Passada mais de uma década do início das obras da transposição das águas do Rio São Francisco,
o ex-presidente da República petista continua a reivindicar como suas as obras
pertinentes, sob a alegação de que foi no seu governo que tudo teve início.
Já
em 2017, depois de nove dias da inauguração oficial das obras do Eixo Leste, pelo então presidente do país, os
ex-presidentes da República petistas comparecerem ao mesmo local, para promoverem
o que eles denominaram de “inauguração
alternativa” das mesmas obras.
O
ex-presidente petista postou em suas redes sociais fotografia e afirmação de
que, na verdade, ele “lutou para tornar realidade a transposição do São
Francisco”.
A
referida publicação foi postada um dia antes de o atual presidente brasileiro,
atendendo a apelos de parlamentares do Centrão nordestino, visitar a cidade de
Jati, no Ceará, onde foi inaugurado o trecho das obras do Eixo Norte da transposição.
Não
à toa, a disputa pela “paternidade” da obra e suas concorridas inaugurações são
exposições políticas extremamente valiosas, sob a esperança da geração de grande
potencial de dividendos eleitorais, em razão da figuração do nome do político
que conseguiu, enfim, fazer correr água no solo castigado pelas secas.
A
transposição das águas do Rio São Francisco foi cogitada desde a época do
reinado de Dom Pedro II, no Segundo Reinado, precisamente no século XIX, atravessando-se
mais de cem anos de história, repleta de problemas, disputas, reviravoltas e interesses
políticos, tudo gravitado em torno do voto dos nordestinos, cuja disputa por
ele jamais terá fim, diante da sua importância como fiel da balança eleitoral.
Diante
desse contexto, finalmente, em 2007, o Orçamento da União foi contemplado com os
primeiros recursos destinados às obras iniciais das transposição em apreço, na
expressiva dotação do valor estimado de 5 bilhões de reais, cuja previsão logo
se transformou em cerca de 12 bilhões de reais, reservados para a conclusão das
obras de suma importância para o povo do Nordeste.
Na
concepção do cronograma original, que foi integrado ao Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), havia a previsão para dezembro de 2012, ainda no primeiro
mandato da presidente petista, da conclusão do Eixo Norte, este que teve o
trecho inaugurado recentemente, depois de 13 anos do seu início, como se fosse
uma obra faraônica, quando se trata apenas de canalização de água,
aparentemente obra pública comum e de engenharia apenas modesta.
De
acordo com informação do Ministério do Desenvolvimento Regional, o canal em
apreço tem 260 quilômetros de extensão, que atravessa os estados de Pernambuco,
Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, cujo eixo tem 97% das obras concluídas.
No
Eixo Leste, inaugurado oficialmente pelo governo anterior, há mais de três
anos, os canais chegaram a ter o fornecimento de água interrompido, em 2019, em
razão da apresentação de sérios danos nas suas estruturas, que exigiram imediata
reparação, por causa do longo tempo exigido para a sua conclusão.
Um
perito do Ministério Público Federal da Paraíba vistoriou cerca de 40
quilômetros, entre as cidades de Sertânia (PE) e Monteiro (PB), em julho do ano
passado, tendo constatado uma série de problemas com o revestimento de concreto,
com visíveis fissuras, trincas e rachaduras que chegam a mais de 1,5 centímetro
de espessura; além de falhas em estruturas de drenagem; acumulação de areias no
fundo dos cursos d’água, levadas pelas chuvas, qu4e causaram assoreamento dos reservatórios;
obras de drenagem com paredes quebradas, comprometidas por erosão, e algumas
canaletas quase invisíveis, cobertas por terra e pedregulhos.
Em
se tratando de obras da maior importância para a região carente do Nordeste, não
há a menor dúvida de que é muito importante que haja o devido reconhecimento sobre
a sua paternidade, para que isso possa demonstrar o tanto de zelo dos
governantes que, enfim, contribuíram para minimizar o sofrimento do povo daquela
região, sempre duramente castigada pela terrível escassez do precioso líquido.
Agora,
fica muito claro que, a depender de alguns governos, essa importante obra jamais
seria inaugurada, porque as notícias da época sempre deixaram à vista o seu abandono,
em verdadeiro estado de completo desprezo, sem a menor preocupação com o desperdício
do dinheiro público que já havia sido investido, cujos governos permitiram que
esse estado deprimente da coisa pública atravessasse mais de uma década para que
ela fosse, enfim, concluída, sem que houvesse a necessária adoção de medidas corretivas
e saneadoras, à vista dos elevados investimentos públicos.
Por
último, à toda evidência, foi necessário que o atual governo estabelecesse
prioridade para a conclusão de obras extremamente importantes, que jamais poderiam permanecer em estado de
completo abandono, à vista não somente do alto custo financeiro já investido, mas
em especial da sua relevância para o saneamento de gigantesco problema enfrentado
pela população nordestina, que tanto precisa suprir a sua necessidade de água, que
é de vital importância para a vida, tanto humana como dos animais.
No
caso das obras em comento, a sua verdadeira paternidade se reveste da maior
importância, tanto por seu extraordinário valor para os nordestinos, como
instrumento que pode abastecer com água a região que sofre com a constante
falta do precioso líquido, como pela forma de valiosos dividendos eleitorais,
tendo em vista que a secular falta de água já ajudou a eleger uma legião de
políticos aproveitadores da ingenuidade e da boa vontade dos sertanejos.
É
preciso que essa importante paternidade possa continuar a ser vista e
reconhecida pelos nordestinos, na garantia da continuidade da obra, porque ela
vai exigir, para a perfeita operacionalidade das suas estruturas, de bem servir
ao interesse da população, que o governo se preocupe mais ainda em mantê-la bem
cuidada e em condições da permanente e efetiva canalização da água, sob a plena
satisfatoriedade, porque pai mesmo tanto pode ser quem gera a criatura como também
quem trata dela com atenção e carinho, para o resto da sua existência.
Brasília,
em 1° de setembro de 2020
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