O
presidente brasileiro disse, em discurso na abertura da Assembleia-Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), que
“é vítima de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a
Amazônia e o Pantanal".
Dados
confiáveis mostram que o Pantanal registra o maior índice de queimadas desde
1998, quando os incêndios passaram a ser medidos, e a Amazônia volta a se
aproximar dos recordes de destruição ocorridos no ano passado.
O
argumento do presidente é o mesmo que tem sido ecoado pela base militar que
ocupa o Palácio do Planalto e que é alardeado pelo Ministério da Agricultura e
pelo próprio Meio Ambiente, de que “países incomodados com a competitividade
do agronegócio brasileiro querem prejudicar a imagem do Brasil.”.
O
presidente do país disse que "os focos criminosos são combatidos com
rigor e determinação", esquecendo ele que programas que existiam para
combater os incêndios foram eliminados pelo governo, mas, para tanto, não foi
apresentada a devida justificativa.
Organizações ambientais, ambientalistas e
políticos criticaram, com muita veemência, o discurso pronunciado pelo
presidente da República, por acharem que os fatos são bastantes distorcidos da
realidade.
Um
ministro do Supremo Tribunal Federal, sem citar diretamente o presidente
brasileiro, disse que o combate ao desmatamento não é escolha política, mas sim
dever constitucional, assumido pelo país em acordos internacionais.
A
coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil afirmou que presidente
do país agrava a situação enfrentada pelo Brasil, ao tentar minimizar o drama
ambiental, piorando ainda mais a imagem do país no exterior.
Ela
disse que, "Ao invés de negar a realidade, em meio à destruição recorde
dos biomas brasileiros, o governo deveria cumprir seus deveres constitucionais
em prol da proteção ambiental e apresentar um plano eficiente para enfrentar os
incêndios que consomem o Brasil".
A
diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil disse que o discurso do presidente
foi cheio de "acusações infundadas e ilações sem base científica",
afirmando ainda que a postura dele não é condizente com o papel de chefe de
Estado.
A
citada diretora disse que "Como um roteiro de ficção, o discurso uniu
palavras-chave das Nações Unidas com descrições de um Brasil que não existiu em
2020, em completo negacionismo da realidade do país e desconsiderando a
urgência e seriedade dos desafios globais que o secretário-geral da ONU,
Antonio Guterrez, descreveu em sua fala.".
A
diretora executiva da Oxfam Brasil lembrou que o presidente fez “uso de
dados distorcidos sobre o meio ambiente. O governo atual se especializou em
disseminar a 'pós-verdade' para eximir-se da responsabilidade pelos graves
problemas que o país enfrenta. E isso em nada contribui para que tenhamos as
soluções necessárias.".
Alguns
políticos questionaram a veracidade de pontos levantados pelo presidente do país,
como o valor do auxílio emergencial, como no caso de um senador da oposição,
que indagou: "Alguém sabe me dizer qual o brasileiro que recebeu esse
auxílio emergencial de US$ 1.000,00 que Bolsonaro falou na ONU?".
O
líder da oposição na Câmara dos Deputados chamou o presidente do país de
mentiroso, tendo afirmado que "Bolsonaro foi à Assembleia-Geral da ONU
para mentir. Será demolido pela imprensa internacional e brasileira.".
Em
que pesem as muitas manifestações reprovando o conteúdo do discurso em tela, o líder
do governo na Câmara assistiu ao discurso junto ao presidente e aproveitou para
parabenizá-lo e patentear: "Discurso impecável do presidente,
esclarecendo posições de governo com ênfase no meio ambiente".
De
acordo com levantamentos, o Brasil está entre os maiores emissores de gases do
efeito estufa, não em decorrência do desenvolvimento socioeconômico, do progresso,
da industrialização ou do consumo desordenado, mas em razão de gases oriundas de
atividades criminosas de incêndios, por força, em especial, de desmatamento,
extração ilegal de madeira e grilagem de terras.
Esses
fatos são evidenciados de maneira objetiva e consensual, por que documentados e
comprovados, estatisticamente.
É
preciso que o governo seja humilde para se conscientizar sobre a urgente necessidade
de não ficar batendo na mesma tecla de que tem sido vítima do sistema e, de logo,
enfrentar a realidade sobre os fatos, com vistas ao diagnóstico preciso e
correto sobre a crise relacionada com os infindáveis incêndios, evitado imaginar
que não é nada do que dizem, enquanto a floresta é transformada em montanhas de
cinzas, que não tem nenhuma serventia para o homem.
Na
realidade, o governo, por força da sua incumbência institucional, precisa atuar
exclusivamente no sentido da preservação da floresta e isso se promove, com
competência, eficiência e responsabilidade por meio e esforços conjuntos, onde
deva prevalecer a boa vontade, a compreensão e principalmente a conscientização
sobre a gravidade do problema, que cada vez mais se agigante e não adiante
tentar combatê-lo por meio desse “blábláblá” de pouca ação e muita contradição,
onde o governo se coloca como vítima, com a afirmação nada aproveitável de que ele
“é vítima de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a
Amazônia e o Pantanal.”.
Essa
descomunal e ingênua alegação do presidente é apenas prova da gigantesca incompetência
governamental, porque desinformação se combate com ação efetiva sobre os fatos
em questão, que tem a capacidade de contrapô-la com elementos plausíveis e nada
disso foi apresentado como álibi do governo, que permanece mergulhado na eterna
dificuldade para combater os incêndios, adotar medidas preventivas, apurar os
crimes contra a natureza e punir os envolvidos na destruição do ecossistema brasileiro.
O
governo com o mínimo de competência não precisaria de muito esforço para
comprovar os fatos verdadeiros, bastando apenas indicar a evolução dos
incêndios no decorrer dos anos, ou seja, nos também nos governos anteriores, e,
de igual modo, as medidas adotadas no combate deles, inclusive os gastos
realizados, de maneira tal que não restassem quaisquer dúvidas sobre as
centelhas de desconfiança e muito menos de descrédito sobre possível omissão do
governo.
Agora,
há o consenso de que não tem o menor cabimento que o presidente da República
seja ridicularizado perante a opinião pública, sendo considerado mentiroso, por
usar “dados distorcidos sobre o meio ambiente” e “disseminar a
'pós-verdade' para eximir-se da responsabilidade pelos graves problemas que o
país enfrenta.”, porque essa não é a postura condizente com a dignidade do
cargo do mandatário da nação.
Os
brasileiros esperam que o presidente da República se conscientize de que a sua
postura de acusações precisa ser transformada, com urgência, em medidas
efetivas de combate aos incêndios, por meio de políticas de investimentos maciços
e prioritários que consistam na investigação dos fatos criminosos, na identificação
dos culpados, na adoção de medidas preventivas e, em especial, na multiplicação
da vigilância, notadamente nas localidades de maiores incidências dos focos de
incêndios.
Brasília,
em 24 de setembro de 2020
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