Na crônica intitulada “A ajustável estratégia”,
foi abordado um pouco sobre os fatos pertinentes à gestão presidencial, quanto
à ideia consistente sobre alguns aspectos do estilo bolsonariano, onde o
sentimento de mudanças pode ter ficado nas pranchetas da campanha eleitoral,
mas houve a implantação da inaceitável aliança com grupo político sem
credibilidade moral, tendo por finalidade a “salvação” do governo que se dizia
imune aos conchavos políticos, além do distanciamento das mudanças prometidas
de moralidade, que foram abortadas antes da concepção, restando, agora, as
perspectivas que estão sendo construídas em torna das estratégias de marketing
político, visando à tão ambicionada reeleição.
Um ilustre e atento conterrâneo teceu
importante comentário acerca do meu texto, mostrando o seu inconformismo com ele
e apresentando notáveis ponderações, nos termos a seguir: “Grande escritor
Adalmir a campanha do atual presidente foi vitoriosa por defender o combate à
corrupção, a família, permanência de programas de governos anteriores que deram
certo e Deus. Deus continua acima de todos, a família valorizada ante a
anarquia que estava tomando conta do nosso país, já tão sonhado combate à
corrupção deveria estar bem avançado se projeto de lei do ex-ministro da
justiça e segurança pública não tivesse sido desidratado pelos famigerados
representantes dos poderes legislativo e judiciário. Sem esquecer que o
prometido não contava com essa pandemia que assola o país e o mundo inteiro.
Abominável a política do ‘toma lá dá cá’, mas o que fazer para evitar que o STF
e o Congresso o impedisse de tentar governar? Abs”.
Em
primeiro lugar, digo que fico desconfortado com o lisonjeio da menção a
"grande escritor", pelo que agradeço, mas sei perfeitamente que nem
escritor me considero.
Quanto
à ponderada mensagem em defesa do excelentíssimo senhor presidente da República,
acredito que ela mereceria nota bem graúda não fosse o esforço em complacência
e defesa da vergonhosa e triste aliança com o grupo político que representa a
nata da indecência moral.
É
notório que, ao se alinhar a pessoas desse grupo, o presidente do país diz que
concorda plenamente com os métodos degradantes empregados por integrantes dele,
o que significa dizer que o mandatário brasileiro se associa ao indigno
fisiologismo, que nada mais é do que não ter pudor de se aproveitar da coisa
pública, como é o caso das suspeitas práticas protagonizadas por políticos integrantes
desse grupo político, porque, do contrário, eles apoiariam o governo sem cargos
nem emendas parlamentares, mas sim apenas pelo amor à pátria, que sabidamente
não é o caso.
Além
do mais o indecente acordo não é nada republicano, porque o seu objeto é o mais
abjeto imaginável, porque ele somente foi selado diante da certeza de o
presidente ter se borrado todo quando percebeu que as suas injustificáveis e
insanas agressões aos parlamentares e ministros do Supremo poderiam resultar na
formalização de processo do seu impeachment e antes que isso possa se
viabilizar, o presidente perdeu a dignidade de gestor público e concordou em
fechar esse decepcionante e espúrio pacto com o Centrão.
Ou
seja, se ainda que o indecente e deprimente acordo em causa fosse para a
consecução de algum projeto de interesse público, que não é o caso, porque o
seu objetivo é a defesa pessoal do presidente, mesmo assim também não se
justificaria, de maneira alguma, a sua materialização.
À
toda evidência, o Centrão foi partícipe das roubalheiras protagonizadas por
governos que envergonharam os brasileiros e o atual não escapa da pecha de ser
igualmente impudico e indigno como aqueles que mantinham relação com políticos
detestáveis pelas pessoas que defendem a moralidade na gestão pública,
independentemente das circunstâncias, inclusive sob a ameaça de processo de
impeachment, não importam os fatos.
Entristece
muito que pessoas honradas e de bem consigam abonar esse desgraçado acordo, porque
ele é simplesmente a representação de tudo de ruim que acontecia naqueles
governos, cujos atos censuráveis o atual governo prometeu que não repetiria,
mas fez exatamente igual, mesmo sabendo que é indigesto e repugnante, sob o
prisma dos princípios civilizatórios da dignidade pública.
Infeliz
e desgraçadamente, o presidente do país recebeu, no Palácio do Planalto, com
sorrisos largos e abraços abertos, sem o menor constrangimento, os principais
líderes do Centrão, para os quais foram abertas e escancaradas as portas do governo
para a entrada triunfal de grupo cuja índole é do conhecimento de tribunais brasileiros,
o que se recomendaria distanciamento dele, em nome da dignidade da gestão
pública e em respeito dos eleitores que anda acreditaram na honradez da palavra
do homem público.
Com
absoluta certeza, no futuro, os candidatos adversários ao presidente do país
terão forte argumento para afirmar que ele, com a assinatura do acordo com o
Centrão, perdeu a primazia de dizer que, no seu governo não há atos espúrios, porque
esse acordo já maculou, em definitivo, a imagem da lisura na gestão da coisa
pública.
À respeitável indagação formulada na
supracitada mensagem, no sentido de que: “mas o que fazer para evitar que o
STF e o Congresso o impedisse de tentar governar?, suscita-se a resposta
mais inteligente, cabível, racional e civilizatória para todos os casos em que
o presidente do pais se sentisse, de alguma maneira, atingido ou prejudicado no
exercício do seu mandato, por decorrência de atos ou medidas aprovados por
integrantes do poderes Legislativo e Judiciário, em comprovada contrariedade
aos interesses da República.
Refiram-se aos recursos normalmente usuais e próprios
dos regimes democraticamente modernos, em estrita harmonia com os evoluídos princípios
do bom senso e da racionalidade, onde as
questões de natureza jurídica e outras que envolvam os interesses da República
são mediadas por meio instrumentos e mecanismos em nível elevado de condução,
onde os fatos devam ser esclarecidos, justificados e julgados, sobretudo à luz do
exclusivo interesse da sociedade.
Não obstante, o presidente do país, inflado por
meia dúzia de pessoas completamente possuídas pelo sentimento de extremo nacionalismo,
para não dizer o que realmente elas eram, em termos da verdade sobre os fatos,
enveredou por caminho escorregadio e contrário daquele indicado no parágrafo anterior,
tendo perdido completamente a razão e os comezinhos sentimentos inerentes ao
estadista sério, competente e responsável, para se achar no direito de
responder aos integrantes dos outros poderes, não importando a liturgia do
cargo presidencial, com palavras duras, agressivas e extremamente ameaçadoras,
a ponto de ter chegado a insanidade de afirmar, sem a menor razão: “chega
p....”, dizendo que tinha chegado ao limite de tolerância, como se ele
fosse o único dono do poder e da razão.
No auge da loucura e insanidade presidenciais,
algo maravilhoso aconteceu para o bem país, que foi a prisão de ex-assessor de
um dos filhos dele, quando, de repente a partir daquele momento, ele caiu na
realidade e determinou a seus assessores que procurassem o entendimento junto aos
integrantes dos poderes que ele vinha agredindo e escrachando de maneira
sistemática, reiterada e injustificável, porque ele estava disposto a hastear a
bandeira branca e aceder o cachimbo da paz.
Tudo muito simples, porque é possível que o
presidente deva ter entendido que nunca existiu intenção de ninguém impedi-lo
de governar ou trabalhar, mas sim ele próprio conseguiu construir fantasma monstruoso
dentro de si e transportá-lo para um bando de fanáticos, sob a ideia de que havia
interesses estranhos querendo derrubá-lo, quando o bom senso, a racionalidade e
a responsabilidade cívicas demonstraram que tudo não passou de ideias nascidas
em mentes perturbadas, conforme mostram os fatos presentes da tranquilidade imposta
pela serenidade da governabilidade do país.
Os brasileiros honrados e cônscios da sua
responsabilidade patriótica e cívica não podem afiançar qualquer aliança espúria
do governo, por acreditarem que motivo algum seja capaz de macular os sagrados
princípios republicanos da moralidade e da dignidade na administração pública.
Brasília, em 5 de setembro de 2020
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