O presidente da República disse
que sua aproximação com os partidos do chamado Centrão – grupo de partidos
sem coloração ideológica clara que adere aos mais diferentes governos – deve-se
à governabilidade.
O presidente do país afirmou que “A minha aproximação ao partidos de
centro é pela governabilidade. Sou obrigado a fazer isso aí. Como disse lá
atrás, se alguém tem alguma bronca contra qualquer parlamentar, não esqueçam
que vocês colocaram aqui dentro”.
O chefe do Executivo confirmou que fará o convite ao senador do Centrão,
para chefiar a Casa Civil de seu governo, porquanto a Medida Provisória que
reorganiza os ministérios já foi concluída.
Seria bem melhor, por questão de sinceridade, justiça e de plena harmonia
com a realidade, que convém necessariamente a todo homem público, se o presidente
do país dissesse à nação o verdadeiro motivo do significado de “governabilidade”,
que, no caso específico, não tem nada a ver com o sentido literal do que ele
quis insinuar que depende do apoio e da coligação com o famigerado Centrão para
governar o Brasil, uma vez que o ato em si objetivado não é absolutamente nada do
que ele disse para os brasileiros.
Neste caso, o presidente poderia aproveitar a oportunidade para mostrar o
mínimo de sinceridade, em respeito aos brasileiros, que não suportam mais o
tanto de mentiras protagonizadas por governos anteriores ao seu, e dizer, com
todas as letras e em bom português, a verdadeira razão pela qual ele decidiu
por tão drástica esculhambação da gestão pública, já que ele, inevitavelmente,
se encontra completamente enxovalhado pelo lamaçal pútrido que ele cuidou de levar
para inundar o seio do seu governo.
Os brasileiros teriam ficado bem informados que o presidente tivesse a
hombridade de dizer o que realmente significa “governabilidade” para ele, no
presente momento, que nada mais é do que contar com o apoio do questionável
Centrão, por meio de aliança cristalinamente espúria, recriminável e indecente,
para os padrões normais de moralidade, no sentido exclusivamente de evitar a abertura
de processo de impeachment dele, na Câmara dos Deputados, diante de mais de
cento e vinte pedidos formulados nesse sentido, em decorrência de suspeitas da
prática de atos administrativos considerados irregulares, pelos autores dos
recursos, que podem ensejam à caracterização de crime de responsabilidade e
consequente afastamento do cargo.
Agora, o que o presidente do país chama de possibilitar “governabilidade”
tem a ver com a desavergonhada entrega da chave do governo para uma das
principais lideranças de partido que integra o Centrão, que poderá usá-la ao
seu bel-prazer para satisfazer o seu instinto de malversador de recursos públicos.
Além disso, o governo escancara as suas portas para o mar de nomeações de
cargos públicos, porque certamente o futuro chefe da Casa Civil terá a faca e o
queijo, no entendimento popular, para promover as manobras mais absurdas que
ele entender, no sentido de satisfazer aos desejos próprios da índole institucional
do Centrão.
Como se vê, a aliança imoral, condenável e indecente com o reprovável
Centrão diz respeito exclusivamente à compra ilícita e vergonhosa da consciência
de parlamentares inescrupulosos, com a finalidade de proteger no cargo a pessoa
do presidente da República, com o abusivo uso de recursos públicos, por meio de
cargos públicos e gordas emendas parlamentares, em contrariedade aos princípios
republicanos, que jamais seriam aceitáveis em governo digno e decente, uma vez
que o seu titular teria a grandeza de se defender em caso de suspeita de irregularidade
na sua gestão, sem necessidade de blindagem construída a preço de ouro, às
custas de recursos públicos, em procedimento completamente eivado de irregularidades
que contribuem para denegrir a imagem do seu autor.
À toda evidência, o ato que formaliza o ingresso do Centrão no Palácio
do Planalto caracteriza crime de responsabilidade, diante do uso de dinheiro
público em desvio de finalidade, quando o apoio desse grupo se destina exclusivamente
à defesa pessoal do presidente, sem qualquer conotação com a satisfação do
interesse público, que é a razão essencial da aplicação do dinheiro arrecado
dos sacrificados contribuintes.
Como quem nunca tivesse criticado e classificado os integrantes do
Centrão como algo desprezível, em termos políticos, o presidente do país, como
pretendendo se passar por Pilatos, sem mácula pela existência dos políticos de
péssima fama, tenta transferir para os eleitores a chaga de ter os colocados
nos cargos.
Ou seja, no entendimento do presidente, já que os eleitores escolheram parlamentares
da pior qualidade, tudo bem, porque a culpa não é do mandatário, que vê, por
certo, nada de mais em levá-los para se lambuzarem, em conjunto, no governo brasileiro,
que se torna a cara e a alma da República com o timbre do autêntico fisiologismo
que bem caracteriza a velha política, que fora abominável por quem um dia e
muitos outros, até se eleger, com o rasgamento do verbo contra o Centrão.
Para que não pareça
nada de puro sensacionalismo, no exato momento em que o presidente do país
abraça com muito afeto e carinho os velhos e sebosos amigos do Centrão, convém
que sejam mostradas as suas fajutas argumentações, na campanha eleitoral de
2018, sobre esse questionável grupo político, notadamente com viés pejorativo,
nada aconselhável à aliança para compor governo com o mínimo de seriedade,
moralidade e dignidade.
Em discurso emblemático,
o primeiro como candidato à Presidência, em julho de 2018, na convenção do PSL,
o presidente minimizou a importância de alianças formais e atacou os
concorrentes que costuravam acordos, tendo chamado o Centrão de “escória”,
quando ele decidiu aderir à candidatura do PSDB.
O então candidato
disse, verbis: “Para fazer esse time campeão, o seu chefe não pode
estar devendo nada para partido político nenhum. O Brasil não precisa de
marqueteiro, centrões, demagogos e populistas. O Brasil só quer uma coisa: a
verdade”.
Ele declarou, naquele
mesmo dia, que “de um lado está a esquerda e, de outro, o Centrão” e que
agradeceria ao candidato do PDSB “por ter juntado a nata do que há de pior
no Brasil ao seu lado” se referindo, evidentemente, ao Centrão.
No mesmo dia do
referido discurso, o general atual chefe do Gabinete de Segurança Institucional
classificou o Centrão como “a materialização da impunidade”, tendo feito
paródia de famoso samba, com a insinuação de que os integrantes desse bloco são
ladrões, ao afirmar: “Se gritar pega
Centrão, não fica um, meu irmão”, mas, já agora, o mencionado militar classificou
de “brincadeira” as referidas declarações, tendo afirmado, com a cara
mais lisa e desavergonhada, que “o bloco não existe mais.”.
Em
setembro de 2018, o então candidato rechaçou a possibilidade de se aliar ao Centrão,
se eleito, quando também refutou qualquer chance de aceitar indicações
políticas para ministérios, a fim de construir uma base aliada, tendo afirmado,
ipsis litteris: ”Não, não vai existir isso aí. Não será esse o
critério, será a competência.”, dando a entender que o grupo também era
incompetente.
Em 16 de agosto de 2018,
o candidato mencionava a diferença no tempo de TV e rádio destinado a cada
coligação, tendo declarado: “De um lado o Centrão, com essa gente que você
muito conhece. De outro, a esquerda, que teima em voltar ao poder. Juntos, têm
todo o tempo de televisão e de rádio, bem como quase 1,7 bilhão de reais para
investir em campanha”.
Em outra gravação, ele
afirmava que, nos anos anteriores, “o presidente indicava seus ministros de
acordo com interesses político-partidários. Tem tudo para não dar certo. Qual é
a nossa proposta? Indicar as pessoas certas para os ministérios certos. Por
isso não integramos o Centrão, tampouco estamos na esquerda de sempre”.
Na verdade, as
incoerências do presidente, com relação à nomeação de ministros
independentemente de indicações políticas não foram as únicas promessas
descumpridas por ele, porque, agora, anuncia-se também a recriação do
Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência.
O candidato garantia, no
início de outubro de 2018, que montaria, em três semanas “um ministério
enxuto, com no máximo 15 ministros, que possa representar os interesses da
população, não de partidos”, mas, com a nova pasta, o governo terá 24 ministérios,
nove a mais do que o máximo anunciado por ele.
Esses fatos mostram, à
saciedade, que o candidato que prometia mudanças e verdades se encontra, agora,
totalmente emaranhado em teia de indecentes mudanças construídas de muitas mentiras,
que só envergonham e indignificam as suas esperançosas promessas para conquistar
votos, tendo por base o sentimento de homem público que se dizia capaz de passar
a limpo o Brasil, tão calejado de compromissos de candidatos mentirosos e desavergonhados.
Na verdade, agora se
sabe que tudo não passou de gigantesco engodo, com a montagem de programa de governo que é colocado
por terra, como acaba de ser demonstrado pelo atual presidente, que consegue materializar
verdadeiro estelionato eleitoral, quando disse que jamais comeria no mesmo coxo
com os integrantes do Centrão, mas agora é o faz e prazerosamente, por sentir-se
privilegiado ao se proclamar que sempre pertenceu a esse execrável grupo
político, fato este que só patenteia a sua completa decadência moral e política,
de indecência pela notória falta de palavras, por declarar perante a nação que
tudo o que ele disse sobre a “verdade” do Centrão era pura mentira, por serem
palavras pronunciadas da boca para fora, sem nenhum sentimento de seriedade, honestidade
e respeito aos eleitores.
Diante do exposto, resta
a segura ilação do quanto a ideologia política, com viés de direita e esquerda,
pode contribuir para o desacerto e a desconstrução do desenvolvimento do
Brasil, diante da defesa que se fazem, em nome dela, por seus fãs de homens
públicos que, mesmo não se enquadrando nos parâmetros exigidos para o exercício
de cargos públicos eletivos, diante da necessidade do preenchimento dos
requisitos de moralidade, coerência com a verdade e retilineidade de respeito
aos eleitores, quanto às promessas de campanha, ainda assim eles são considerados
dignos de representar os interesses do povo.
Esse fato só demonstra
o verdadeiro caráter - ou a falta dele - desses seguidores, que não conseguem enxergar
defeito algum em quem carrega sobre seus ombros o peso da deplorável deformidade
inata, que é inconciliável com os saudáveis princípios da moralidade, da dignidade
e, sobretudo, da verdade, tão imprescindível nas atividades político-administrativas.
Diante do exposto, fica muito claro que a definição de “governabilidade”
pelo presidente da República, para colocar o Centrão no comando do Brasil, é facilmente
interpretada como ato vergonhoso e
indigno com o indevido uso de recursos públicos, ante o desvio de finalidade
pública, caracterizando crime de responsabilidade, que precisa ser devidamente
apurado, para o fim de aplicação das sanções cabíveis, na forma prevista na
Constituição Federal.
Brasília, em 25 de julho
de 2021
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