quarta-feira, 23 de setembro de 2020

À espera da salvação?

 

Nesta época do ano, muitas regiões brasileiras, em especial o Pantanal e a Amazônia, se transformam em verdadeiro e fumegante braseiro a céu aberto, de abundantes e inclementes labaredas inclementes, facilitadas pelo mato seco que convida ao fogaréu a irromper incontrolavelmente às alturas e às profundidade das extensões territoriais alcançáveis pelas chamas.

Há volumosas cinzas e a catinga forte dos animais fritados ainda em vida  e a terra é transformada em verdadeiro cenário de cruel e real filial do inferno, em ambiente de tristeza, trevas e desolação.

O precioso bioma, extremamente rico em diversidade das espécies, além de ser especialmente cobiçado pelo resto do mundo, simplesmente arde em chamas implacáveis, incontroláveis e avassaladoras.

É o paraíso na Terra sendo dizimado pelas chamas e queimadas, com rapidez que consumem tudo e destrói sem paralelo na história da região, que sofre com o abandono generalizado do governo, que se omite quanto à fiscalização e à ausência de pessoas na região, somente o providenciando quando do auge das desgraças e da impossibilidade de se evitar a perversa destruição da natureza.

Sem dúvida, há inaceitáveis descaso e abandono da região, que é extremamente importante para o equilíbrio do ecossistema, mas, independentemente disso ela vem sendo derretida sob fumegantes brasas, que, de forma avassaladora, castigam toda vegetação e promove o massacre e o abate criminosos dos animais de toda espécie da região, em completo e explosivo caos impingido ao meio ambiente, em forma de extinção de exuberante e incomparável paisagem da rica natureza brasileira.

A alegria dos cantares dos pássaros e incontrolável movimento dos animais silvestres foram substituídos por quadro monstruoso de animais mortos, exterminados e dizimados pela ação arrasadora do fogo impiedoso.

A extensão territorial pantaneira, considerada a maior planície alagável do planeta, perdeu expressiva vazão de água, o que significa enorme prejuízo para a região e para a natureza.

          Resultado do mesmo pendor à irresponsabilidade de governantes, nos diversos escalões, que fizeram secar recursos e brigadas de vigilância para proteger a região.

Dados levantados pelo INPE mostram que os incêndios provocados e os desmatamentos ilegais cresceram 210% entre janeiro e 15 de setembro em curso, em comparação com o mesmo período do ano passado e isso é fato incontestável que merece investigação pertinente e responsabilização.

O fogo já consumiu a área equivalente a 2,5 milhões de hectares, o correspondente ao território de estado como Sergipe ou a quase quatro vezes o tamanho do Distrito Federal.

O descaso das autoridades e o fracasso do controle oficial estão estampados nas cenas que mostram a mortandade na região as cinzas da que fora verdadeiro paraíso terrestre, em meio à angústia dos brasileiros, que se espantam com a irresponsável ação do poder federal, que, pasmem, foi capaz de reservar insignificante quantia de R$ 3,8 milhões para fazer face à ferocidade das forças da destruição, o que não representa nem mesmo pequena esmola.

Isso representa verdadeiro vexame diante dos ingentes esforços do governo federal, que se mostra favorável ao perdão do valor equivalente a R$ 1 bilhão de dívidas de igrejas evangélicas, conforme iniciativa articulada pelo próprio presidente do país, o que bem evidencia a maneira distorcida das prioridades do governo, quanto ao sentimento do zelo que deveria existir ao patrimônio dos brasileiros.

As autoridades teimam em ignorar a realidade dos fatos e insistem em dizer que nada é o que parece, quando as imagens são indiscutíveis e expressivamente reais e chocantes.

          A preservação do rico e precioso ecossistema pantaneiro, diante da sua importância tanto nacional como mundial, não pode mais ficar circunscrita a meros discursos e opiniões infrutíferos, de ecologistas, defensores e ambientalistas ocasionais  e de plantão, mas sim ele exige ação efetiva do governo, que precisa priorizar políticas de proteção abrangente do valioso bioma.

          Enfim, o governo tem a competência constitucional para garantir a preservação do meio ambiente e do gigantesco complexo que o integra, cujo poder de polícia o capacita a agir com força e poder para pôr ordem e segurança no sistema de que se trata.

          Com base nisso, o governo vem se consolidando refém de si próprio, em termos de incompetência, ao afirmar que fazendeiros, índios, mineradores e outros seres irresponsáveis vêm ateando fogo na floresta, de forma criminosa, para incriminá-lo.

          Se isso é realmente verdadeiro, por qual motivo o governo ainda se permite ficar nesse infindável “blábláblá” de acusações infrutíferas e não parte, de forma efetiva, para as devidas apurações e investigações dos incêndios criminosos?

É preciso que o governo apure e, se for o caso, acuse formalmente os envolvidos à Justiça, com a finalidade de puni-los, na forma da lei, e, ao fim, adotar medidas da sua incumbência legal capazes de exterminar, de vez, esse que parece ser novela cancerosa de acusações sem provas e destituídas de consistência material, ante a  insensata verborragia que nunca termina por parte do governo, que prefere se omitir, ao invés de agir na forma legal, no sentido de que, repita-se, imediatamente sejam investigados os incêndios suspeitos de irregularidade, para as devidas imputações de responsabilidades penal e civil, eis que há danos à natureza que exigem urgentes reparações.

Enquanto a caravana passa, o governo fica se esquivando, se justificando e se ausentando do fiel cumprimento da sua responsabilidade de garantidor da preservação do meio ambiente, que fica se ardendo e sendo transformado em cinzas, à mercê de providências enérgicas para pôr fim a esse estado lamentável e criminoso, onde somente prevalecem indiscutíveis omissão, acusação e incompetência, diante de desastre ecológico da maior dimensão que somente exige sensibilidade, racionalidade e compreensão para a gravidade da crise que afeta a humanidade, à vista da fragilização das condições ambientais favoráveis à vida.

Independentemente de ideologias, urge que o governo se conscientize de que não é mais momento de explicações ou justificativas sem bases probantes e científicas, mas sim de ações efetivas, no sentido de se promover forte investimento nas investigações sobre as verdadeiras causas dos incêndios criminosos, com as consequentes adoções das medidas preventivas pertinentes, com vistas à salvação dos biomas prejudicados, que não merecem ser tratado com tantas incompetência e irresponsabilidade.     

Urge a mobilização geral dos brasileiros, no sentido de que haja a adoção das medidas constitucional e legal de competência dos governantes, como maneira inteligente de conscientização para a salvação das áreas vitais para a humanidade, de modo que seja possível se evitar o comprometimento das futuras gerações que dependem muito do fortalecimento do meio ambiente e com plenas integridade e vitalidade.

Brasília, em 23 de setembro de 2020

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