O presidente da República decidiu efetivar o
ministro interino da Saúde como titular da pasta, por entender que ele vem realizando
excelente trabalho à frente do ministério.
O agora ministro da Saúde é general do Exército, que
vinha exercendo o cargo na condição de interinidade, depois das fracassadas
escolhas dos titulares da pasta pelo presidente do país.
A atuação do ministro interino no comando da pasta
vinha sendo elogiada de maneira reiterada pelo presidente do país, que dizia
reconhecer no subordinado a capacidade de gestão.
Outro assessor palaciano, da cúpula do governo, ressaltou
o "excelente trabalho" do ministro interino como motivo para a
efetivação.
A condição de o ministro da Saúde ainda estar na
ativa das Forças Armadas chegou a ser usada como forma de pressão de
parlamentares sobre o presidente da nação para que ele fosse substituído, em
razão de ele ser o único militar nesta condição entre os ministros.
Em julho, o general foi pivô de séria crise com um
ministro do Supremo Tribunal Federal, que chegou a afirmar que o Exército se
associou a um "genocídio", em alusão feita à condução do
governo federal frente à epidemia da Covid-19.
É evidente que não se pode afirmar que o Exército seja
cúmplice com os atos do ministro da Saúde só porque ele é da ativa dessa força,
porque em nada diferenciaria se ele já estivesse na reserva, de vez que as
políticas de saúde pública nada têm a ver com a vinculação do ministro senão
com o próprio presidente do país.
Agora, é preciso se ressaltar, por ser verdade
irrefutável, que certamente em nenhum país do mundo, nem mesmo nas piores republiquetas,
um ministro da Saúde não seja pessoa com formação em Medicina, com capacidade à
altura para compreender os meandros das questões específicas de saúde pública,
em se tratando da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, diante da
complexidade das situações que exigem conhecimentos para a familiarização, a facilitação
e a compreensão sobre os assuntos próprios da área, que precisam da melhor análise
para destrinçamento das causas levantadas e a adoção do que for melhor para o
seu saneamento.
Prova cabal e definitiva de que esse governo não tem
o necessário zelo pela saúde pública, por manter na pasta pessoa sem o devido
conhecimento da área, foi a nomeação, ainda como ministro interino, de um servidor
veterinário para chefiar a campanha de vacinação de imunização contra o Covid-19,
quando o esperado pelos entendidos da questão, por ser o normal, teria sido a indicação
de especialista com formação na área sanitária, ou seja, um profissional da
medicina sanitária, i.e., sanitarista com experiência em saúde pública.
Certamente que seria brutal injustiça e até mesmo insensibilidade
de avaliação se atentar atribuir responsabilidade ao presidente do país por ele
não nomear especialista da área para comandar o principal órgão responsável
pela execução das políticas voltadas para o combate da pandemia do novo coronavírus,
que já dizimou milhares de vidas humanas, quando poderia se imaginar outra visão
para o trabalho de combate à pandemia em causa.
Parece válido se imaginar, com muita convicção, que
muitas vidas poderiam ter sido evitadas caso o titular da pasta da Saúde fosse
realmente um especialista em saúde pública, com formação em Medicina, porque ele
poderia ter buscado, diante do caos da saúde, durante a ausência desse valioso profissional,
mecanismos e instrumentos com capacidade para se evitar ou minimizar a enorme
extensão desse desastre humano, que massacrou e continua infernizando a população
sob o mesmo ritmo depois da implantação do protocolo da cloroquina, quando, a
partir de então, nada mais foi criado, imaginado ou implantado para combate à
gravidade da incidência dessa desgraça do Covid-19.
Qualquer governo, com o mínimo de competência e com
o pouco de preocupação com a saúde da população, certamente teria se articulado
para que a sua equipe da saúde pública tivesse insistido e investido na busca
de outras medidas experimentais, mesmo que não levassem a resultado algum, mas
somente a vontade de iniciativa já demonstraria que ele não tivesse ficado absolutamente
conformado com os desígnios de Deus, à espera de milagres celestiais caídos do
céu, porque é da natureza do governo cuidar da saúde pública e todo esforço
ainda é pouco, quando se encontra em jogo a saúde de pessoas.
Enfim, fica muito claro que a efetivação do ministro
da Saúde tem por propósito atender à vontade da subserviência dele ao governo,
por evidente demonstração da cega obediência ao presidente, quando, ao contrário,
o interesse público tem por finalidade a exclusiva aderência do titular da
pasta à efetividade do seu trabalho, em termos da plena satisfatoriedade do bem
comum da população.
À toda evidência, neste caso, suscita-se a ilação natural
e inevitável de que o governo está muito mais consciente de que o seu nível de relacionamento
com o titular da pasta da Saúde é muito mais importante do que propriamente a
eficiência que certamente seria alcançada se estivesse no seu comando um
profissional que realmente entenda, em princípio, das demandas institucionais
do órgão, em condições não somente de atendê-las da melhor maneira segundo a
sua competência constitucional, além de contar que o conhecimento dele poderia
contribuir para alternativa muito mais interessante para os cuidados da saúde
pública por quem conhece do métier.
É extremamente lamentável que o governo tenha
mentalidade muita estreita para tratar de assunto da maior importância para a
população, porque quem está no joga é a vida dos brasileiros, que bem merece atenção
e cuidados dignos e compatíveis com a sua grandeza, no sentido de que fossem
priorizadas pelo governo as políticas de saúde pública, nas amplas possibilidades
para a sua melhor formulação, com absoluto e total desprezo aos critérios de
confiança e amizade, porque isso tem caráter apenas pessoal, enquanto aos
trabalhos do Ministério da Saúde têm a responsabilidade maior do atendimento ao
interesse público.
Diante do exposto e das circunstâncias, parece ter plena
pertinência que brasileiros possam protestar contra o conformismo do governo
com a normalidade da gestão da saúde pública, apenas no sentido de se satisfazer
com a ausência de conflitos entre o titular do Palácio do Planalto com o ministro
da pasta, conquanto milhares de mortes continuam acontecendo sem que novas
iniciativas governamentais sejam esboçadas na tentativa da busca de novas
medidas de combate ao temível Covid-19.
Brasília, em 15 de setembro de 2020
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