a tentativa de provocar situação fora do contexto, inclusive agredindo o sentimento dos eleitores do presidente da nação, que exigem que ela respeite a vontade popular e procure, a exemplo dos trabalhadores brasileiros, exercer o seu ofício com a dignidade que ele exige.

Ao justificar o seu ato de clara insatisfação com o governo, ela lamenta que possa ser sancionada por “exercer a minha liberdade de expressão contra este desgoverno.”, deixando muito evidente a sua forma de rebeldia contra o governo que, por incrível que pareça, patrocina o esporte praticado por ela, o que, no mínimo, exige o silêncio dela, como maneira digna de desportiva inteligente que deve separar as atividades esportivas de outros assuntos, ainda mais precisamente da política, os quais não devem se misturar, por serem matérias diametralmente diferentes.

Na linha do indispensável disciplinamento dos atletas, a CBV agiu com correção, ao admoestar a jogadora e anunciar medidas cabíveis para que os atletas se comportem com a devida compostura de desportivas, enquanto estiverem nos recintos das práticas do seu esporte, evidentemente ficando à vontade, inclusive quanto ao exercício de atos políticos, quando estiverem afastados das atividades profissionais, porque isso deve ser a praxe estabelecida para o engrandecimento do desporto nacional.

A jogadora pode até se lamentar pela possibilidade de ser punida, mas, se a for, não será à toa, à vista da sua atitude intempestiva e leviana de se manifestar contra o presidente da República e os eleitores que o elegeram, a qual não condiz com o verdadeiro sentimento de atleta consciente e responsável.

Não seria outra a medida adotada pela CBV, exatamente porque, com o desejo petulante e acintoso da jogadora de se chamar atenção para determinado fato, em circunstância onde a liberdade de expressão precisava sim ser muito valorizada, no sentido exato de não ter sido pronunciado coisíssima alguma naquele teor, diante da inadequabilidade do momento, estritamente esportivo e isso a atleta tem ciência, justamente para se pôr ordem e disciplina nas competições esportivas, que não devem ser confundidas com palanque político e muito menos com a distorção da liberdade de expressão, por esta ser importante princípio que precisa ser empregado precisamente como forma de valorização dos institutos da democracia e de engrandecimento do homem.

É preciso ficar muito claro que o direito à liberdade de expressão é essencial para o fortalecimento da democracia, da política e da civilidade, mas isso não pode ser confundido com o desrespeito às regras gerais de civismo e patriotismo, como a que foi violentamente quebrada pela expressão manifestada por essa cidadã, diante da evidente afronta às comezinhas normas de civilidade, na fora do desacatamento, com a devida irreverência, do resultado das urnas, que somente poderá ser revertido pelos mesmos eleitores que se dignaram a escolher, livre e democraticamente, o brasileiro para comandar o Brasil e, quem se sentir insatisfeito com o status quo, há a alternativa de deixar o país.     

          Brasília, em 26 de setembro de 2020  


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