O presidente da República, enfim, admitiu, em ato solene
com a imprensa, não ter provas para afirmar que haja risco de fraude no sistema
atual de urnas eletrônicas ou ainda que as últimas eleições realizadas no país
tenham sido fraudadas.
O presidente brasileiro
convocou veículos de imprensa e usou a emissora pública de televisão para a
transmissão em tempo real, na qual, segundo anunciou previamente, seriam
mostradas "provas" das fraudes, mas, ao invés de apresentá-las, ele
expôs uma série de notícias inverídicas e vídeos requentados da internet, que
já foram até objeto de desmentidos, por diversas vezes, por órgãos oficiais
competentes.
O presidente do país
disse que "Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios que
eleições para senadores e deputados podem ocorrer a mesma coisa. Por que não?
Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Apresente
provas de que ele não é fraudável (sic). Não tem como se comprovar que
as eleições não foram ou foram fraudadas".
Segundo o serviço de
checagem de fatos de uma empresa de comunicação, as simulações apresentadas sobre
indícios de fraudes em urnas eletrônicas brasileiras, as mesmas mostradas no
evento presidencial, não condizem com a realidade praticada pelo Tribunal Superior
Eleitoral, uma vez que isso já foi devidamente refutado.
O Tribunal Superior
Eleitoral, a propósito dos vídeos mostrados no evento em apreço, já explicou,
em momentos oportunos, que "Em termos de dispositivo de hardware, a
urna é um computador. Porém, não é um computador comum de mercado, mas sim
projetado conforme exigências estabelecidas pelo TSE para garantir a segurança
de seu hardware".
O momento mais decepcionante e até
melancólico do evento ocorreu precisamente quando assim se esperava que o presidente
do país fosse apresentar as ansiadas provas sobre as fraudes nas urnas
eletrônicas, mas ele apenas se dignou a declarar que não tinha como mostrá-las,
em que pesem as suas reiteradas e agressivas afirmações de que elas são fraudáveis.
Por seu turno, ficou acentuadamente
ainda mais ridículo para o presidente do país, ao tentar inverter o seu papel
de acusador, exigindo que as pessoas que alegam que ele não tem provas apresentem
comprovantes de que as urnas eletrônicas não são fraudáveis, fato este que não
tem o menor cabimento, em se tratando que foi ele que deu abertura, de maneira
espetaculosa, de discussão sobre a suspeita da existência de vulnerabilidade da
segurança das urnas brasileiras.
O presidente se coloca,
nesse ponto, em nível da mais pura infantilidade, ao ignorar que cabe o ônus da
prova à parte que alega ou acusa, porque isso é princípio comezinho do direito
pátrio, ficando muito claro que ele não tem realmente argumento de sustentação para
os seus objetivos, embora qualquer criancinha sabe perfeitamente que o aperfeiçoamento
pretendido das urnas eletrônicas é muito importante e somente contribui para
tornar a votação brasileira desejável ao alcance da modernidade, possibilitando
muito mais segurança e credibilidade para o conforta e a tranquilidade dos
brasileiros.
A declaração do
presidente do país só demonstra o extrema da incompetência e da irresponsabilidade
por parte da maior autoridade da República, ao chegar ao ponto de esculhambar,
com veemência, o sistema eleitoral brasileiro, mas é infinitivamente
incompetente para apresentar uma única prova, a despeito de agredir com palavras
chulas o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que, competente ou não, ele
representa a principal da Justiça Eleitoral, fato este que só demonstra muito menosprezo,
além de tantas atitudes de baixarias, intolerância e indelicadeza, como se ele
tivesse como provar a sua que é legitima pretensão de aperfeiçoar o
funcionamento das urnas eletrônicas, por meio da adição da impressão do voto,
de modo a contribuir para tornar mais segura a votação brasileira.
O presidente do país precisa
saber que as atitudes dele, por todas as incisivas formas que ele vem se expressando
para demonstrar a necessidade da mudança do procedimento de votação somente
contribuem para mostrar o quanto a autoridade da relevância dele jamais deveria
tratar de assunto de tão elevada importância com tanta pequenez, imaturidade e
insensibilidade, a ponto de conduzir milhões de brasileiros em solidarizarem-se
com o seu projeto denominado “voto auditável”, evidentemente na esperança da
existência justificativa convincente e plausível.
Infelizmente, muitos brasileiros
acreditavam, à vista das bravatas e dos blefes presidenciais, que havia base
reais para eles, dando a verdadeira impressão de que existia ao menos uma fraude
materializada que fosse, para justificar tamanho empenho, de molde a sensibilizar
a todos sobre a necessidade da implantação das medidas objetivadas por ele,
como sendo algo efetivamente imprescindível e inadiável, por força da constatação
de falha implacável de falta de segurança e credibilidade, ante, ao menos, repita-se,
um caso sequer que ele tivesse como prova material.
Ou seja, o presidente
do país, depois de aprontar um dos maiores escarcéus sobre as urnas
eletrônicas, deve sair desse imbróglio com a credibilidade a mais reduzida possível,
por mostrar que todo alarde feito por ele tinha por base a significância do menor
grão de areia sobre o caso, ou seja, sua excelência teve a ousadia de defender,
com a maior garra, imbuído dos piores sentimentos de incivilidade, causa que
não encontra respaldo em nada, mostrando o quanto ele perdeu seu precioso tempo
gasto em algo que se torna fútil, com final melancólico, em termos de
finalidade pública, diante de tanta dramaticidade cujos fatos dispensariam patéticas
encenações.
A toda evidência, todo
desgaste protagonizado pelo presidente do país deve ter tido alguma validade
para desviar o foco da imprensa para o assunto relacionado com as urnas
eletrônicas, de modo que outras matérias que estavam incomodando o governo tivessem
menos ou nenhuma focalização em momento delicado da gestão presidencial.
Enfim, as ”provas” que
o presidente do país tinha prometido apresentar contra as urnas eletrônicas cingiram-se
apenas em miscelânea de fatos inconsistentes e já descartados, por serem inaproveitáveis,
pela Justiça Eleitoral, colhidos que foram na internet, sem a menor validade
para o fim da seriedade que se espera para o trato de assunto da maior
relevância para os brasileiros, ficando muito ruim para a sustentação da defesa
do projeto de aperfeiçoamento do sistema eleitoral, que realmente exige
mudança, mas sob a melhor compreensão de que se aconselharia que ela poderia
sim ter sido encaminhada no âmbito da competência e da responsabilidade, como normalmente
fazem os verdadeiros estadistas, na forma mais civilizada e inteligente
possível, ao contrário da tragédia que se resume e se encerra no lamentável episódio
em comento.
A situação do
presidente do país, neste caso do voto impresso, se torna definitivamente
ridícula, agora, quando ele já teria ameaçado inclusive nem participar da sua
reeleição se essa medida não seja implantada, dando a entender que havia
realmente algo da maior gravidade quanto à falta de credibilidade do
funcionamento da votação, no sentido de realmente haver casos comprovados de
fraudes, quando tudo se comprime em sintetizações pífias e deprimentes, sem a
menor validade para justificar a compreensão de assunto que se apresenta como
da maior importância nacional, que é a seriedade no sistema eleitoral
brasileiro.
É pena que o presidente
brasileiro resolva produzir cenário lamentável como esse nutrido pela real
necessidade da modernidade funcional das urnas brasileiras, que jamais teria
atingido o auge do noticiário, nas proporções verificadas, se ele tivesse o
mínimo de consciência de que todos os atos da administração pública precisam
ser praticados sob a rigorosa observância dos salutares princípios da
seriedade, da competência, da serenidade, da eficiência e da responsabilidade,
diante da necessidade da justificativa plausível sobre a existência da real
materialidade sobre os fatos em discussão, em que o mandatário deva se preocupar,
sobretudo, em respeitar a dignidade dos brasileiros, inclusive das autoridades
públicas, que jamais deveriam ser importunados senão com questões que realmente
careçam de solução, como forma precisa de satisfação do interesse da sociedade,
com embargo das encenações de pirotecnia como aquelas havidas nesse caso das
urnas, que deve passar para a história como fato extremamente degradante.
Brasília, em 31 de julho
de 2021