O presidente da República voltou,
ontem, a fazer ameaças e a lançar suspeitas contra o sistema eleitoral brasileiro, sem
apresentar, como nas vezes anteriores, qualquer evidência.
O presidente disse não acreditar que a proposta de voto impresso seja
aprovada na Câmara dos Deputados e chegou a sugerir que, se o sistema
eletrônico de votação não for substituído, ele pode desistir de concorrer à
reeleição, em 2022.
O presidente do país disse que "Eu entrego a faixa para qualquer
um, se eu disputar a eleição. Se eu disputar, eu entrego a faixa para qualquer
um, mas uma eleição limpa. Agora, participar de uma eleição com essa urna
eletrônica... Alguns falam: 'Ah, o Bolsonaro foi reeleito tantas vezes com o
voto eletrônico...'. Vê o pessoal de banco aí, do sistema bancário. Se usassem
a mesma tecnologia dos anos 2000, 1990, não teria segurança nenhuma".
A declaração do presidente, em frente ao Palácio da Alvorada, ainda se
referiu, mais uma vez, à palavra “fraude” em relação ao processo de
votação, sem também se dignar a apresentar provas acerca das suas acusações.
O presidente ressaltou, enfatizando em tom de ironia, que as urnas
eletrônicas serão auditadas dentro do Tribunal Superior Eleitoral, de “forma
secreta”’ e, segundo o seu entendimento, os responsáveis por auditar os
votos das urnas serão as mesmas pessoas “que liberaram o Lula e o
tornaram elegível”.
Desde que os desgastes
se aprofundaram e ele passou a atacar o sistema de votação que vigora desde os
anos 1990 sem qualquer evidência de fraude, o presidente tem alimentado a narrativa
de que apenas a impressão do voto tornará o processo seguro.
Ao retornar ao Palácio da Alvorada, uma apoiadora perguntou se o
presidente estava desanimado, no que ele respondeu que, na verdade, está "sem
paciência", o que é pura verdade, porque o espírito irritadiço dele é
evidente, por ele se mostrar bastante intolerante em público, fato este que não
é bom para o estadista, que precisa de muita concentração e paciência para
decidir sobre os assuntos de alta relevância nacional.
A afirmação do presidente
do país sobre a existência de fraude no processo de votação brasileiro contraria
o que diz o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que garante, também sem
apresentar comprovação alguma, que todas as fases da votação são auditáveis,
além de ser permitido o acompanhamento dos integrantes dos partidos políticos,
no processo de votação.
Ou seja, a votação pode
ser passível de auditagem, mas isso não significa, em absoluto, que o processo
é imune de fraude, exatamente porque não há conexão entre um caso e outro, considerando
que a fraude pode ocorrer normalmente e a sua detecção somente se verifica se
houver auditoria, podendo haver irregularidade e nunca ser descoberta se não
ocorrer auditoria, fato que leva a se acreditar que a afirmação da autoridade eleitoral
é mais do que pueril e totalmente descartável, em termos da garantia de segurança
sobre as urnas eletrônicas.
À toda evidência, as declarações
do presidente do país demonstram o extremo da incompetência diante de problema
que pode perfeitamente ser solucionado, se ele tivesse o mínimo de tirocínio
político e administrativo com algum resquício de capacidade para conduzir o
processo no foro do diálogo, da concórdia e da harmonia.
Convém que as partes
interessadas estejam realmente de acordo para abrir a caixa-preta das urnas
eletrônicas e, em clima da mais pura honestidade, como assim devem se resolver
as questões que envolvem o interesse público, em que de um lado do presidente
tenha a devida competência para apontar o que realmente há passível de fraude no
processo eleitoral, pelos seguintes motivos...(mostrar quais são as fraudes),
de modo que, em razão disso, urge a necessidade da aprovação da impressão do
voto.
Agora, por seu turno, compete
ao Tribunal Superior Eleitoral contestar ou não a acusação do presidente do
país, de modo a mostrar, se for o caso, com base em indicação técnica, que a
sistemática operacional das urnas tem como se evitar totalmente qualquer
tentativa de fraude, porque os instrumentos que devem ser manipulados ali, na prática, são capazes de
abortar qualquer acesso estranho à máquina, que, por exemplo, ela paralisa automaticamente
de funcionar, sendo preciso a sua imediata substituição, se ela estiver sendo
operada.
O ideal é que, na
presença de ambos os interessados, seja forjado processo eleitoral como se
verdadeiro fosse, com, por exemplo, dez máquinas, em simulação de eleição normal,
a realizar-se naquele exato momento, onde seria feita a programação normal com
as máquinas preparadas e em seguida formuladas possíveis situações de fraudes
para se mostrar o comportamento operacional delas.
Agora, é conveniente e
importante que, nesse processo demonstrativo, tenha presente equipe de mestres
em ciência da computação, pelo menos dez ou a quantidade razoável, que vão
colher, no ato, todos os elementos mostrados na exposição e todos, de maneira
individual, vão se manifestar acerca da credibilidade do funcionamento das urnas
eletrônicas, na forma apresentada pelos técnicos do TSE, por meio de relatório
técnico, dizendo, o mais rapidamente possível, a sua opinião quanto à real
segurança ou não das urnas eletrônicas.
Não obstante, fica
muito evidente que a maneira como o assunto vem sendo discutido, sem a menor
tecnicidade a se atingir os pontos nevrálgicos do problema, a ideia que se tem
é que dois bêbados estão no meio de disputas em que ninguém sabe exatamente sobre
o cerne da questão.
De um lado o presidente
do país, atormentado com a participação do líder petista na disputa presidencial,
alega possível fraude no processo de votação, que certamente há de acontecer,
mas ele, nesse sentido, acusa e atira no escuro, sem ter certeza sobre o rumo
ou a direção para onde disparou e o resultado há de ser o crescimento de fantasmas
aparecendo incessantemente na frente dele, como agora, que nem acaba de sair do
hospital, mas já coloca o pesadelo das urnas em discussão.
Enquanto isso, não tem o
mínimo cabimento o presidente o TSE somente afirmar que as urnas eletrônicas são
seguras e que elas podem ser, pasmem, também acompanhadas por representantes de
partidos, que não têm condições nenhum e muito menos competência para enxergarem
coisíssima alguma sobre possíveis fraudes, quanto mais detectá-las nas urnas, que
são verdadeiras caixa-preta, fato este que não passa de santa ingenuidade, como
se acreditar que os brasileiros sejam um bando de abobados, para acreditarem em
afirmações absolutamente infundadas e medíocres, sob o ponto de vista da
racionalidade.
Urge que as partes
interessadas sentem à mesa e procurem manter conversação de alto nível, de modo
a serem prescrutadas as questões relacionadas com as urnas eletrônicas, com
vistas à identificação de possível fraude, de modo que a dissecação responsável
e competente do tema possa resultar em medidas práticas e efetivas capazes de contribuir
para a solução do problema que aflige terrivelmente o presidente da República,
que demonstra, agora, que não vai se conformar com nenhuma forma de derrota,
porque somente o deus das urnas pode adivinhar o que se passa na cabeça de quem
se diz que está “sem paciência”.
Brasília, em 20 de julho
de 2021
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