O presidente da República afirmou que é do Centrão, após
ter sido questionado sobre o convite feito a um senador, importante líder desse
grupo político, para assumir a Casa Civil, que é uma das principais pastas do governo.
Com o sorriso no rosto,
o presidente do país declarou que, verbis: "Eu sou do Centrão.
Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL. No passado,
integrei siglas que foram extintas, como PRB, PTB. O PP, lá atrás, foi extinto,
depois renasceu novamente".
O presidente do pais,
em tentativa de justificar a sua afirmação acima, disse que "Nós temos
513 parlamentares. O tal Centrão, que chamam pejorativamente disso, são alguns
partidos que lá atrás se uniram na campanha do Alckmin (PSDB). E ficou, então,
rotulado Centrão como algo pejorativo, algo danoso à nação. Não tem nada a ver,
eu nasci de lá".
O Centrão é um grupo
informal, formado por diversas legendas, e já integrou, por exemplo, todos os governos,
com maior destaque a contar de 2003 e, agora, toma conta, triunfante, também do
governo chamado das “mudanças”, que certamente não conseguiu resistir ao charme
de quem tem condições e poder para blindar o presidente, que se encontra na
iminência de sofrer processo de impeachment, por crime de responsabilidade.
A introdução desse
grupo no governo materializa desmoralizante troca de cargos públicos e emendas
parlamentares por apoio no Congresso Nacional, tal e qual operação que faziam
os igualmente desavergonhados governos do passado, que, pelo menos, tinham a dignidade
de nunca reclamarem da falta de honestidade dos integrantes do Centrão, que o
aceitavam exatamente como eles eram, sem o mínimo de escrúpulos, diferentemente
do atual presidente, que os chamava de desonestos, mas, por interesse político,
com a frouxidão de temer ser afastado do poder, foi obrigado a se humilhar e
cair de joelhos aos pés logo dele.
Em 2018, o general que
chefia o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República fez paródia
do samba intitulado Reunião de bacana, tendo insinuado que os
integrantes do Centrão são ladrões.
A propósito, o samba
original diz que "Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão.",
tendo o general o parodiado com o seguinte texto: "Se gritar pega
Centrão, não fica um, meu irmão.".
Não obstante, diante
dos circunstanciais interesses político e governamental, que exige o providencial
socorro do Centrão, o general, em maio recente, disse que “Sobre o Centrão,
aquela brincadeira que eu fiz, foi numa convenção do PSL na época da campanha
eleitoral. Naquela época, existia à disposição na mídia várias críticas ao
Centrão. Não quer dizer que hoje exista Centrão, isso foi muito modificado ao
longo do tempo".
Ou seja, na verdade, o
Centrão somente se passava como grupo de ladrões quando o momento exigia que
ele fosse tratado exatamente com essa pecha, justamente para mostrar que o candidato
estava em nível de pureza moral e que o seu distanciamento dele fazia parte apenas
de fajuta estratégia político-eleitoral, mas, agora, que o presidente não se
sustenta nas próprias pernas, necessitando de apoio das forças dos ladrões de
outrora, mas que são representados pelos mesmos parlamentares da atualidade, estes
passam a ser as figuras mais “honestas” do planeta, fato este que tem o condão
de somente mostrar o nível desbotado da qualidade moral de homens públicos, não
importando se eles vestem farda ou não, porque a sua índole termina sendo a
mesma, em especial quando os interesses pessoais estão em jogo e, enfim, eles prevalecem
sobre as causas nacionais.
Outro general da reserva,
que comanda a Casa Civil a ser comandada pelo privilegiado líder do Centrão, afirmou,
na quarta-feira, que não tinha ideia de que “seria demitido da Casa Civil”,
embora dois dias antes ele estivesse com o presidente do país, que não lhe
falou nada sobre a sua exoneração do cargo, tendo afirmado que isso o deixou
"em choque".
O mencionado general
disse que "Eu não sabia. Estou em choque. Fui atropelado por um trem,
mas passo bem”, fato este que só demonstra o tamanho do desespero do
presidente do país, que não tem o mínimo de consideração nem respeito às pessoas
mais próximas da sua relação de trabalho, em se tratando que a Casa Civil é
órgão da maior relevância no contexto da Presidência da República, por cuidar
dos principais assuntos político-administrativos do Palácio do Planalto e do
governo.
Não obstante, aquele
órgão será entregue, pasmem, a um político desconhecido e ainda influente integrante
do famigerado Centrão, o que bem demonstra o grau da decadência moral pela qual
o chefe do Executivo brasileiro está sendo colocado perante a nação, que aceita
se juntar, com intenso prazer, ao que de pior existe em termos da prática
política brasileira, ao invés de se sujeitar a responder por possíveis crimes
de responsabilidade praticados no seu governo e enfrentar ao devido julgamento,
de peito aberto e cara limpa, como fazem normalmente os verdadeiros estadistas,
que têm a grandeza moral de assumir seus atos na vida pública e responderem por
eles.
Sim,
é verdade, o presidente do país sempre foi do Centrão, porque, como ele disse,
sempre se elegeu por partidos integrantes e militantes desse indesejável grupo
político, embora ele tivesse a ousadia de dizer, na campanha eleitoral, que
desprezava a velha política, composta por parlamentares que só pensavam em
levar vantagem em tudo e que ele os descartava no seu governo, caso fosse
eleito.
A maior decepção
agora é ficar sabendo que o homem público que se promovia como sendo da nova
política, que considerava os componentes do Centrão de bandidos, ladrões e outras
desqualificações morais, agora acaba de oficializar a sua integração à bandidagem
assim entendido por ele, ao liberar o Centrão para comandar o Brasil, não havendo,
diante dessa tragédia moral, motociatas nem outras formas de movimento em
protesto por parte dos idólatras e veementes apoiadores da mitocracia, o que é da
maior gravidade e causa estranheza, considerando que a imagem venerada do líder
maior foi literalmente jogada na lama, pelo menos sob o prisma dos brasileiros
que têm dignidade e defendem, de forma intransigente, a prevalência dos
princípios da ética e da moralidade na administração pública.
O
certo é que, quando o presidente foi buscar votos, na campanha eleitoral, a conversa
não tinha essa vaselinagem de “Não tinha nada a ver”, porque o Centrão
era chamado mesmo de grupo de picaretas e aproveitadores, sem meio termo, mas
agora a vergonha vai literalmente para o espaço sideral, sob a tentativa de
amaciamento da verdade, que não vai demorar a mudar de ideia novamente, para chamá-los
de anjinhos da política, quando lá atrás eles eram considerados demônios, mesmo.
Para
quem desconhece a péssima fama do Centrão, basta apenas dizer que, na campanha
eleitoral, para conquistar votos dos eleitores conservadores, o atual presidente
dizia que o Centrão era a velha política, em razão de seus integrantes serem
conhecidos como os eternos aproveitadores do dinheiro público, em troca de
apoio político no Congresso, como verdadeiros fisiologistas de carteirinha, na
forma de sanguessugas de todos os governos, cuja habilidade acaba de ser introduzida por completo no governo do homem mais “honesto” da República, pelo
menos deve ser o que ele e seus fiéis apoiadores acham, ao afirmarem que não há
corrupção no governo.
Depois
disso tudo, não se sabe se, a partir de agora, a pureza dessa ideia ainda vai
continuar a ser defendida, com a turma do Centrão aboletada em definitivo no
Palácio do Planalto, a comandar a principal pasta próxima do presidente, tendo
poderes para a liberação de importantes ações em benefício de seus aliados,
principalmente no que se refere a cargos públicos e emendas parlamentares, bem
ao sabor da mentalidade institucional dos parlamentares amantes da “velha política”,
que, certa feita, na campanha eleitoral, ela provocava mortal alergia ao chefe
do governo, que agora sente-se orgulhoso de ser integrante do bando.
O
presidente do país, ao levar o Centrão para comandar o país, que, na prática
vai acontecer exatamente isso, ele diz à nação, em caráter firme, definitivo e publicamente
que “Eu sou do Centrão”, que, neste aspecto, é clara declaração de
honestidade por parte dele, embora isso tenha sido declarado tardiamente, posto
que poderia ter sido dito ainda na campanha eleitoral, deixando cristalina,
agora, a sua verdadeira personalidade política, que não teria permitido iludir
e enganar muitos eleitores, dizendo que aquele grupo fazia parte da velha
política, que só sabia defender seus interesses, em detrimento das causas
nacionais, com o que teria evitado se passar agora, por momento de vexame, ao
assumir a verdadeira face dos mesmos integrantes que antes mereciam a severa
crítica de parlamentares indignos.
Enfim,
todo povo tem o governo que merece e é exatamente assim que diz o velho adágio
popular, que pode muito bem ser entendido, no presente momento da vida pública
brasileira.
Não
obstante, é muito cristalino o entendimento segundo o qual o Brasil não merece
o governo com as qualificações de moralidade de quem se submete, sem o menor
escrúpulo nem sentimento do ridículo, a delegar poderes para a liderança de
grupo político de questionável moralidade puder comandar literalmente o governo,
os reais interesses da nação, como acaba de ser decidido, sem se levar em avaliação
a relevância das políticas que dizem respeito às prioritárias nacionais, quando
fica patente a urgência na satisfação de interesse particular do presidente do
país, em se proteger de possível processo de seu afastamento do cargo.
Brasília,
em 23 de julho de 2021
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