O presidente do Supremo Tribunal Federal resolveu preparar discurso
com recados democráticos ao presidente da República, ante os reiterados ataques que este vem fazendo, de maneira
injusta e atrevida às autoridades da República.
O presidente do Supremo
pretende ler o texto no próximo dia 2 de agosto, por ocasião da retomada das
sessões plenárias do tribunal.
Segundo foi apurado, o
presidente do Supremo exporá sobre a importância do respeito aos princípios democráticos
e como cada autoridade institucional deve se pautar no estrito limite da
liturgia apropriada do seu cargo, respeitando, na forma civilizada e evoluída, a
autoridade que representa os demais poderes da República.
O presidente do Supremo
pretende sinalizar a visão do STF sobre a importância da defesa da estabilidade
e da consolidação democrática.
De antemão, já se sabe
que o presidente do Supremo não deve mencionar nominalmente o presidente do
país nem o ministro da Defesa, autoridades que se insurgiram contra a resistência
sobre o voto auditável, sob o argumento de se evitar animosidades, em especial no
seio dos militares.
A atuação do presidente
do Supremo ocorre em momento de crescente tensão entre aquela Corte e o Palácio
do Planalto, em que pesem as sucessivas tentativas de trégua, como a mais recente, em 12 deste mês, quando o presidente do país disse
que ele e o presidente daquela corte estavam “alinhados com a Constituição”, mas somente na falácia, porque o mandatário continuou
atacando, sem trégua e com violência, ministros do tribunal, precisamente em
razão de decisões e posicionamentos que desagradam o governo.
A crise atingiu mais um degrau, depois que o presidente do país ter resolvido atacar,
novamente, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que vem declarando ser
contrário ao voto auditável.
Diante dessa disputa ferrenha
sobre o voto impresso, o magistrado se tornou alvo constante do chefe do Executivo,
por ele ser crítico à proposta dessa medida, defendida pelo Palácio do
Planalto, nas eleições de 2022.
Em uma de muitas manifestações
sobre o voto impresso, o presidente do país questionou: “Por que o
presidente do TSE, na iminência de ver a PEC (proposta de emenda
constitucional) da deputada Bia Kicis (PSL-DF) ser aprovada na comissão
especial, ele vai para dentro do Parlamento, se reúne com várias lideranças partidárias
e, no dia seguinte, muitos desses líderes trocam a posição da comissão por
parlamentares que se comprometeram a votar contra o voto impresso. Qual foi o
poder de persuasão do Barroso? Que poder ele tem?”.
Na realidade, a propósito
disso, o presidente do país falta com a verdade, porque o presidente do TSE foi
ao Congresso Nacional a convite da comissão especial que analisa o voto
impresso, cujos membros retribuíram, depois, a visita do ministro com a sua ida
ao próprio TSE, para contato de natureza técnica.
Não há a menor dúvida
de que o presidente da República é useiro e vezeiro em fazer críticas a
autoridades da República, em especial a ministros do Supremo, com indiscutíveis
indelicadeza e desprezo, no sentido bastante evidente de desconstrução da
amizade e da tolerância que precisam existir no seio da administração pública, no
melhor sentido visando ao estreitamento e à consolidação das relações entre as
autoridades, como forma do aprimoramento natural da convivência pacífica na prestação
dos serviços públicos devidos aos brasileiros, em forma da contraprestação dos pesados
tributos deles arrecadados.
O certo mesmo é que a
índole de civilidade do presidente do país, conforme ele faz questão de assim
se comportar, não se harmoniza com os sentimentos modernos de cidadania e diplomacia,
sendo que isso não condiz com a verdadeira liturgia presidencial, que exige sentimentos
de tolerância, moderação e principalmente de renúncia, quando o que está em jogo
é precisamente o interesse público, que espera somente atos de nobreza das
autoridades da República.
É evidente que faz todo
sentido o presidente do Supremo Tribunal Federal propugnar por apelo inteligente
e civilizado ao bom senso e à razoabilidade, na certeza de que ele tem o mesmo efeito
do grito no deserto, uma vez que o presidente da República o ouvirá e o
compreenderá perfeitamente, mas de nada adiantará, em termos de aproveitamento
para a mudança do relacionamento dele com as autoridades da República, que
seria em forma de aconselhamento ao bom-tom, diante do seu normal temperamento avesso
aos princípios recomendáveis ao tratamento compatível com a evolução
humanitária, a exemplo do seu já consolidado histórico no cargo.
Enfim, é de se louvar a
iniciativa construtiva em apreço, para que fique o registro de que é saudável
que as autoridades da República tenham plena consciência sobre a necessidade do
fiel respeito aos princípios modernos da civilidade e da diplomacia, no relacionamento
entre elas, como forma de fortalecimento em especial do sentimento de humanismo.
Brasília, em 31 de julho
de 2021
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